Se Carlesse permanecer no governo, a tendência é que o senador seja candidato a governador; se sair, Eduardo Gomes tende a bancar Ronaldo Dimas

As articulações dos políticos do Tocantins, apesar do avanço letal da Covid-19, não param. O que mais se comenta, no momento, é que o governador Mauro Carlesse (PSL) teria orientado a presidente da Câmara Municipal de Palmas, a empresária Janad Valcari (Podemos), a denunciar a prefeita da capital, Cinthia Ribeiro (PSDB), tanto ao Tribunal de Contas quanto ao Ministério Público. Sentindo-se acuada, a gestora municipal teria procurado o chefe do Executivo estadual, que, se portando como benemérito e diplomata, segurou a “fúria” denuncista da vereadora.

Eduardo Gomes e Ronaldo Dimas: o senador vai cumprir o trato? | Fotos: Divulgação

Ao mesmo tempo, Cinthia Ribeiro estaria sendo pressionada para renunciar em 4 de abril de 2022, depois de pouco mais de um ano de mandato, para disputar mandato de deputada federal e repassar o poder para seu vice, André Gomes, do Avante. André Gomes é irmão do senador Eduardo Gomes, conhecido em Brasília como um dos chefes da tropa de choque do bolsonarismo no Congresso.

As movimentações sugerem que os políticos estão jogando. Mas os dois problemas citamos acima são relativamente periféricos. O jogo que conta realmente é sobre a disputa eleitoral para governador e senador em 2022.

Desde já, o jogo deriva da seguinte posição: se o governador Mauro Carlesse renunciar — para disputar mandato de senador ou deputado federal —, em 4 de abril de 2022, daqui a um ano, quatro meses e alguns dias, o quadro será um; se não renunciar, será outro.

Wanderlei Barbosa de Castro, vice-governador, e Mauro Carlesse, governador do Tocantins: aliados até quando? | Foto: Reprodução

Se Mauro Carlesse ficar no governo — correndo o risco de não ter “imunidade” entre 2023 e 2026 —, o candidato de sua base política a governador será, possivelmente, o senador Eduardo Gomes, do MDB. Se sair, não terá como não apoiar o vice-governador Wanderlei Barbosa, que, ao assumir, se tornará candidato a governador. Na planície, sem cargos e sem a estrutura do governo, não restará outra saída a Carlesse, que só é líder quando tem poder.

Pacto de Ronaldo Dimas e Eduardo Gomes

O ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (Podemos) teria um pacto com Eduardo Gomes — padrinho de seu filho deputado, Tiago Dimas. O acordo reza o seguinte: Eduardo Gomes apoiaria Ronaldo Dimas para governador, em 2022. Em 2024, se eleito, Ronaldo Dimas bancaria André Gomes para prefeito de Palmas e, em 2026, a reeleição de Eduardo Gomes.

Entretanto, se Carlesse ficar no governo, criando uma expectativa positiva, a tendência é que Eduardo Gomes seja o seu candidato a governador. Mas o que fazer com Ronaldo Dimas? Eduardo Gomes tentaria convencê-lo a retardar seu projeto para o governo e o bancaria para senador — com Carlesse indicando o vice.

A pergunta é: Ronaldo Dimas, apontado como favorito para o governo, abriria mão para Eduardo Gomes? Se este apresentar uma pesquisa, sugerindo que é viável, dificilmente o ex-prefeito de Araguaína deixaria de bancá-lo. Com o apoio de três máquinas, a do governo, a da Prefeitura de Araguaína e a do senador Eduardo Gomes, provavelmente Ronaldo Dimas ganharia, com relativa facilidades, oito anos no Senado.

Vale insistir num ponto: Eduardo Gomes só será candidato se Carlesse permanecer no governo (se Eduardo Gomes for eleito, ele poderia assumir uma secretaria). Porém, se renunciar, o governador não terá como deixar de apoiar Wanderlei Barbosa. “No Tocantins ganha-se eleição com estrutura político-partidária e dinheiro. Assumindo o controle do poder estadual, Wanderlei, que ainda não é um político consistente, ficará forte, inclusive com condições de derrotar Ronaldo Dimas, que, no momento, é muito mais popular”, afirma um deputado. Porém, se não assumir o governo, Wanderlei não terá cacife para disputar o governo — talvez optando por disputar mandato de deputado federal. “Mas eu acredito que Carlesse deixará o governo para disputar mandato de deputado federal ou senador, sobretudo porque aprecia ter poder e devido à necessidade de ter imunidade. Deixando o governo, a tendência é que a disputa se dê entre Wanderlei e Ronaldo Dimas”, postula o parlamentar.

“Wanderlei está desesperado para disputar, ele quer ser candidato. Por isso torce e diz para os aliados que assumirá o governo em 4 de abril de 2022”, sustenta o deputado. “Ele sabe que, se assumir o governo, Carlesse não terá como deixar de apoiá-lo. Porque vai precisar da estrutura do governo para uma eleição tanto para o Senado quanto para a Câmara dos Deputados”, insiste o parlamentar.

Carlesse e Ronaldo Dimas não se dão. Ambos são adversários figadais. Mas Eduardo Gomes, que trafega bem com os dois, pode ser a “cola” capaz de uni-los. Mas a união só ocorrerá se Carlesse ficar no governo e o seu candidato for o senador. “Vale constatar que, apesar da força política de Eduardo Gomes, tanto no Tocantins quanto em Brasília, o verdadeiro cacique da política do Estado é Carlesse. Ele manda e exerce o poder na sua plenitude. De fato, Eduardo Gomes é o seu mentor, mas o governador tem autonomia. Ele costuma atropelar todo mundo que discorda de suas ideias e projetos. Se Eduardo Gomes brincar, bancando a candidatura de Ronaldo Dimas, Carlesse pode avançar sobre ele como um ‘trator’”, postula um deputado.

Ogari Pacheco, Jair Bolsonaro e Eduardo Gomes | Foto: Divulgação

Conta-se, nos bastidores do mercado persa da política, que Eduardo Gomes, quando disputou mandato de senador em 2018, teria feito um acordo com seu suplente, o empresário Ogari Pacheco, de que ficaria quatro anos no Senado e abriria espaço para o dono do Complexo Farmacêutico Cristália assumir o mandato por quatro anos. Políticos relatam que, sentindo-se tão “confortável” com o trato, Ogari Pacheco chega a despachar no Senado, numa das salas de Eduardo Gomes (“chega-se a pensar que o Senado tem 82 senadores”, diverte-se o deputado ouvido pelo Jornal Opção). O empresário estaria pressionando o emedebista para cumprir o trato. Consta que até o presidente Jair Bolsonaro já teria perguntado se o empresário vai assumir a vaga.