Candidato único a prefeito não é positivo para a democracia, diz Vilmar Rocha
25 agosto 2024 às 00h00
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O ex-deputado federal Vilmar Rocha reúne, numa só persona, um político profissional (no sentido weberiano) e um analista fino da política brasileira e goiana.
Na semana passada, numa conversa com um repórter do Jornal Opção, ele decidiu não falar de Lula da Silva, do PT, e concentrar-se em alguns aspectos das eleições municipais em Goiás.
“Notei que, se em 2020, apenas quatro políticos foram candidatos únicos a prefeito em Goiás, em 2024 o número subiu para 20. Ou seja, um aumento significativo. Sei que, em alguns casos, como o de Hidrolândia, com o prefeito José Délio — que deveria se filiar ao PSD [risos] —, os candidatos únicos têm a ver com gestões municipais extraordinárias. Mas isto não tem a ver com todos os casos”, assinala Vilmar Rocha, autor de um livro seminal sobre o populismo.
“Na verdade, há uma explicação plausível, à espera de refinamento, o que se dará com um exame concreto dos dados, o que não farei agora. A renovação política não tem sido grande nas cidades goianas. E, claro, o número de prefeitos que são candidatos é muito elevado. Assim como não há disponibilidade de novos líderes, é muito difícil enfrentar aqueles políticos que controlam as máquinas públicas municipais, que, além de gerar empregos para aliados, são fábricas de favores”, analisa Vilmar Rocha.
“A dispersão de partidos nas cidades contribui para que não haja polarização entre dois ou três partidos, o que reduz o impacto do debate E há, claro, uma poderosa cooptação dos agentes políticos. O fato de se ter tantos candidatos únicos não deveria ser comemorado. Deveria ser lamentado, pois é ruim para a democracia”, sublinha o ex-deputado.
Quadro de Goiânia permanece aberto
Sobre a disputa eleitoral em Goiânia, Vilmar Rocha diz que “o quadro está inteiramente aberto. Pelos dados do momento, tanto poder ser eleita Adriana Accorsi (PT) quanto podem ser eleitos Sandro Mabel (União Brasil) quanto Vanderlan Cardoso (PSD). Ninguém deslanchou, o que sugere que os eleitores ainda não estão dando preferência a este ou aquele. Não que os eleitores estejam indecisos. Na verdade, ainda não estão fortemente motivados, o que só deverá ocorrer em setembro”.
O diferencial de Sandro Mabel poderá ser o exército eleitoral que o governador Ronaldo Caiado (UB) está ajudando a montar. “Mas não há, até o momento, uma ideia que galvanize a atenção dos eleitores de Goiânia em relação ao candidato do União Brasil. Mas os outros postulantes também não despertaram o interesse dos eleitores”, frisa Vilmar Rocha.
Jabuticaba do Congresso e do Supremo
No plano nacional, Vilmar Rocha afirma que os parlamentares cometem um erro ao irem ao Supremo Tribunal Federal para negociar emendas-pix.
“É um equívoco dos deputados e o papel de negociador é impróprio para o STF, que não deveria se comportar como agente político. É uma jabuticaba a mais no cenário político do país.” (E.F.B.)