Rogério Cruz sofre pressão de vereadores, do Republicanos e de igreja para mudar o secretariado

14 março 2021 às 00h00

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Há uma verdadeira luta, nos bastidores, pelas secretarias de Finanças, Administração, Infraestrutura e Educação
Em conversas com vereadores, o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), diz sempre a mesma coisa: a equipe que está com ele no Paço Municipal foi escolhida pelo MDB do ex-deputado federal Daniel Vilela. Não é a “sua” equipe, e sim a equipe possível — formatada por um acordo político que elegeu Maguito Vilela e Rogério Cruz para, respectivamente, prefeito e vice-prefeito da capital de Goiás.
Rogério Cruz acrescenta, segundo dois vereadores — que estiveram com ele mais de quatro vezes —, que não tem como nomear os indicados pelos vereadores para cargos de primeiro e segundo escalão, porque as vagas estão ocupadas por pessoas ligadas, direta ou indiretamente, ao MDB de Daniel Vilela.

Noutras conversas, Rogério Cruz admite que a equipe emedebista que está na prefeitura é eficiente e tem experiência com gestão pública (“o secretário de Infraestrutura, Luiz Bittencourt, atende seus telefonemas às 5h da manhã e, quando chove, sai às ruas às 6 horas da manhã para verificar o que está acontecendo”, relata um auxiliar). Mas seus aliados criticam, acidamente, ao menos um dos secretários — que não estaria cumprindo as determinações do prefeito à risca. “Rogério é o dono da caneta — a que demite e nomeia. E sua caneta está carregada de tinta. Ele não quer ficar com a imagem de ‘desleal’ e ‘traidor’, mas precisa governar.”
No momento, Rogério Cruz sofre pressões, cada vez mais intensas, de vereadores (fala-se até em fazer oposição mais aguerrida, com comissões especiais de inquérito), da TV Record, da Igreja Universal e do Republicanos. O vereador Santana Gomes precisava de 12 assinaturas para abrir uma comissão parlamentar de inquérito para investigar os contratos de pavimentação asfáltica da cidade. Ele já conseguiu 17 assinaturas. Os “esqueletos”, tudo indica, são da gestão anterior, mas devem explodir na gestão de Rogério Cruz — que, vale acrescentar, terá 450 milhões de reais da Caixa Econômica Federal para recapeamento de ruas.
As pressões visam a substituição dos secretários de Finanças (fala-se num nome nacional, que supostamente seria indicado pelo presidente do Republicanos, Marcos Pereira), Administração, Infraestrutura, Cultura, Comunicação (a Igreja Universal e a Record tendem a bancar o novo secretário e teriam apresentado dois nomes ao prefeito) e Educação (a Universal e a Assembleia de Deus, via João Campos, já têm dois nomes para os cargos). “A Secretaria de Cultura não interessa tanto a quem está ‘pressionando’. Mas quem levar a Educação possivelmente terá a Cultura no mesmo pacote. O fato é que o Republicanos, o ligado à Igreja Universal (não é o caso de João Campos, que é da Assembleia de Deus), quer ocupar cargos estratégicos (como a Educação, Finanças e Administração). Ao mesmo tempo, o prefeito precisa de cargos para negociar com a Câmara Municipal, antes que os vereadores comecem a colocar pedras — gigantes — no meio de seu caminho. Uma CPI está prontinha para “travar” a gestão de Rogério Cruz. E novos coquetéis-molotov estão a caminho.
As relações entre Rogério Cruz e Daniel Vilela são “boas”, os dois se respeitam e se pode falar que há mesmo um relacionamento pessoal entre eles, pois se tornaram amigos. Mas o que está em jogo é a questão política — o prefeito precisa atender seus aliados. “Daniel Vilela precisa entregar alguns anéis — umas quatro secretarias — para não perder os dedos”, recomenda um dos vereadores mais experimentados da Câmara. “Daniel pode até ser a eminência parda da prefeitura, mas tem de entender que o prefeito é Rogério Cruz”, assinala um vereador da base governista. “A estrutura de comunicação, por exemplo, não pode ser ligada ao Grupo Jaime Câmara, sobretudo se o prefeito tem ligações com o pessoal da TV Record”, afirma outro vereador.
O Republicanos vai bancar o deputado estadual e pastor Jefferson Rodrigues, da Igreja Universal, para deputado federal. Para tanto, quer fortalecer sua estrutura em Goiânia, a partir da prefeitura. “Só que, no momento, a máquina pública não é ligada ao Republicanos, e sim ao MDB. Não podemos permitir que a prefeitura seja utilizada para alavancar os projetos do MDB em 2022. Não se pretende romper com o MDB; pelo contrário, a relação será mantida. O que Rogério Cruz precisa, como prefeito, é ter o controle da máquina. Não pode cobrar que um secretário faça uma coisa e não ser obedecido”, afirma um aliado do prefeito. “Para cumprir uma ordem do prefeito o secretário não tem de ligar antes para outra pessoa.”