Presidente sabe que, se perder os dois, seu governo, que já está em crise, perderia apoio do mercado, do agronegócio

Há mais uma prova de que a saída de Sergio Fernando Moro do Ministério da Justiça “enfraqueceu” o presidente Jair Bolsonaro. Na segunda-feira, 27, com uma face mais humilde — sem a história de que decide tudo e que é a Constituição —, Bolsonaro deu entrevista com a presença dos ministros “caíveis”, Paulo Guedes, da Economia, e Tereza Cristina, da Agricultura, e mais o “neutro” Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura.

Na entrevista, Bolsonaro frisou que quem decide na Economia é Paulo Guedes, que, de quase caído, voltou a ser o Posto Ipiranga. Poucos dias antes, o governo, via o general Braga Netto, havia apresentado um programa desenvolvimentista para tentar arrancar o país da crise e, Guedes, agora como Posto Treco-Treco, não havia sido consultado. Como liberal, o ministro não quer aumentar o gasto público, para, na sua opinião, não aprofundar a crise. Mas não há outra saída: ou o governo gasta, pondo money na economia, ou país afunda. A iniciativa privada, que precisa ter lucro e rápido, não vai investir se não perceber que o governo de Bolsonaro quer mesmo “salvar” a economia. E não há outra maneira de “salvá-la” sem aumentar o gasto público. Mas gastar de maneira errática também não é o caminho correto e nisto Guedes tem razão. O que ele quer é evitar é que Bolsonaro se torne a Dilma Rousseff da diretia.

Tereza Cristina, que também estaria caindo, foi revalorizada. A ministra da Agricultura, sempre aberta ao diálogo com a sociedade, não estava agradando a ala bolsonarista. Mas o presidente recuou e decidiu mantê-la na equipe.

Aconselhado pelos militares e por alguns políticos, Bolsonaro entendeu que, se perdesse Tereza Cristina — nome forte no meio ruralista, no agronegócio — e Paulo Guedes, que tem apoio do mercado interno e externo, seu governo perderia substância.