Falta-lhe partido político. Assim como estruturas nos Estados. Mas, se lançada, pode atrapalhar os planos da esquerda de Lula e da direita de Bolsonaro

Há quem diga: “Depois de Dilma Rousseff, que fracassou como gestora, será difícil outra mulher disputar a Presidência da República com chance de ser eleita. Por isso, Luiza Trajano deve pensar a respeito”. Trata-se de um preconceito, não exatamente contra a petista, e sim contra as mulheres em geral. Afinal, alguns homens — Jânio Quadros, Fernando Collor e, agora, Jair Bolsonaro — fracassaram como presidentes. Depois de Fernando Collor, quem pensaria que um quase clone, Jair Bolsonaro, seria eleito? Pois foi. Jânio Quadros, Fernando Collor e Bolsonaro são da mesma família política — a dos populistas autoritários, que, paradoxalmente, tratam a democracia como ameaça e não como essência da sociedade aberta.

Dona do Magazine Luiza, uma das potências econômicas do país, Luiza Trajano é uma empresária moderna e inclusiva. Na sua empresa, negros recebem instrução especial, não para se tornarem vendedores — profissão que não deprecia ninguém —, e sim para serem dirigentes. É um avanço. Porque a ideia do mérito parte de uma premissa equivocada. Quem tem as melhores chances na vida são, de fato, os brancos, e os negros, em sua maioria, são pobres. Então, quando chegam para disputar uma vaga de dirigente, não têm o mesmo preparo — mérito — dos concorrentes.

Luiza Trajano: uma opção competente, em termos de gestão, do centro | Foto: Reprodução

Na questão da pandemia, Luiza Trajano tem liderado um movimento para salvar vidas. Seus integrantes já andaram até por outros países em busca de vacinas. Trata-se de uma ação meritória. A empresária faz isto porque tem interesse em ser política? Aí reside uma questão crucial: não parece. Tudo indica que tem alto espírito público — o que mais tem faltado no Brasil nos últimos anos.

Mas Luiza Trajano daria uma candidata a presidente da República consistente? É possível que sim. Mas, num país gigante como o Brasil, em que cada Estado é praticamente um país — com uma diversidade imensa —, não é fácil chegar, de repente, e convencer os eleitores. Bolsonaro convenceu? Ele milita politicamente há 30 anos e seu discurso, de cara, chama a atenção, dado o radicalismo do que (e como o) expressa. A empresária é moderada, fala baixo e, para entender o que diz, é preciso prestar atenção. Ela tem conteúdo. Mas, para ganhar uma eleição, é preciso contar com as estruturas estaduais — o que ela não tem e não dará tempo de montar em cima da hora. Se disputar por um partido como o Novo não terá quase nenhum espaço na televisão e não terá “coronéis” estaduais na sua campanha. Numa chapa do partido Democratas, com Luiz Henrique Mandetta na vice — Luiza e Luiz, Lu & Lu —, suas chances crescem.

O fato é que quem conversa com Luiza Trajano percebe que a empresária não tem entusiasmo com a disputa eleitoral. Não é o seu ramo.

Depois, se eleita, terá problema com o presidencialismo de coalizão. O Congresso, com o centrão no comando, desde sempre, às vezes é um empecilho à boa governança. Luiza Trajano, sem experiência com a questão de que decisões podem demorar meses, porque é preciso discutir tudo com deputados e senadores, certamente, sendo empresária, acostumada a decisões rápidas — para não perder dinheiro —, ficaria incomodada e, até, desconsolada.

Postas as questões, Luiza Trajano poderia, sim, ser a grande revelação da política em 2022. Lançada, poderia desequilibrar o jogo, dando uma chance maior ao centro político de derrotar os candidatos da direita, Jair Bolsonaro, e da esquerda, Lula da Silva.