Ronaldo Dimas garante que não recua, vai disputar o governo e diz que gestão de Carlesse é ruim
25 julho 2021 às 00h01
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O ex-prefeito de Araguaína espera que os senadores Irajá Abreu e Eduardo Gomes, em retribuição ao apoio de 2018, o banquem para governador em 2022
O ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (Podemos), de 60 anos, é um político respeitado. Tanto pela competência quanto pela decência. Engenheiro civil, nascido em Frutal, Minas Gerais, radicou-se no Tocantins em 1984 — há 37 anos. Pode-se dizer que é um “tomineiro”. Trata-se de um caso de amor à primeira vista — tanto que decidiu ser político com o objetivo primeiro de transformar Araguaína (uma das cidades-chaves da região) numa referência administrativa para o Estado e, agora, pretende ser governador, com a intenção de melhorar a qualidade de vida de todos, não de grupos de interesse.
Na sexta-feira, 23, Ronaldo Dimas conversou com o Jornal Opção, por telefone (o WhatsApp não estava bom, então usou uma linha de celular convencional).
O sr. é mesmo candidato a governador?
“Estou na fase da pré-campanha, caminhando por todo o Estado e ouvindo as pessoas. Pelos contatos, percebo que meu histórico político, administrativo e empresarial é bem conhecido pelos tocantinenses de todos as cidades. Fui deputado federal, prefeito de Araguaína por duas vezes, presidente da Federação das Indústrias do Tocantins, secretário de Estado e presidente do Sinduscon.”
Comenta-se que pode ser vice do senador Eduardo Gomes (MDB). Procede?
“Fui candidato a vice-governador na chapa da maior personalidade política do Tocantins, Siqueira Campos, hoje com 92 anos. Nós perdemos para Marcelo Miranda (MDB). Minha cota, em termos de vice, está esgotada. Portanto, estou trabalhando, de maneira enfática, para ser candidato a governador. Reafirmo que não abro mão para ninguém. O Estado precisa de uma gestão real, não de conversa fiada. O trabalho que fiz em Araguaína é um espelho do que pretendo fazer para modernizar o Tocantins e suas estruturas. A cidade se transformou em oito anos e, eleito governador, trabalharei quatro anos, todos os dias, para transformar o Estado. Sou um gestor que busca resultados, e resultados que beneficiem a todos, quer dizer, que geram desenvolvimento global. O Estado precisa ser organizado para ser colocado a serviço dos cidadãos, não de grupos.”
O Tocantins está numa boa fase, em termos de crescimento econômico?
“O que se pode sugerir é que a economia vai bem, mas não se tem um governo que corresponda ao processo de crescimento e desenvolvimento do Estado. O momento é propício, porque se vive um boom do agronegócio, o mercado externo está comprando commodities, a China está em franco processo de crescimento. O que falta? Um governo ativo, que tenha visão mais ampla do que está acontecendo no Tocantins, no Brasil e no mundo. O Tocantins não pode ser visto como uma ilha. Falta, digamos assim, um governo conectado à modernidade e, daí, aos interesses reais das pessoas. Acredito que, se eleito governador, terei plenas condições de criar uma gestão moderna para transformar o Tocantins em benefício de todos.”
Sua aliança política é com quais partidos?
“Estou conversando com líderes de vários partidos. Trata-se de uma conversa aberta, republicana. Tenho boas relações com todo mundo, não há portas fechadas. Tenho percebido que os políticos e mesmo as pessoas que não se interessam tanto pela política estão em busca de um projeto diferente para o desenvolvimento do Tocantins.”
O sr. tem conversado com quem especificamente?
“Com vários líderes, como a senadora Kátia Abreu (Progressistas), a deputada federal Professora Dorinha (Democratas), o ex-governador e ex-senador Marcelo Miranda, o ex-deputado federal e ex-prefeito Laurez Moreira, entre vários outros. Tenho dialogado com líderes do Patriota e do Cidadania e com quase todos os deputados federais [o TO tem oito]. Tenho falado com o deputado federal Vicentinho Filho e com o ex-senador Vicentinho Alves, com os quais mantenho boas relações.”
O sr. espera ter o apoio do senador Eduardo Gomes?
“Espero conquistar o apoio dos senadores Eduardo Gomes e Irajá Abreu.”
Fala-se que o senador Eduardo Gomes, embora seja seu amigo e aliado, pretende ser candidato a governador. Ainda assim, o sr. acredita que ele o apoiará?
“Para não me apoiar, Eduardo tem de falar. Mas não vou colocar ninguém na parede, não sou de pressionar amigos e aliados políticos. Como está no meio do mandato, há quem diga: ‘É hora de disputar, porque, se perder, continuará mais quatro anos no Senado’”.
Mas Eduardo Gomes poderá apoiá-lo?
“O que posso dizer é: sobre a posição de Eduardo em relação ao pleito para governador é preciso conversar com ele. O que posso informar é que nós dois temos um histórico político e pessoal em comum. Quando vim para Araguaína, Eduardo [nasceu em Estância, Sergipe] havia acabado de chegar na cidade. Estudou junto com minha ex-mulher e mãe do meu filho Tiago Dimas [deputado federal]. Ele começou como coordenador político de minha campanha para deputado federal e, ao perceber que também poderia ser eleito, disputou mandato na Câmara dos Deputados. Nós dois fomos eleitos. Me apoiou todas as vezes em que fui candidato. Nas duas vezes em que Eduardo disputou mandato de senador, eu ao apoiei. Há pouco tempo, na eleição suplementar para governador, apoiei Mauro Carlesse e Eduardo bancou Vicentinho Alves. Carlesse ganhou. Depois, na eleição pra valer [quatro anos], Vicentinho decidiu disputar mandato, o que não era esperado. Na eleição de 2018, Eduardo foi candidato a senador e eu participei de sua campanha, assim como apoiei Irajá. Nós ajudamos a eleger Carlesse. Tiago Dimas foi o deputado federal mais votado deste pleito — o que mostra a força política do nosso grupo.”
Por ter apoiado Eduardo Gomes e Irajá, o sr. avalia que há um compromisso entre os três políticos?
“Como disse antes, não encosto ninguém na parede. Mas, por ter apoiado os dois senadores, por certo há um compromisso político. Vamos ver se, em 2022, o compromisso vai vigorar.”
O sr. é candidato de qualquer maneira?
“Uma candidatura precisa ser viável. Se não for viável, não vale a pena. Por isso, preciso construir uma candidatura. Estou andando pelas cidades do Estado, ouvindo o que as pessoas pensam e explicando o que penso sobre vários temas, num intercâmbio produtivo. O desejo de mudança — de encontrar um governador que pense de modo estrutural, que seja um apóstolo do desenvolvimento coletivo — existe, e forte. Falta alguém para canalizar este desejo de mudança. Espero ser esta pessoa.
Como avalia o governador e político Mauro Carlesse?
“Infelizmente, é um político que não cumpre compromissos. Ele faz uma gestão sofrível, calcada mais no marketing do que em realizações efetivas. Prometeu investimentos em Araguaína, para citar apenas um exemplo, da ordem de 50 milhões de reais. Mas, no poder, esqueceu-se da cidade. Para não dizer que não fez nada pelo município, ele repassou para 3 milhões de reais para um hospital que custou 10 milhões de reais à cidade.”
O ex-governador Marcelo Miranda voltou a circular pelo Estado e pretende disputar mandato de governador ou senador. Como o sr. avalia?
Trata-se de um líder que tem história no Tocantins. Ele me disse que vai começar a caminhar pelo Estado a partir de agosto. Achei ele bastante animado.
O ex-senador Ataídes Oliveira afirma que será candidato a governador. Portanto, não faz parte de suas alianças.
“De fato, Ataídes trabalha por uma candidatura a governador, e é um direito dele. Porém, talvez possamos fazer parte do mesmo projeto mais adiante. Nossas conversas são positivas, republicanas. Queremos recuperar o Estado do Tocantins para os cidadãos. Hoje, fica-se com a impressão de que alguns grupos ‘privatizaram’ o governo.”
Mauro Carlesse diz que pode não disputar eleição em 2022. Mas aliados insistem que será candidato a deputado federal ou a senador. O que o sr. acha?
“A rigor, não sei qual é o projeto do governador. O que sei, a partir de conversas com políticos, é que as pesquisas não são favoráveis ao governador quando se fala em intenção de voto para senador. Se não estiver bem, renunciar ao mandato, em abril de 2022, pode não ser um bom ‘negócio’. Há quem recomende que dispute mandato de deputado federal para, se eleito, obter imunidade em caso de processos judiciais.”
Como avalia o governo de Mauro Carlesse?
“Não é um governo eficiente e criativo. Não falo isto porque pretendo ser candidato a governador. O que estou dizendo é um consenso em todo o Estado do Tocantins. O verdadeiro político, quando gere um Estado, deve fazê-lo para a sociedade. Há no Brasil quem se esforça para se eleger com o objetivo único e exclusivo de fazer negócios, de se enriquecer. Mas o bom da democracia é que todo governo tem data e hora para acabar.”
O ex-deputado federal Laurez Moreira pretende disputar mandato de deputado federal?
“Tenho conversado bastante com Laurez Moreira, um político de valor, experimentado. Acho improvável que dispute mandato para deputado federal. O mais certo é que participe do pleito de 2022 numa chapa majoritária.”
O vice-governador Wanderlei Barbosa tende a disputar o governo do Estado?
“Não sei. É provável que, se Carlesse renunciar, Wanderlei decida tentar a reeleição. O que se pode dizer dele é que não tem um amplo histórico de realizações.”