Luta de Bolsonaro não é pra superar Lula mas pra não perder o 2º lugar para o centro
30 maio 2021 às 00h00
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O postulante do PT está deixando o presidente para trás. Por isso sua batalha será manter a aliança com o Centrão e impedir ascensão do centro
O presidente Jair Bolsonaro não é uma raposa administrativa, mas é uma raposa política. Por isso, saiu às ruas para conectar-se com seus apoiadores, os entusiasmados e os recalcitrantes. Ele está simplesmente dizendo aos seus eleitores: “Estou vivo. Não me abandonem”.
Mas Bolsonaro sabe que, dado o crescimento de Lula da Silva, do PT — que está “sugando” parte de seu eleitorado, aquele eleitorado volátil que segue o “líder” nas pesquisas —, corre o risco de cair para terceiro lugar nas pesquisas, não exatamente agora, mas adiante.
O centro político não cresce por vários motivos — um deles é que tem pré-candidatos demais, o que atomiza seu eleitorado. A definição de um candidato de centro, com a consequente redução do número de postulantes — Luciano Huck, o novo Faustão, tende a sair do páreo, assim como o ex-ministro Sergio Moro —, pode fortalecê-lo. Uma aliança em torno de João Doria (ou Tasso Jereissati) ou em torno de Eduardo Leite (que pode ter Luiz Henrique Mandetta como vice) pode começar a reconfiguração do quadro político-eleitoral.
Se o centro crescer, se os eleitores perceberem que tem chance de superar Bolsonaro e, até, Lula da Silva, surge a possibilidade de um de seus candidatos se firmar e ir para o segundo turno.
Quem sairia do páreo, cedendo o lugar para o candidato de centro? A partir do quadro atual, a tendência é que Bolsonaro, se confirmado o esvaziamento progressivo — frise-se que seu capital eleitoral ainda é alto —, “abra” espaço para um postulante de centro. Sublinhe-se: tendência.
Bolsonaro afirma que está “noivo” de vários partidos e que, portanto, vai se casar com um deles. Na lista de pretendentes estão: Progressistas, PRTB, PMB, PTB, PL, PSL e Patriota. Só mesmo um Casanova para tantas “parceiras”. Mas o que fará Bolsonaro?
Há quem diga que Bolsonaro esteve praticamente fechado com o Patriota, mas, em seguida, esteve negociando fortemente com o PRTB (mas o vice-presidente e general Hamilton Mourão, que é filiado ao partido, teria sido uma barreira à filiação).
Bolsonaro quer um partido para chamar de seu, para mandar e reformatar o comando dos diretórios estaduais. Mas, com a queda nas pesquisas, a estratégia do presidente terá de mudar, e urgente.
Hoje, ele está mais próximo do partido Progressistas, do senador Ciro Nogueira, seu presidente nacional, e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Ao contrário dos demais partidos “cobiçados”, o PP tem estrutura nacional, tempo de televisão e fundo partidário e fundo eleitoral. Portanto, numa campanha em que vai precisar de musculatura para enfrentar Lula da Silva ou um candidato de centro robustecido, o racional é que Bolsonaro se filie a um partido como o PP ou o PL (de Valdemar Costa Neto, o ex-presidiário).
Daqui pra gente, Bolsonaro terá de se “comportar” (dividindo ainda mais as “estruturas” e “cofres” do governo) para não perder o apoio do Centrão — que é o Partido do Governo (PG). Sua única ideologia é o poder. Se perder o Centrão, que pode começar a se empolgar com Lula da Silva — como esteve em tempos idos — ou algum candidato de centro, como Tasso Jereissati ou Eduardo Leite, Bolsonaro pode chegar em 2022 “sangrando” ou quase “morto”, em termos políticos. Por isso, se se filiar ao Progressistas, este partido terá a obrigação de carregá-lo, “baleado” ou não, para a próxima disputa. O PP tem o hábito de largar o “osso” só quando acaba a “carne”. O governo de Bolsonaro ainda tem muita “carne” (um ano e sete meses pela frente).
Bolsonaro parece um político irracional, mas não é. Ele sabe que o quadro não está definido, que Lula da Silva ainda não está inteiramente consolidado. Mas sua luta, a partir de agora, nem é mais para passar o postulante do PT, e sim para assegurar o segundo lugar para si. O presidente vai tentar “segurar” o centro e, depois, vai se preocupar em se reaproximar do pré-candidato do PT. Nas hostes do líder da direita há uma crença de que a candidatura de Lula da Silva ainda poderá ser barrada, por algum motivo, o que lhe devolveria a primeira colocação; portanto, a expectativa de poder.