Caçadores de irregularidades encontram falhas em contratos, enfrenta grita dos acusados e tem o reconhecimento de Ronaldo Caiado e de Marcos Cabral

Nilson Gomes

Especial para o Jornal Opção

A Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás era um mar sem fim de péssimas notícias. Até o fim de 2018, a Codego funcionava como moedora de reputações, com diretores saindo do gabinete diretamente para a cadeia. Por isso, o governador Ronaldo Caiado escolheu alguns de seus auxiliares mais confiáveis e aprovados em outras missões para moralizar a empresa. Seguindo a diretriz do governador, o novo presidente, Marcos Cabral, montou um time de jovens auxiliares, principalmente no setor mais nevrálgico, o de caça às ilegalidades, com o devido recolhimento de provas.

Manoel, Fabiana, Lucas, Marcos Cabral, Mazinho e João Pedro na sala de auditoria da Codego

Para chefiar a Auditoria e o Controle Interno, Cabral pediu à Controladoria-Geral do Estado a disposição do gestor Isismar Nascimento Gomes. E disposição não lhe falta. Antes da Codego, Cabral havia ficado de janeiro a outubro de 2019 na Secretaria de Desenvolvimento Social. E quem levara para tocar o terror em corruptos e vasculhar as sujeiras do mandato anterior? Ele mesmo, o caça-malandros que vê bandidagem de longe porque tem a íris do tamanho do mar.

Isismar é o capitão de um time formado por uma turma na casa dos 20 anos de idade e já com expertise em Ciências Contábeis e Direito: Fabiana Batista Ferreira, João Pedro Maciel Braga, Lucas Seabra Campos e Manoel Barbosa Neto. Meta: fazer ressonância magnética na papelada fruto da herança maldita e impedir na fonte eventuais tentativas de rolo.

Não demorou a surgir boa nova — quer dizer, má, pois tratava-se de bandidagem cometida pela turma que acabou atrás das grades nos estertores do governo anterior. E os achados continuaram. “Pra resumir a história, foram tantas as ilegalidades descobertas que os conselhos fiscal e de administração reprovaram o balanço de 2018”, informa Cabral.

Um (horroroso) exemplo foi o sistema de informática da companhia. Isismar, chamado de Mazinho pelos colegas, é engenheiro e pesquisador na área de tecnologia. Ou seja, não adianta querer ludibriá-lo com o linguajar (terrível) de quem pensa que vai passar a perna nos leigos em sistema de informação. “Procurei o que haviam vendido e… não localizei”, revela Mazinho. Em vão tentam enganar o caça-corrupto.

Ronaldo Caiado, governador: total apoio ao rigor estabelecido na Codego | Foto: Fernanda Santos/Jornal Opção

O sistema meia-boca começou nadando no lodo de R$ 3,5 milhões. Com os penduricalhos, já estava no dobro do valor inicial. Detalhe: tudo pago no mandato passado, antes do cumprimento do malfadado contrato. A auditoria recomendou e Cabral determinou: fim da atuação da firma de informática. O próximo passo será reaver na Justiça os milhões surrupiados.

Uma obra de R$ 10,4 milhões no Distrito Industrial de Anápolis, o Daia, passou pela mesma via-crúcis: contratada e paga pelo governo anterior, seus documentos pousaram na mesa do auditor Lucas Seabra. Sempre impecável do cabelo (com gel) aos pés (com sapatos brilhantes), Seabra mostrou-se mais impecável ainda com os números: deparou-se com uma glosa superior a R$ 4 milhões (glosa é o nome feio de roubo). O rapaz que veio de Minaçu fez valer a viagem.

Fabiana é tão meticulosa que lê cada linha duas vezes, uma delas por cima dos óculos. Em seguida, lê novamente. E repete. E foi assim que livrou a Codego de um superprejuízo quanto à propriedade de um terreno no distrito industrial de Senador Canedo. Como tudo na companhia é superlativo, a área nobre vale alguns milhões de reais. A imensa faixa de terras, dada por perdida no mandato anterior, foi somente a primeira: doutora Fabiana está apreciando todos (t-o-d-o-s) os contratos de cessão, doação, anuência, venda, compra e sabe-se lá mais o que de terrenos da Codego. Quem aprontou com o patrimônio da companhia pode ficar, ao contrário do Lucas, de cabelo em pé: Fabiana está, com e sem os óculos, observando tudo (t-u-d-o). Ai dos amoitadores.

Marcos Cabral, presidente da Codego: zelo pelo dinheiro público | Foto: divulgação

João Pedro, o caçula da equipe (24 anos), demonstra faro de veterano na captura de subtrações ao dinheiro público. Descobriu mutreta em contratos com uma empreiteira, um fornecedor de material, outra construtora… É tanta glosa pega no pulo que João Pedro já pagou seu salário até completar 50 anos.

Manoel Barbosa é o avesso do avesso do avesso de Lucas. A camiseta de malha esconde o peito do contador orgulhoso de sua atividade na Codego. Entrou na onda de Mazinho para perscrutar malfeitos nas prestações de contas. O que os companheiros de auditoria veem de errado, cabe a Manoel identificar nos balanços as artimanhas que os bandidos usaram para camuflar. O coração pode estufar a camisa: as ações dos meninos (e da menina) da auditoria e do controle interno têm feito um bem danado ao erário.

A rapaziada que se prepare para incremento de serviço, para usar um termo vívido em repartições. As mesas simples da auditoria estão atulhadas de contratos. E chegando mais. Cabral e o diretor Carlos César Toledo, o Cacai, mandam tudo para Mazinho e seus comandados. Tudo, até cotação para fazer termo de referência, o termo que antecede os contratos. “É incrível a confiança que esses meninos despertam”, confia Cacai.

Foi assim com a conta de luz. Lucas, que só não economiza no gel capilar, e Mazinho receberam de Cabral a incumbência de… economizar. Além de apagar a lâmpada ao sair e desligar a central de ar, é imprescindível rever o talão da Enel, pois a Codego tem estações de tratamento de água e esgoto pelo Estado inteiro, todas movidas a energia. Por cima e por baixo dos óculos, no estilo Fabiana, as cláusulas foram lidas, relidas e trelidas. Eureca! Mudaram o tipo de contato e conseguiram reduzi-lo em mais de R$ 100 mil por mês.

Treinada por Mazinho, sob acompanhamento diário e próximo de Marcos Cabral, a moçada se tornou uma família. Nos aniversários e no lanche do dia a dia, o quinteto participa unido inclusive financeiramente — menos Lucas, de quem ninguém consegue tirar 1 centavo sequer. No cotidiano, o sentido é colaborativo: a ajuda tem interface que ultrapassa a amizade.

Aliás, não é fácil para auditor a convivência com determinados segmentos, apesar dos benefícios da ótima reputação provocada por suas descobertas. Mazinho sofre implacável perseguição de alguns integrantes da secretaria em que atuou anteriormente. Motivo: amputou diárias, interrogou acusados, fustigou fornecedores, foi atrás de quem desviou. A cara feia de quem perdeu clientes e privilégios não o surpreende: acostumou-se à grita daqueles que não respeitam o Erário e se supunham impunes. “Eles (Mazinho & cia) são respeitados e admirados pelas pessoas de bem”, elogia Marcos Cabral. “Quem fala mal deles é quem fez mal ao Estado”. Cabral repassa-lhes os elogios do governador Ronaldo Caiado e do público. É, a moralização da Codego começa a ser percebida por quem a sustenta, o povo goiano.

Nilson Gomes é jornalista.