O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pode ser exonerado ou pedir demissão?
13 junho 2021 às 00h00
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Médico empresta credibilidade a Bolsonaro, pois age pra vacinar os brasileiros e mantém relacionamento cordial com governadores e secretários da Saúde dos Estados
Falta apenas um jogador para formar um time de futebol de salão com ministros da Saúde no governo do presidente Jair Bolsonaro. Como se sabe, cada time tem cinco jogadores. Já o escrete federal tem, até o momento, quatro atletas: Luiz Henrique Mandetta, o primeiro a ir para o banco, Nelson Teich (espécie de personagem de Beckett na Medicina — silencioso, discreto), Eduardo Pazuello (um general meio arlequim) e Marcelo Queiroga, o atual titular absoluto. Com mais um jogador, o time entra em campo — completo.
Começa-se a comentar que Marcelo Queiroga está com cara de Mandetta, quer dizer, pode ser exonerado a qualquer momento. Por quê? É preciso verificar se os mictórios do ódio vão começar a metralhá-lo nas redes sociais. A “boca” de Bolsonaro começa a funcionar como uma frigideira — nota reportagem do jornal “Correio Braziliense” de sábado, 12 — “‘O Tal de Queiroga’: ministro sofre processo de fritura desde ida à CPI”.
Chega-se a comentar, em Brasília, que médicos estariam sendo sondados para ocupar o lugar de Queiroga — que alguns maledicentes começam a chamar de “Sairoga”.
Mas por que a ira de Bolsonaro contra Queiroga? O presidente estaria avaliando que, intimidado pela CPI da Covid-Quase 500 mil, o ministro não fez uma defesa intransigente do governo e de suas posições pessoais. Pelo contrário, o médico admitiu que a cloroquina e a ivermectina são ineficazes contra a Covid-19. “Jajá Cloroquina”, como o presidente é conhecido entre cientistas e servidores públicos, discorda.
Na CPI, embora tenha dito que não é censor de Bolsonaro, Queiroga frisou: “As recomendações sanitárias estão postas, cabe a todos aderir a essas recomendações. A primeira atitude minha no Ministério da Saúde foi editar uma portaria para obrigar o uso de máscara”. Mais uma vez, o presidente não apreciou o posicionamento do ministro.
Na quinta-feira, 10, no Palácio do Planalto, Bolsonaro falou num “tal de Queiroga”. “Acabei de conversar com um tal de Queiroga. Não sei se vocês sabem quem é. Nosso ministro da Saúde”, disse.
Aliados de Bolsonaro colocaram panos quentes, mas o presidente realmente está chateado com o ministro “anti-cloroquina”. Vai fritá-lo?
Segundo uma fonte de Brasília, se tivesse uma sumidade para substitui-lo, uma figura que “apagasse” Queiroga, o ministro seria mandado para casa. Como não há, Bolsonaro, que trata seus ministros como se ele fosse general e eles soldados, vai “perdoar” sua “indisciplina”. Quando perguntarem, dirá que está “prestigiado”. “Quando diz isto é o começo do fim”, sugere um político goiano que conhece bem o presidente.
Um político que já conversou com o ministro, deu sua opinião para o Jornal Opção: “Marcelo está sob fogo cruzado. De um lado, os adversários de Bolsonaro o pressionam, e não apenas a partir da CPI, sugerindo que o Ministério da Saúde está ‘lento’ na vacinação [apenas 26% dos brasileiros receberam a primeira dose da vacina]. De outro, as figuras alinhadas com o presidente sustentam que não faz a sua defesa, com a necessária ênfase, quando ele é criticado. A tese de Marcelo é mais ou menos a seguinte: vai defender o presidente, sempre que possível, e vai vacinando as pessoas. Porque, se entrar em choque, para agradar determinados setores da sociedade — cientistas altamente preparados, mas que não conhecem a crueza do realismo da política —, acabará tendo de deixar o governo. Ele acredita que, se ficar no governo, defendendo Bolsonaro, no que é possível, poderá conseguir vacinar o maior número de pessoas o mais rápido possível. Um Osmar Terra, negacionista e adepto da cloroquina, poderia colocar tudo a perder”.
De fato, no Ministério da Saúde, há o consenso de que, enquanto “agrada” Bolsonaro, ao menos em parte, o ministro trabalha para acelerar a vacinação.
Adepto de teorias conspiratórias, espécie de soldado invernal da Guerra Fria, Bolsonaro está de olho grande no “Tal Queiroga”. Há (ou havia) uma espécie de “fritura”, em fogo brando, e o Centrão, como excelente “chef”, surgiu na cozinha do presidente e desligou o fogo. A tese do Centrão é prosaica: Queiroga empresta ao governo Bolsonaro, à revelia do presidente, certa credibilidade, pois está empenhado de fato em vacinar os brasileiros — tanto que mantém relacionamento cordial com os governadores e secretários da Saúde dos Estados e, inclusive, com o presidente do Butantan, Dimas Covas.
Segundo um deputado, “enquanto Bolsonaro pensa na reeleição de 2022, por isso começou os comícios mais cedo, para confrontar Lula da Silva, do PT, Marcelo Queiroga pensa unicamente em salvar vidas. Os membros da CPI da Pandemia não têm noção de suas dificuldades no governo. Mas, como ele é um realista, vai continuar trabalhando no seu desiderato — que é reduzir o número de mortes, até estancar a mortandade. São, insisto, dois propósitos distintos: um pensa em eleição, o outro em salvar vidas”.