O presidente é visto como um político decente, que se não se envolve em falcatruas. Mas teria perdido o ímpeto no combate à corrupção

Mais uma vez, a ala militar esfriou a cabeça tanto do presidente Jair Bolsonaro quanto do ministro da Justiça, Sergio Fernando Moro. Esfriou em termos, pois o bolsonarismo sugere que o ex-magistrado é o “novo” Luiz Henrique Mandetta — que desafiou o chefe, quando ministro da Saúde, e caiu.

Jair Bolsonaro e o aliado Jorge Oliveira | Foto: Jornal Opção

Na quinta-feira, 23, ao saber pelo próprio Sergio Moro que, se exonerasse o diretor da Polícia Federal, ele sairia junto, Bolsonaro cogitou trocá-lo, de imediato, pelo advogado Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral.

Segundo a revista “Veja”, Jorge Oliveira chegou a ser avisado de que se preparasse, porque poder ter de assumir o cargo, e rápido.

Políticos experimentados sugerem que Bolsonaro está buscando criar um ministério à sua semelhança, com técnicos que não discutam e apenas cumpram ordens. “Bolsonaro deixa a entender que quer formatar um ministério com eunucos técnicos, obtusos, apenas cumpridores de ordens”, afirma um deputado federal.

Jair Bolsonaro e Sergio Moro não estão falando mais a mesma linguagem: o realismo do primeiro choca-se com o rigor legalista do segundo | Foto: Adriano Machado/Reuters

O fato é que, se não for para o Supremo Tribunal Federal até o fim do ano, Sergio Moro tende a não emplacar 2021. Porque, se ganhou o primeiro round, talvez seja derrotado no segundo round. Aliás, nem se sabe ainda se ganhou mesmo o primeiro round.

Procuradores e promotores de justiça e inclusive policiais federais têm a impressão de que, uma vez no poder, Bolsonaro não tem o ímpeto de antes quando se trata de investigar corrupção. O presidente não é corrupto, mas, por causa da negociação política, sugere que não tem mais tanto interesse em algumas investigações. O centrão está gostando do “novo” Bolsonaro, mais realista.