Mauro Carlesse pode apoiar Wanderlei Barbosa para governador, mas, por considerá-lo frágil eleitoralmente, tende a “cristianizá-lo”

Políticos do Tocantins recomendam que o vice-governador Wanderlei Barbosa coloque as barbas de molho. Ao assumir o governo, em 4 de abril de 2022, daqui a dez meses, se tornará candidato natural ao governo do Estado.

Eduardo Gomes: o senador pode disputar o governo do Tocantins | Foto: Reprodução

Mas terá Barbosa o apoio efetivo do governador Mauro Carlesse, do PSL (“troca mais de partido do que de camisa”, dizem seus adversários)? Se disputar mandato de deputado federal — o mais provável — ou de senador, Carlesse vai precisar do governo de Barbosa.

Mas há possibilidade de Carlesse “cristianizar” Barbosa? É possível. Porque políticos não costumam ser leais àqueles aliados que consideram “frágeis” eleitoralmente.

Ocorre que, se assumir o governo, Barbosa será candidato e, “oficialmente”, Carlesse não terá como deixar de apoiá-lo. Como homem do “planalto”, desses que são fortes tão-somente quanto estão no poder, o governador poderá se tornar uma presa fácil quando voltar à planície (frise-se que o governador é uma máquina de produzir “inimigos” em série).

Ronaldo Dimas pode disputar o governo ou o Senado | Foto: Reprodução

O drummond no meio do caminho é que, se Barbosa for candidato, com o apoio “informal” de Carlesse, a política do Tocantins pode tomar outro rumo. Há a possibilidade de uma reviravolta na oposição.

O senador Eduardo Gomes (MDB) pode disputar o governo e o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (Podemos) pode ser candidato a senador.

No momento, Ronaldo Dimas é apontado com pré-candidato a governador, com o apoio de Eduardo Gomes. Porém, se Carlesse subir no palanque de Barbosa, a tendência é que o quadro mude e o senador dispute o governo.

O que se comenta é que, se Eduardo Gomes entrar no jogo para o governo, “não vai sobrar para ninguém”. Porque sua estrutura (dinheiro sobrando, emendas para os municípios, lobbies poderosos) é tida como maior até que a de Carlesse — que, no fundo, é uma estrutura mais de governo.

Wanderlei Barbosa de Castro, vice-governador, e Mauro Carlesse, governador do Tocantins: o segundo poderá cristianizar o primeiro | Foto: Reprodução

Resta saber se Ronaldo Dimas não se sentirá traído com uma candidatura de Eduardo Gomes ao governo. Frise-se que a disputa para o Senado não será fácil. A senadora Kátia Abreu, do Progressistas, será candidata à reeleição e é um nome sempre forte. Há também a possibilidade de Carlesse disputar mandato de senador. Há quem postule que Ronaldo Dimas tem mais chance de ser eleito a governador do que a senador.

Há também a possibilidade de Carlesse “cristianizar” Barbosa. Mas, se o apoiar de fato, em troca de apoio para deputado ou senador, o grupo acabará ficando “isolado”. O palanque terá basicamente (em termos de políticos de peso) Barbosa, Carlesse e o deputado federal Carlos Gaguim, do partido Democratas mas a caminho do PSL. Nem a deputada federal Professora Dorinha, do Democratas, deverá ficar com o grupo. É o que se diz no Palácio Araguaia.

Ataídes Oliveira tem cacife para o Senado ou para o governo | Foto: Reprodução

O quadro da política do Tocantins está “aberto”. Porque, a rigor, não há candidatos definidíssimos. Os líderes e os quase-líderes estão jogando, apresentando seus nomes, expondo seus projetos políticos. Se colar, colou. Se não colar, mudam de projeto. Carlesse, por exemplo, afirma para os aliados que disputará mandato de senador. Mas, se pesquisas mostrarem que não tem consistência para o Senado, não embarcará em canoa furada — optando pela disputa de mandato de deputado federal. Ronaldo Dimas postula o governo, mas pode ir ao Senado. Eduardo Gomes sugere que não é candidato a nada, mas pode postular o principal cargo político do Estado, o governo — seu sonho antigo. Agora, se assumir o governo, em abril, a tendência é que Barbosa dispute a reeleição.

Para o Senado, também está no jogo o ex-senador Ataídes Oliveira, do Pros. Ele está circulando pelo Estado, conversando sobretudo com vereadores, e, de cada dez palavras que fala, “onze” são mísseis contra o governo de Carlesse. O ex-senador diz, de maneira enfática, que há corrupção no governo. (Depois da publicação deste texto, o ex-senador fez uma ressalva a um repórter do Jornal Opção: planeja disputar o governo, não o Senado.)

Fala-se, em todo o Estado — trata-se de um consenso —, que Carlesse disputará mandato de deputado ou senador com o objetivo de tentar conquistar, não apenas um mandato, mas sobretudo imunidade parlamentar. Fora do governo, sobretudo se a oposição ganhar — com Ronaldo Dimas —, sua gestão será investigada e há a possibilidade de ele se tornar o novo Marcelo Miranda.

Pesa contra Eduardo Gomes as denúncias de que se beneficiou do “Orçamento Secreto” do governo do presidente Jair Bolsonaro — o chamado Tratoraço ou Bolsolão. O senador teria “distribuído” dinheiro — o que não significa necessariamente corrupção —inclusive para políticos do Maranhão. Uma investigação detida a respeito poderá prejudicá-lo. No caso de uma CPI, poderá até mesmo perder o mandato de senador. Ele certamente será denunciado pelo Ministério Público Federal ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).