Causas não faltam em Goiânia. O que falta é um “vereador Suplicy”

19 fevereiro 2023 às 00h03

COMPARTILHAR
Eduardo Suplicy é um homem público de integridade a toda prova, mesmo segundo seus adversários políticos. Aos 81 anos, o petista paulistano já foi de tudo no Poder Legislativo: foi deputado federal, senador por três mandatos (de 1991 a 2015), vereador já veterano na cidade natal e, agora, deputado estadual mais votado de São Paulo, com mais de 800 mil votos.
Mesmo sem nunca ter exercido um mandato pelo Executivo – para o qual concorreu apenas uma vez, ao governo de seu Estado em 1986 –, Suplicy é um parlamentar que tem uma marca na política: sua luta pela implantação da Renda Básica de Cidadania, ou renda mínima, que garantiria o direito a uma renda incondicional paga em igual valor a toda a população brasileira. É o sonho de trazer para o País a plenitude do “welfare state”, o Estado de bem-estar social conhecido da Europa socialdemocrata.
Mas o que isso teria a ver com a vereança em Goiânia? É que falta aos representantes eleitos pela população da capital goiana a luta por algo que seja duradouro, uma causa material ou não.
A dificuldade talvez advenha de os vereadores atenderem a uma base geralmente territorial: são eleitos como políticos de determinado bairro ou região e passam quatro anos buscando convencê-los de que merece continuar por lá na legislatura seguinte. Alguns literalmente “marcam território”, com faixas e carros de som para “lembrar” os moradores de que ele é o “vereador da região”, comprometido com o que a população precisar. Acabam se acomodando com o ofício de distribuir requerimentos em secretarias da Prefeitura e com pequenas (ou até maiores) benesses acordadas com o Paço.
A lacuna está em não ter, de fato, uma bandeira a defender. Uma causa que, mesmo que não seja possível imediatamente – ou que, se possível, não seja de fácil implementação –, traga à Câmara de Goiânia ao menos uma séria reflexão sobre ela.
Temas urgentes não faltam: a despoluição e recomposição dos cursos d’água que cortam a cidade, como forma de devolver qualidade de vida e, mais imediatamente, minorar os riscos de destruição por enchentes e inundações; uma atenção ao problema da quantidade de animais de rua, sem que tenham da administração qualquer cuidado ou política de saúde pública – porque o crescimento descontrolado da população canina e felina traz sofrimento e abandono aos bichos e riscos às pessoas; a qualidade do trânsito e do transporte urbano, onde os cidadãos perdem horas de seu dia, se estressam e até adoecem, por conta de vários fatores, desde a educação à aplicação adequada dos recursos de multas e impostos.
Vereador marcado por frases irônicas existe; por pautas radicalizadas em matéria de costumes, Goiânia tem também; espalhafatosos e intimidatórios no uso da tribuna, com certeza os há.
Falta aparecer o “vereador do transporte digno”, ou a “vereadora da castração dos bichos de rua”, ou ainda o “vereador do meio ambiente”. O que falta, na verdade, em Goiânia e em qualquer cidade brasileira, é mais gente que encare o dom da política como Eduardo Suplicy: com a seriedade e a nobreza que a função merece.