Perguntar não ofende: PL de Gayer e Wilder faz nota de repúdio contra Vitor Hugo, mas silencia sobre Alcides. Por quê?
18 dezembro 2024 às 16h50
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Uma nota publicada nas redes sociais do PL de Goiás e de Goiânia deixou a direita bolsonarista em polvorosa na noite da última terça-feira, 17. Em tom de indignação, ou melhor dizendo, repúdio (que é do que trata a nota), os presidentes estadual e municipal da legenda – leia-se, senador Wilder Morais e deputado federal Gustavo Gayer, respectivamente – recriminaram com veemência a apontada articulação de um membro partido, Major Vitor Hugo, que estaria, conforme a publicação, estabelecendo “diálogos com seus adversários em âmbito estadual” quanto ao projeto eleitoral de 2026.
A nota estaria se referindo, conforme o próprio Vitor Hugo em um vídeo resposta divulgado em suas redes, a um encontro entre o vice-governador Daniel Vilela e Jair Bolsonaro, encontro esse que teria contado com o aval do próprio ex-presidente. A reunião parece ter provocado o furor na ala Wilder/Gayer do PL – o que não é de se espantar. Enfraquecidos após apostarem todas as fichas no projeto “Fred prefeito” e fracassarem, percebam que o próprio termo “diálogos”, tão necessários para a construção da boa política, ganha tons pejorativos na nota divulgada.
Posto isso, não se pôde deixar de notar a presença aqui e acolá, na caixa de comentários da publicação da nota de repúdio no Instagram, do seguinte comentário: “E o Professor Alcides?”. Pois é, e o Professor Alcides? O questionamento notado na publicação pode, a princípio, soar aleatório, mas não é.
O dia é 12 de dezembro de 2024, uma quinta-feira. A Polícia Civil de Goiás deflagra a operação Peneira, com o objetivo de cumprir mandados de prisão e busca e apreensão na casa de suspeitos de praticarem roubo majorado e ameaça com arma de fogo contra um adolescente de 16 anos de Aparecida de Goiânia. A intenção deles, conforme a polícia: apagar vídeos, fotos e conversas armazenados no celular do adolescente para, assim, esconder a “relação íntima entre o adolescente e um parlamentar”.
Descobriu-se, no mesmo dia, que o tal parlamentar era o deputado federal Professor Alcides, membro do PL e ex-candidato à Prefeitura de Aparecida de Goiânia. Os investigados na operação, alvos dos mandados, inclusive, seriam seus funcionários. A história, já problemática, ganhou contornos ainda mais graves diante de uma denúncia feita pela mãe do adolescente à Polícia Civil. Segundo ela, a relação do parlamentar com o filho dela teria começado em 2021, quando o adolescente tinha apenas 13 anos de idade.
Em carta aberta, Alcides se defendeu. Segundo ele, há “uma absurda utilização de acusações que não se sustentam, que não merecem credibilidade, que trazem a inequívoca marca da mentira mais deslavada”. “Deploro a utilização preconceituosa, mesquinha e criminosa de minha pública orientação sexual como arma política. Sou homossexual, não sou bandido. Bandidos são os que se levantam contra mim”, declarou-se.
Ressalta-se: não há, até o presente momento, nenhuma acusação formal das autoridades contra Alcides (consequentemente, inexiste condenação). E é justamente a presunção de inocência ainda pairando sobre o Professor que faz nascer o questionamento: onde estão os representantes do partido dele que, outrora, tanto o defendiam?
Toma-se como exemplo o deputado Gustavo Gayer. Não somente por ser presidente do PL em Goiânia, Gayer foi um grande defensor de Alcides ao longo da campanha eleitoral deste ano. Em um vídeo publicado em julho, o bolsonarista defende o colega deputado fervorosamente contra o que chamou de ataques de adversários, chegando a se referir a Alcides como uma pessoa “bondosa, generosa, calma demais”. “Eu conheço ele. Ele é bonzinho demais”, diz Gayer, no vídeo.
Pouco tempo depois, justo quando recaem suspeitas tão graves e danosas contra o Professor Alcides, seus correligionários, estranhamente, silenciam. Se não para sair em defesa do colega (levando-se em conta a presunção de inocência), mas, quiçá, para repudiar o possível ato cometido por ele, ou mesmo cobrar justiça nas investigações que se desenrolam. Mas não. Nada. O mesmo furor usado na nota contra Vitor Hugo, por conta de uma reunião do vice-governador com o ex-presidente, parece perder força quando o assunto são os espinhos a serem tratados moral e eticamente relacionados a membros do partido.
Reitera-se: e o Professor Alcides? Afinal, perguntar não ofende.