A disputa eleitoral de Aparecida de Goiânia é mais complexa do que parece à primeira vista. Há coisas definidas e coisas a serem definidas. Então, a seguir o leitor poderá ler alguns dropes sobres os bastidores dos acontecimentos — que, insistamos, não estão fechados e, como tais, são mais quase-acontecimentos. Vamos lá.

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O projeto número um do deputado federal Professor Alcides Ribeiro é ser eleito prefeito de Aparecida de Goiânia, a segunda cidade com maior número de eleitores de Goiás, além de ter o terceiro maior PIB do Estado — com a possibilidade de superar Anápolis, o segundo PIB, nos próximos anos.

O projeto número dois do Professor Alcides é substituir o ex-prefeito Gustavo Mendanha como principal líder político de Aparecida. Seu projeto é ganhar em 2024 e ser reeleito em 2028. Para tanto, vai operar — aliás, já está operando — para enfraquecer o jovem político do MDB.

Professor Alcides e Jair Bolsonaro, em Brasíia | Foto: Divulgação do PL

O terceiro projeto do Professor Alcides é tentar eleger o senador Wilder Morais para governador de Goiás, em 2026.

Em suma, Professor Alcides, líder nas pesquisas, é um candidato fortíssimo. E tem o apoio de Jair Bolsonaro, ainda que não se saiba se conta com o apoio de todos os bolsonaristas. Parte dos evangélicos — a maioria bolsonarista — tende a seguir com Vilmar Mariano ou outro candidato do MDB.

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Pesquisas dizem que 78% dos eleitores seguem Gustavo Mendanha. O que significa que pode transferir voto. Noutras palavras, o ex-prefeito não é cabo, e sim o general eleitoral de Aparecida.

O prefeito Vilmar Mariano (MDB) — o outro candidato — precisa de 50% + 1% dos votos para ser eleito prefeito. Portanto, o seu potencial — ou de outro candidato —, se apoiado por Mendanha, é alto.

Gustavo Mendanha: o “general” eleitoral indiscutível de Aparecida | Foto: LeoIran/Jornal Opção

As declarações de Mendanha à imprensa, sugerindo que pode não apoiá-lo, talvez seja o principal impeditivo da ascensão de Vilmar Mariano. Se Mendanha grudar nas mãos do prefeito e andar por 20 feiras livres do município, durante duas semanas, o quadro poderá começar a mudar.

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Pesquisas mostram o prefeito Vilmar Mariano com 15% e 21% (numa eleição Gustavo Mendanha começou com 3%). Os 21% — ou 15% — são de Vilmar Mariano como prefeito, ou seja, ainda sem o apoio do ex-prefeito.

Prefeito de Aparecida de Goiânia, Vilmar Mariano | Foto: LeoIran/Jornal Opção
Vilmar Mariano tem uma máquina, a prefeitura; falta a máquina política | Foto: LeoIran/Jornal Opção

Então, com a possível entrada de Gustavo Mendanha em campo, Vilmar Mariano passará a ter chance de derrotar Professor Alcides — que os adversários chamam de “cavalo boliguaio” (pelo menos para deputado federal, não é).

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Um líder emedebista disse, de maneira enfática, que o MDB não vai abrir mão da prefeitura para Professor Alcides (vale reler a nota 1).

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Mendanha já disse que não apoiará Professor Alcides. Portanto, este é o político a ser derrotado daqui a seis meses.

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Daniel Vilela e Ronaldo Caiado: empenhados em Aparecida | Foto: Divulgação

Vilmar Mariano pode ser o primeiro candidato a prefeito, nos últimos 14 anos, a ter ao apoio de duas grandes máquinas públicas: a de Aparecida de Goiânia e a de Goiás. A prefeitura municipal e o governo do Estado.

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Comenta-se que o médico Alessandro Magalhães pode ser candidato a prefeito apoiado por Mendanha. Na verdade, ele quer continuar como secretário de Saúde. E faz, de acordo com os médicos locais, um “excelente” trabalho.

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Fala-se também que, na hipótese de Vilmar Mariano naufragar, sobretudo por não conquistar o apoio enfático de Mendanha, o ex-deputado federal Leandro Vilela pode ser o candidato do MDB a prefeito de Aparecida.

Leandro Vilela: um Maguito Vilela mais jovem e igualmente diplomático | Foto: Divulgação

A rigor, Leandro Vilela não demonstra apetite pela disputa. Mas poderia entrar no jogo pensando no projeto de Daniel Vilela para 2026. Porque, se for eleito, Professor Alcides colocará a estrutura da máquina de Aparecida numa possível campanha de Wilder Morais a governador.

O fato concreto é que, por ser diplomático e centrado, Leandro Vilela tem agido mais como bombeiro tentando apagar o “fogo” entre Vilmar Mariano e Mendanha. Mas poderá ser candidato? Sim. Só pelo fato de ser sobrinho de Maguito Vilela e primo do vice-governador Daniel Vilela, além de contar com a simpatia de Mendanha, ele já aparece bem em algumas pesquisas. É consistente. Insista-se num fato: ele tem a moderação e o jeitão calmo de Maguito Vilela. Tanto que fala pouco e, nada ansioso, gosta muito ouvir. O que lhe falta é ambição política, sobretudo porque seu projeto prioritário é contribuir para a eleição de Daniel Vilela para governador m 2026.

Com Leandro Vilela cria-se uma nova expectativa de poder. Porém, apesar de possíveis articulações, diz-se que o Plano B do MDB em Aparecida, Leandro Vilela, ainda trata Vilmar Mariano como Plano A.

Comenta-se, também, que Leandro Vilela só entraria no jogo com o apoio de todo mundo, quer dizer, Ronaldo Caiado, Daniel Vilela, Mendanha e, também, de Vilmar Mariano. Porque ficar imprensado entre duas máquinas (a do multimilionário Alcides Ribeiro e a poderosa máquina da prefeitura), ainda que bem avaliado, não é nada confortável, ainda que se seja popular.

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De acordo com um político de Aparecida, Vilmar Mariano não cogitou de se rebelar, em caso de uma candidatura de Leandro Vilela, e se filiar ao PT. Ainda que se dê bem com os petistas da cidade e do Estado.

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Político em ascensão, Mendanha pode ser vice de Daniel Vilela em 2026, ou, no mesmo ano, ser candidato a senador pelo MDB. Mas, se seu candidato perder em Aparecida, ficará com a imagem de que não é tão forte assim… para cobiçar voos mais altos na política estadual. (E.F.B.)