O prefeito Iris Rezende promoveu o maior êxodo político do MDB para o PSDB e foi esse êxodo que o derrotou em 1998

Ronaldo Caiado e Iris Rezende: a fotografia diz tudo sobre as novas alianças do prefeito de Goiânia | Foto: Leandro Vieira

Depois de ter sido eleito duas vezes para o governo de Goiás e de ter sido ministro de Estado, Iris Rezende parece ter entendido que havia se tornado uma espécie de deus da política. Não precisava mais de aliados “fortes”, e sim de epígonos, apaniguados. Por trás de sua derrota de 1998, para um jovem de 35 anos — Marconi Perillo —, estava um fato que Iris Rezende e os áulicos não querem lembrar e aceitar. De 1983 a 1994, quando era uma espécie de Zeus da política goiana, Iris Rezende promoveu uma verdadeira caça às bruxas entre seus aliados. Nunca perdoou nenhum deles. Pode-se dizer que ele enfraqueceu o PMDB para reinar solitário — o que acabou levando à sua queda, pois perdeu um “exército” eleitoral de qualidade.

Henrique Santillo, quando governador, não conseguiu apoio de Iris Rezende para resolver os problemas gerados pelo acidente radioativo em Goiânia | Fotos: Jornal Opção

O PSDB foi formado em Goiás por ex-aliados de Iris Rezende, quer dizer, por aqueles políticos que foram decisivos para sua vitória eleitoral em 1982. Mas, uma vez no poder, Iris Rezende foi escanteando todo mundo, conquistando novos aliados — sobretudo aqueles não tinham voz própria — e criando arestas insuperáveis.

Mauro Borges era considerado “grande” demais pelo irismo e por isso foi posto de lado, mas chegou a ser senador | Foto: Reprodução

A primeira aresta, intransponível, foi com o ex-governador Henrique Santillo. Ministro, Iris Rezende nada fez para ajudá-lo. De volta ao poder, em 1991, seus aliados fizeram o possível, e até o impossível, para desgastar a imagem de Santillo, apresentando-o como mau gestor e desconsiderando problemas como o acidente do Césio 137 e o boicote de aliados do presidente José Sarney em Goiás. Iris Rezende nunca pediu desculpas a Santillo — que migrou para o PSDB.

Nion Albernaz não aceitou que a Prefeitura de Goiânia se tornasse uma secretaria do governo na gestão de Iris Rezende e saiu do PMDB| Foto: Jornal Opção

Mauro Borges havia sido governador na década de 1960, tendo sido responsável pela modernização de Goiás. Mas, por ter luz própria, não serviu para caminhar com Iris Rezende.

Nion Albernaz, considerado o melhor prefeito da história de Goiânia, também foi deixado de lado. Motivo: não aceitou que Iris Rezende, por intermédio de um secretário-parente, transformasse a Prefeitura de Goiânia numa secretaria do governo do Estado, então ocupado exatamente por Iris Rezende. Olimpicamente sabotado, sempre pressionado, Nion Albernaz, político que não se vergava ante os poderosos, filiou-se ao PSDB.

Frederico Jayme: político independente, acabou cerceado por Iris Rezende | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

A ex-senadora Lúcia Vânia, ex-mulher de Irapuan Costa Junior, é uma grande política. Pois Iris Rezende nunca quis perceber isto, o que levou Lúcia Vânia a buscar outros partidos políticos — até se filiar ao PSDB.

Lúcia Vânia não tinha espaço no PMDB, porque não era irista | Foto: Renan Accioly

O jovem Marconi Perillo pertencia ao PMDB. Como era aliado de Henrique Santillo, o irismo o vetava e não lhe abria espaço. Tempos mais tarde, ele se tornou o coveiro da carreira política de Iris Rezende em nível estadual. O tucano Marconi transformou Iris Rezende num político municipal, exclusivamente de Goiânia.

Irapuan Costa Junior, ex-governador e ex-senador: não tinha espaço no PMDB de Iris Rezende | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Irapuan Costa Junior, eleito senador pelo PMDB, pagou o preço de ter se tornado aliado de Henrique Santillo. Por isso, e por ter ideias próprias — por não aceitar ser sabujo —, o irismo o perseguiu, excluindo-o. Ele acabou deixando a política.

Marconi Perillo: êxodo provocado por Iri Rezende contribuiu para elegê-lo governador na disputa de 1998 | Foto: Jornal Opção

Quando Iris Rezende estava cassado, Frederico Jayme — ao lado dos Irmãos Coragem, Henrique, Adhemar e Romualdo Santillo, decentíssimos — enfrentou a ditadura, com coragem inaudita, correndo o risco de ser cassado e preso. Na volta à democracia, patrocinou a ascensão de Iris Rezende a governador, para descobrir, logo depois, que o ex-cassado não tolerava políticos independentes, donos de luz própria.

Adhemar Santillo: tinha o “defeito” de ser irmão de Henrique Santillo | Foto: Reprodução/Facebook

O ex-prefeito de Anápolis Adhemar Santillo chegou a ser secretário do governo de Iris Rezende, mas, por ser irmão de Henrique Santillo, logo descobriu que, no fundo, era persona non grata. Ele e o irmão Romualdo Santillo.

Fernando Cunha foi deputado federal e enfrentou a ditadura, mas não servia para o irismo | Foto: Reprodução

Fernando Cunha foi um dos deputados mais atuantes de Goiás durante a ditadura — quando Iris Rezende, cassado, não levantou (não podia) um dedo para criticar os generais. Quase foi cassado, mas jamais aderiu. Do MDB, onde não tinha espaço, migrou para o PSDB.

Iram Saraiva, deputado e senador, fez sucesso na política e era imensa e intensamente articulado. Mas sempre foi barrado por Iris Rezende. Caminharam juntos, por vezes, mas o chefão nunca permitiu que alçasse voos, por exemplo, em direção ao governo do Estado.

Iram Saraiva foi deputado e senador. Mas irismo barrou voos mais altos | Foto: Jornal Opção

A lista inclui vários outros políticos — de igual grandeza — e nenhum deles mereceu o perdão de Iris Rezende. Mas agora, como aliados foram expulsos do MDB — exatamente por infidelidade partidária —, Iris Rezende aparece, magnânimo, e pede que o presidente regional do partido, ex-deputado federal Daniel Vilela, volte atrás e perdoe aqueles que traíram (ao apoiar Ronaldo Caiado, de outro partido) sua candidatura a governador em 2018.

Os prefeitos Adib Elias, de Catalão, Paulo do Vale, de Rio Verde, e Fausto Mariano, de Turvânia, são políticos sérios e merecem respeito. Mas algum deles tem o peso histórico de Mauro Borges, Henrique Santillo, de Irapuan Costa Junior, de Iram Saraiva, de Nion Albernaz, de Frederico Jayme, de Marconi Perillo, de Adhemar Santillo, de Romualdo Santillo, de Juarez Magalhães, de Juarez Bernardes, de João Gonçalves dos Reis, Fernando Cunha e de Lúcia Vânia? Quem tem o mínimo de conhecimento da história de Goiás sabe que, evidentemente, não têm.