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A imprensa e o mercado aderiram ao discurso unidimensional: o candidato a presidente da República apoiado por Jair Bolsonaro, do PL, “será” o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos.

Mas será mesmo? A imprensa e o mercado não estariam confiantes demais ao avaliar um político de conduta imprevisível, como Jair Bolsonaro?

Se está praticamente “definido” — com um suposto vice, o piauiense Ciro Nogueira (o Piauí tem 2,7 milhões de eleitores) —, por que Tarcísio de Freitas vem sendo detonado, de maneira constante, pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro, do PL?

Gilberto Kassab e Tarcísio de Freitas: prioridade é São Paulo | Foto: Divulgação

Recentemente, numa conversa com um deputado, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, sugeriu — mais do que disse — que Tarcísio de Freitas deve ser candidato à reeleição. É seu plano “a”. A Presidência é seu plano “b” — ainda que possa ser o plano “a” de Jair Bolsonaro.

Por que o bolsonarismo não se entusiasma tanto com Tarcísio de Freitas, ainda que talvez tenha de engoli-lo? Porque, apesar da carranca, não pertence à extrema-direita. No máximo, é de direita. Em última instância, é de centro-direita. Trata-se de um político moderado e, como governador, mais interessado em gestão do que em debate ideológico.

Vamos aos bastidores, expostos com o apoio de dois bolsonaristas — um júnior e um sênior.

Ronaldo Caiado: a direita com experiência administrativa | Foto: Reprodução/Youtube

De acordo com os bolsonaristas, por mais que publicamente aposte em Tarcísio de Freitas para presidente, Jair Bolsonaro não vai passar o “bastão” para um político de fora de seu círculo familiar.

Numa conversa, da qual um dos bolsonaristas, o sênior, participou, Jair Bolsonaro admitiu que, de fato, está fora do páreo. Não poderá ser candidato a presidente. Está inelegível e corre o risco de ser preso (a dúvida é se será numa penitenciária ou se será prisão-domiciliar).

Então, por saber que não poderá ser candidato a presidente, Jair Bolsonaro estaria operando de maneira “inteligente”, de acordo com o bolsonarista júnior. Como assim?

Ao expor Tarcísio de Freitas como o mais provável candidato a presidente, Jair Bolsonaro vai “segurando” o processo. Depois, dependendo do quadro, poderá dizer: “Tarcísio não quis ser candidato a presidente. Então, por isso, temos de colocar outro nome”.

Ratinho Júnior: governador do Paraná | Foto: Marcelo Andrade

Mas qual outro nome? Frise-se que, ao contrário da pregação de um grupo de produtores rurais — que cobram a definição “já” de um candidato a presidente da direita —, Jair Bolsonaro não está minimamente preocupado com a questão. Porque está confiado em sua popularidade “incaível”, mesmo com a possibilidade de prisão.

Os bolsonaristas sênior e júnior concordam numa questão: Jair Bolsonaro não vai passar o “bastão” para ninguém de fora de sua família. Porque não confia em ninguém, em termos de disputa presidencial, que não tenha o sobrenome Bolsonaro.

Nem mesmo Tarcísio de Freitas é de sua inteira confiança, até por ter trocado, ao menos em São Paulo, de padrinho. Sua eminência parda na terra de Mário de Andrade é Gilberto Kassab, que operou a formatação da base política para o integrante do Republicanos governar em absoluta “paz”.

Então, se Tarcísio de Freitas poderá acabar fora do processo — desagradando a mídia de São Paulo e parte substancial do mercado —, quem será, de fato, o candidato de Jair Bolsonaro a presidente da República?

Romeu Zema, governador de Minas | Foto: Divulgação de campanha

Há três nomes: Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, Michelle Bolsonaro. A importância dos três como pré-candidatos a presidente não tem a ver com mérito, e sim com o sobrenome Bolsonaro.

Jair Bolsonaro tem dito que Michelle Bolsonaro será candidata a senadora no Distrito Federal. Porque, se sua mulher for eleita e ele não for preso, o gabinete no Senado será seu bunker para atuar na política nacional e, também, contra o Supremo Tribunal Federal, ou melhor, contra alguns ministros, notadamente Alexandre Moraes.

O bolsonarista sênior diz que Jair Bolsonaro avalia o senador Flávio Bolsonaro como “moderado” e, por isso, receia que, se eleito presidente, até concedará anistia para os bolsonaristas, incluindo o pai, mas acabará por não peitar o STF.

Então, resta Eduardo Bolsonaro. O bolsonarista júnior diz que advogados estão examinando a situação do deputado. Se retornar ao Brasil, escapando da prisão e voltando à Câmara dos Deputados, é muito provável que acabe por ser definido como o candidato de Jair Bolsonaro a presidente.

Michelle Bolsonaro foto da Agência Brasil
Michelle Bolsonaro: pré-candidata a senadora no Distrito Federal | Foto: Agência Brasil

Eduardo Bolsonaro, do ponto de vista estritamente partidário e ideológico, é o que mais tem afinidade com o pai. Jair Bolsonaro pode passar o “bastão” de candidato para o parlamentar do PL. (Carlos Bolsonaro tem apreço do ex-presidente, mas não para a política nacional. Mas, claro, pode ser candidato a senador por Santa Catarina.)

Entretanto, dada a escassa — ou nenhuma — experiência administrativa de Eduardo Bolsonaro, há a possibilidade de o deputado não emplacar.

Se definido Eduardo Bolsonaro, abre-se uma avenida para um candidato consistente da direita ou centro-direita — como os governadores Ronaldo Caiado (Goiás), do União Brasil, Romeu Zema (Minas Gerais), do Novo, e Ratinho Júnior (Paraná), do PSD.

Então, se Tarcísio de Freitas fecha, de alguma maneira, o jogo, Eduardo Bolsonaro — ou qualquer outro dos Bolsonaros, todos sem experiência administrativa e visão de Estado — o abre de maneira ampla. O que se disse é o que rola nos bastidores, mas não na imprensa. (E.F.B.)