Ele era diretor da Adesg em Goiás. Acima de tudo, era um agudo intelectual nacionalista, um defensor do Brasil. Tinha 67 anos

Euler de França Belém

O jornalista e psicólogo Gilberto Marinho, diretor da Associação dos Diplomados na Escola Superior de Guerra (Adesg) em Goiás, morreu na segunda-feira, 20, ao meio-dia. Ele tinha 67 anos. O velório começa às 17 horas, na capela do Cemitério Jardim das Palmeiras. O enterro será realizado na terça-feira, 21, às 11 horas, no mesmo cemitério. Ele havia se tratado de um câncer linfático, no Hemolabor, com a médica Reginara Dias Fernandes, de quem se tornara amigo (ele tinha uma admiração incondicional pela médica, uma profissional que, além de competente, é, como dizia Gilberto Marinho, “profundamente humana”). Há pouco tempo, apareceu um tumor na cabeça. Começou o tratamento no Hospital Anis Rassi e, depois, foi encaminhado para o Hemolabor.

Gilberto Marinho trabalhou na Universidade Federal de Goiás, por onde se aposentou, e assessorou o reitorado da professora-doutora Milca Severino Pereira. No governo de Alcides Rodrigues, assessorou Milca Pereira na Secretaria da Educação. Em seguida, passou a dirigir a Escola Superior de Guerra em Goiás. Ele era respeitado pelos militares (vários deles generais), tanto por suas ideias claras e posicionadas sobre a nação brasileira quanto pela retidão pessoal.

O comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, e Gilberto Marinho

Um depoimento

Eu e Gilberto Marinho — que tinha um irmão chamado Roberto Marinho (o nome do chefão do Grupo Globo) e duas irmãs delegadas, Gisely e Gildecy Marinho (competentes e seriíssimas) — fomos amigos durante anos. Unia-nos tanto o interesse por história do Brasil e universal — sabia muito sobre o país — quanto pelo tema educação (era praticamente um pedagogo sem ter feito o curso de pedagogia). Ele nunca sabia 10% ou 50% de um assunto. Sempre sabia tudo, ou quase tudo. Dissertava horas e horas, com precisão, leveza e inteligência, sobre vários temas.

Gilberto Marinho tinha paixão pelas coisas que fazia e estudava os assuntos a fundo. Ligava-me com frequência para discutir temas relevantes do país e do mundo. Falava de reportagens de jornais e revistas e comentava as insuficiências das análises e fazia comentários sempre relevantes. Quando saía um livro inovador sobre a história do Brasil, ligava ou enviava uma mensagem para discuti-lo. Era um intelectual — dos mais meticulosos — e pensava e escrevia muito bem.

Politicamente, eu e Gilberto Marinho não pensávamos como a esquerda. Ele era liberal e, ao mesmo tempo, nacionalista. Estou mais próximo da socialdemocracia (a esquerda é um desastre — concordávamos). Dávamos-nos muito bem. Internado, pediu para a irmã Gisely Marinho me procurar, pois precisava conversar comigo. Ao visitar o amigo, no Hemalabor, no Setor Aeroporto, percebi que não estava bem. Mas ainda falava e mostrava a verve de sempre (“deu a louca no mundo!”, lastimou. Como discordar do diagnóstico?), sobretudo um interesse profundo pelo Brasil. O braço esquerdo estava semiparalisado. Cumprimentou-me, com alegria, segurando minha mão direita com um aperto delicado. Usava um fraldão e nenhuma roupa. Numa mão, uma bola, usada com o objetivo de retomar seu movimento. Estava num quarto e pouco depois voltou à UTI, e aí morreu.

Por fim, Gilberto Marinho era um homem de bem. Decentíssimo. Um caso raro. Um epitáfio para este grande brasileiro poderia ser este: “Gilberto Marinho — Intelectual que amou o Brasil” (nos últimos anos, reuniu um amplo dossiê sobre a Amazônia, chegou a levar um repórter do Jornal Opção para acompanhar o trabalho do Exército na região e, depois, na Bahia, onde militares faziam obras com preços bem mais baixos do que os das empreiteira). Uma coisa o jornalista crítico, atento às coisas do mundo, jamais perdeu: a ternura. Não perdeu também a capacidade de ser solidário.