Goiânia pode eleger um prefeito sem tradição política

28 novembro 2015 às 13h34

COMPARTILHAR

Há um paradoxo, em trânsito, na política de Goiânia: Iris Rezende, do PMDB, é o favorito para a disputa da prefeitura, segundo todas as pesquisas de intenção de voto. Ao mesmo tempo, especialistas — como marqueteiros, pesquisadores e políticos — sugerem que, como não tem conexão com o novo e tem um desgaste político e pessoal fortemente dimensionado, pode, ao final da disputa, ainda que no segundo turno, ser um candidato não tão difícil de ser derrotado, surpreendendo o discurso tradicional dos articulistas de jornais.
Fala-se que Iris Rezende é “velho”. De fato, é, pois faz 82 anos em 22 de dezembro deste ano. Mas seu problema, do ponto de vista dos eleitores modernos, não é a idade — pois, como se sabe, trata-se de um homem saudável e ativo, que faz exercícios físicos quase todos os dias —, e sim de mentalidade. O peemedebista-chefe parou no tempo.
Registra-se aqui um folclore político — e, insistamos, trata-se de folclore político — do tempo em que era prefeito de Goiânia. O jornalista Rodrigo Czepak teria perguntado: “O seu gabinete vai cuidar pessoalmente do Twitter do sr?” Iris Rezende teria respondido: “Não. Coloque-o na Secretaria de Comunicação”. O repórter teria insistido: “Como assim?” Ao que o gestor municipal teria respondido: “Se o funcionário não serve para você, demita-o”. A história é apenas para ilustrar que o ex-prefeito da capital “parou” no tempo. Ele deixou, há muito, de ser contemporâneo dos atuais goianienses. É um homem do passado que vive angustiado no presente. É por isso que os goianos rejeitaram-no três vezes para o governo do Estado.
Mas o “problema” não é Iris Rezende isoladamente — quer dizer, não é sua pessoa. A percepção do eleitorado de Goiânia é aguçada e a tendência é que aposente os políticos tradicionais na eleição de 2016 — até para evitar que “cheguem” às eleições de 2018. Num momento em que alguns políticos profissionais estão sendo presos, figuras carimbadas, mesmo que não envolvidas em escândalos, como é o caso do peemedebista, saem chamuscadas.
O próximo prefeito de Goiânia pode ser um político que não tem tradição política. Os que têm tradição política — como Iris Rezende — tendem a se “afundarem”. Observe-se que a expectativa do eleitorado da capital mudou em relação a Vanderlan Cardoso. Quando aparecia como “oposição”, a expectativa lhe era favorável. Como deixou de ser apocalíptico e passou a ser integrado — buscando espaço na base do governador Marconi Perillo —, o líder do PSB deixou de ser novidade e se tornou, aos olhos dos eleitores, uma figura tradicional. Ressalte-se que as comunicações agora são muito rápidas. De um dia para outro faz-se e destrói-se uma reputação.
O espaço para políticos que não são vistos como políticos — como Jayme Rincón, Giuseppe Vecci, Waldir Delegado Soares e Edward Madureira — está aberto. Há uma rodovia do tamanho da BR-153 aberta para eles.
Giuseppe Vecci (PDB), Jayme Rincón (PSDB) e Edward Madureira (PT) são técnicos, mas com visão política. O terceiro um pouco menos, pois é mais técnico. Os três têm o perfil do político cobiçado pelo eleitorado de Goiânia. Não são populistas, são gestores eficientes e criativos. São modernos e contemporâneos dos atuais goianienses. Eles estão no presente, falam para os homens do presente e sabem criar expectativas para um futuro relativamente objetivo. O trio nada tem a ver com fantasias irrealizáveis.
Luiz Bittencourt, do PTB, pode ser uma surpresa, porque, embora seja um político tradicional, é visto como novidade pelo eleitorado. Seu discurso técnico e sua presença ativa e sem tergiversações — não tem o discurso enviesado de Iris Rezende (cujo “sim” às vezes é “não” e cujo “não” às vezes é “sim” — ou nada) — podem ser trunfos. Ele faz uma mediação interessante entre a política e a tecnocracia e tem tutano para enfrentar figuras coroadas. Outro Luis, o Cesar Bueno, do PT, tem perfil parecido com o de Luiz Bittencourt, mas não tem seu discurso ágil. A petista Adriana Accorsi tem simpatia, mas falta molho no discurso. Sua fala é insossa e demonstra insegurança.