Carlesse ‘ameaça’ não deixar o governo em abril de 2022. Quer operar o jogo político do Tocantins
15 julho 2021 às 13h03
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O governador planeja, na verdade, continuar dando as cartas na política do Estado. Teme perder o controle para outros políticos, como Eduardo Gomes
Políticos são assim, em geral: o que dizem de manhã não serve para a noite. Por que são mentirosos contumazes? Não necessariamente. Como as circunstâncias mudam, e é preciso refazer os jogos políticos, como o quadro das alianças, o que falam serve para o momento “x”, mas não para o momento “y”. É o que está acontecendo no Tocantins.
O governador Mauro Carlesse, do PSL, disse, numa reunião com deputados e secretários, que não vai disputar eleição em 2022. Não vai mesmo? Pode ser que esteja dizendo a verdade e, até, que tema disputar mandato de senador ou deputado federal e ser derrotado.
Mas a interpretação quiçá mais precisa pode ser outra bem diferente da apresentada por Mauro Carlesse. O mais provável é que o governador está perdendo o controle do processo eleitoral, por isso, ao sugerir que não vai sair, o jogo, em tese, voltará ao seu comando. Se deixar o governo, para disputar mandato, Carlesse vai precisar das forças políticas, seja de Wanderlei Barbosa — que assumiria o governo em 4 de abril de 2022, tornando-se, de imediato, candidato à reeleição — ou do senador Eduardo Gomes, do MDB. No entanto, se ficar no governo, as forças políticas é que precisarão do gestor estadual. A “renúncia” é mais um recado para os aliados políticos do que uma posição incontornável, possivelmente.
O fato é que, por ser realista, Carlesse não quer ficar sem mandato entre 2023 e 2026. Por dois motivos. Primeiro, na política quem não tem mandato não negocia em igualdade de condições com os demais políticos. Segundo, há os problemas judiciais. Sem mandato, o governador perderá a “imunidade” e seus processos serão julgados na primeira instância — onde são mais céleres. Com a imunidade, os processos demoram a ser julgados — e o são nas instâncias superiores (sempre lotadas de processos).
O que quer Carlesse? Quer ser senador. Mas, se a eleição ficar difícil, se contentará com o mandato de deputado federal. Mas ele quer mais: planeja ter papel decisivo na formatação de uma grande chapa para governador e senador. O líder do PSL tende a perceber Barbosa como um “candidato fraco” — a ser batido. Mas, se Barbosa assumir o governo, terá de apoiá-lo.
O objetivo de Carlesse é aparecer como articulador de uma chapa majoritária tida como imbatível, que teria Eduardo Gomes como candidato a governador e ele a senador.
Há um “drummond” no meio do caminho: Eduardo Gomes, embora queira ser governador do Tocantins — estaria considerando que seria sua eleição mais fácil —, tem o compromisso formado de apoiar Ronaldo Dimas (Podemos), ex-prefeito de Araguaína. Dimas aceitaria recuar e ir a vice de Eduardo Gomes? No momento, ele tem dito, aos aliados, que será candidato a governador.
O fato é que, de certa maneira, a política do Tocantins, quando Carlesse deixar o governo — se deixar, é claro —, passará, em certa medida, para a coordenação de Eduardo Gomes. O governador passará ao segundo plano, o que, em política, significa último plano.
Na beira do Tocantins, pescadores dizem, em tom jocoso, que só o Curupira e o Saci Pererê acreditam que Carlesse não vai disputar mandato em 2022. Para saber a verdade, é preciso aguardar mais oito meses e alguns dias, quer dizer, 4 de abril de 2022 — a data-limite para desincompatibilização.