O ataque às pesquisas eleitorais, liderado principalmente pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (pP-AL), é mais uma novidade entre as várias insanidades que a imprensa tem tido que noticiar.

Pesquisas são questionadas a cada eleição, sempre pelo lado desfavorecido pelos números. É bem verdade que há institutos menos sérios – como em qualquer mercado, diga-se. Mas não é o que se pode dizer de Datafolha e Ipec (antigo Ibope), com profissionais do mais alto gabarito, com nome a zelar e com décadas de tradição no ofício.

Ao contrário do que quiseram fazer pensar, as pesquisas eleitorais fizeram seu trabalho dentro do que poderiam. E é sempre importante lembrar que cada levantamento publicado precisa antes ter registro na Justiça Eleitoral, que é para onde devem ser encaminhadas as queixas e demais demandas contra o trabalho.

Por isso, o projeto de lei que o deputado Ricardo Barros (pP-PR) quer levar adiante, propondo inclusive prisão a responsáveis por pesquisas que não acertarem dentro da margem de erro o resultado das urnas com 15 dias de antecedência, é um deboche, além de algo claramente inconstitucional. Propostas disparatadas assim, em um Legislativo sério, deveriam levar a uma punição reversa: políticos que as apresentassem deveriam cair diretamente no Conselho de Ética, pelo bem do nome da casa legislativa em que atuam. Isso ocorreria em tempos normais e tratando-se de um Parlamento que se respeitasse.

O resultado do primeiro turno foi surpreendente em quase todos os institutos. O intrigante é que a maioria quase “cravou” o porcentual de Lula. O erro foi no número muito acima de Bolsonaro. Algo que, com certeza, será objeto de estudos para entender o que houve – e que teve, com certeza, algum fator exógeno que não estava no controle dos levantamentos.

Fica cada vez mais explícita a tática bolsonarista adotada neste segundo turno: é a substituição da contestação das urnas eletrônicas – que, claro, “sobreviveram” a todas as investigações que ocorreram, mesmo a das Forças Armadas, não divulgadas por ordem do presidente Jair Bolsonaro (PL) – pelo ataque aos institutos de pesquisas.

O mandatário disse, no sábado, 15, em visita a Fortaleza, que “essas pesquisas essas pesquisas mentirosas arranjaram dois, três milhões de votos para o Lula”. Bolsonaro diz isso ao mesmo tempo em que começa a conclamar seus apoiadores a não deixar as imediações dos colégios eleitorais até que sejam totalizados os votos. Note-se: ele não fala do fim da votação, com a imediata impressão do boletim de urna totalizado na porta de cada seção. Ele deseja que seus militantes fiquem durante a apuração, até seu fim, duas ou três horas depois de encerrada a votação. O que ele quer com isso? Parece bem claro.