Articulista do jornal “Valor Econômico” sugere que Bolsonaro pode renunciar

26 março 2020 às 18h49

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O que o presidente ganharia? A proteção dos filhos. Mas o presidente é casca grossa e dificilmente sai sem pressão militar
O presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, de 65 anos, pode renunciar ao mandato? É o que sugere a gabaritada articulista de política do jornal “Valor Econômico” Maria Cristina Fernandes, no artigo “A carta da renúncia”. “A costura de uma renúncia, como saída, passa pela anistia dos filhos”.
Bolsonaro renunciaria? Muito difícil, talvez a única possibilidade de fazê-lo seria sob pressão dos militares, notadamente do Exército. Mas ele já está substituindo militares, o que sugere que não aceitará pressões.

Maria Cristina frisa que Bolsonaro, como presidente, não tem o apoio do Parlamento e da sociedade organizada (a edição do “Jornal Nacional” de quarta-feira mostra um país contra o presidente e os que estão ao seu lado só não reagem por causa dos cargos ou identificação ideológica). A ideia de chamar as pessoas ao trabalho, para que saiam do isolamento, não convenceu políticos e médicos. Pelo contrário, o país posicionou-se contra o presidente. Bolsonaro está no limite do isolamento — com o apoio dos Bolsonaro-boys e alguns aliados ideológicos da direita olavo-carvalhista.
O general do Exército Edson Leal Pujol postou-se a favor da mobilização nacional contra o coronavírus e, daí, pelo isolamento. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, embora pisando em ovos, adota o mesmo posicionamento. Talvez só não deixe o cargo para evitar que um doidivanas o assuma.
O que se está dizendo, e não só nos bastidores, é que Bolsonaro “já não governa”, pontua Maria Cristina. Ele teria infringido, como presidente, uma espécie de “lei de responsabilidade social”. Então, no lugar do impeachment, seria mais adequada a renúncia.
Bolsonaro ganharia em troca a liberdade dos filhos.
Mas, como assinala Maria Cristina, há pedras no caminho. “A primeira é que não há anistia para uma condenação inexistente. A segunda é que ao fazê-lo, a legião de condenados da Lava-Jato entraria na fila da isonomia, sob a alcunha de um ‘Pacto de Moncloa’ tupiniquim. A terceira é que o Judiciário, agastado com o bordão que viabilizou o impeachment de Dilma (“Com Supremo com tudo”), resistiria a embarcar. E finalmente, a quarta: quem teria hoje autoridade para convencer o presidente? Cogita-se, à sua revelia, dos generais envolvidos na intervenção do Rio, PhDs em milícia. A única razão para se continuar nesta pedreira é que, por ora, não há outra saída. Na hipótese de se viabilizar, o capitão pode estar a caminho de encerrar sua carreira política como começou. Condenado por ter atentado contra o decoro, a disciplina e a ética da carreira militar, Bolsonaro foi absolvido em segunda instância. Em ‘O Cadete e o Capitão’ (Todavia, 2019), Luiz Maklouff, esboça a tese de que a absolvição foi a saída encontrada para o capitão deixar a corporação. Em seguida, o Bolsonaro disputaria seu primeiro mandato como vereador no Rio. Trinta e quatro anos depois, a borracha está de volta para esfumaçar o passado. Desta vez, com o intuito de tirá-lo da política”.