Por Yago Rodrigues
O Bloco Socialista leva samba, marchinhas de carnaval e rock para as ruas de Goiânia. Nesta quinta, 12, o grupo traz atrações como Coró-de-pau, Escola de Samba Lua-Alá, Banda Mercado + Fausto Noleto, Mundhumano e Hugo Roquete + Fred Noleto para a Praça Universitária. Este é o 4° ano que o Samba Leviano põe o bloco na rua. É às 19 horas. Já na semana que vem a agenda aperta: dia 13 vai ter encontro de blocos no Grande Hotel; e do dia 14 ao dia 17 tem programação na cidade inteira: da Rua 74 ao Vaca Brava.

[caption id="attachment_27931" align="alignnone" width="620"] Foto: Divulgação[/caption]
Há um ano, as tardes sábados têm sido festejadas com poesia, literatura, música, teatro, dança, performances, com as mais diversas expressividades artísticas. E a galera do Letra Livre abre o ano de 2015 com a comemoração de aniversário do “Sábado no Parque”. E têm convidados especiais: Lorranna Santos, a banda Grife, o musicista Manoel Siqueira e os poetas Frankli Sausmickat, Yasmim Stella e Larice Hikato. Começa às 16 horas, com entrada franca. E, desta vez, o sarau será no Bosque dos Buritis, em frente ao Fórum.

[caption id="attachment_27927" align="alignright" width="620"] Foto: Layza Vasconcelos[/caption]
A Cia Sala Três de Teatro invade os palcos do Sesc Centro para alegria da criançada, de qualquer idade. E eles trazem “Cora Coralinha”. É que a perdida menina, também chamada Aninha, encontra uma trupe, que resolve ajudá-la. Encantados com as histórias da pequena, os artistas se aventuram em poesias até chegarem à casa da ponte. Vale levar a família inteira. É neste domingo, 8, já no cair da tarde, às 17 horas. Os ingressos custam R$ 10 a inteira e R$ 2 para menores de 12 anos. O Sesc Centro fica na Rua 15, esquina com a Rua 19.

[caption id="attachment_27867" align="alignright" width="300"] Foto: Layza Vasconcelos[/caption]
Vambora ao teatro, hoje? É que o grupo Nômades de Dança apresenta o espetáculo “Palavras em Giz”. A autobiografia coletiva traz marcas pessoais, gerando desestabilização e reatualizações. Baseado em reflexões da psicoterapeuta Suely Rolnik e na poesia de Pessoa, o trabalho traz o desassossego e a porta aberta que ele deixa para novos lugares. Começa daqui a pouco, às oito da noite. É bem ali no Sesc Centro, na Rua 15, esquina com a Rua 19. Os ingressos custam R$ 10, a inteira e R$ 5, a meia.

[caption id="attachment_27681" align="alignnone" width="620"] Foto: Reprodução[/caption]
Paulo Lima
Tinha esse hábito estranho. Acho que nasci tarado. Desde menino, sempre fui louco por leituras e livros. Um degenerado do tipo incorrigível.
Queria porque queria compartilhar meu desejo incontido. Tinha uma queda particular por adolescentes, masculinos ou femininos — que importa? — mas saía pegando o que aparecesse: adultos, idosos, negros, nisseis... Crianças não. Eram mais difíceis de aliciar, porque estavam sempre acompanhadas de pessoas puras, que reprovavam aquelas coisas abomináveis feitas de papel e tinta.
Agia furtivamente assim: num dia qualquer, eu deixava um livro dentro de um ônibus, aleatoriamente, num assento vazio logo no início da viagem. Eu ia lá pra frente e ficava espiando, de rabo de olho, a reação de quem encontrava a preciosidade. Sim, eu era um voyeur...
O cara — ou a moça, o velho, seja lá quem fosse —, quando ia se sentar levava um susto, olhava pros lados, pra trás e pra frente, procurando o dono que certamente o tinha esquecido ali, mas o ônibus quase vazio indicava que o possível dono já tinha descido. Pegava o presente, sem saber que era um presente, começava a folhear e o resto era com ele ou ela. Eu guardava como troféu, pelo crime cometido, a imagem do rosto iluminado daquela vítima indefesa.
Lascivo, eu descia no ponto seguinte, com a sensação de dever cumprido, e entrava no próximo busão, para atacar de novo. Uma vez, quase me pegaram. Consegui disfarçar e esconder minha obscenidade. Saí de fininho.
Aquilo se tornou um vício — ou seria um fetiche? — que durante anos eu alimentei compulsivamente. Eu sonhava com o resultado que nunca viria a conhecer.
Aqueles seres teriam gostado de Machado de Assis, de Herman Hesse e Augusto dos Anjos, de Cecília Meirelles, Stanislaw Ponte Preta e Rachel de Queiroz? E suas vidas, teriam mudado depois que as toquei?
Enfim, envelheci. Adquiri carro próprio e abandonei o povaréu à própria sorte, ciente de que um dia seria julgado e condenado por mais essa transgressão.
Ainda sonho com o dia qualquer em que eu volte a entrar num ônibus qualquer, em busca da velha e prazerosa prática imoral, para não dizer imperdoável, de compartilhar minha loucura por livros e leituras.
Paulo Lima é redator publicitário desde 1988, caminhando para 26 anos de atividades ininterruptas. Contista por natureza, vocação ou sina, escreve desde mini contos a contos maiores. Nesse balaio, inclui algumas crônicas.

Os contos de “Petaluma”, de Tiago Velasco, centram-se em momentos de transições absurdas e irreversíveis
[caption id="attachment_27675" align="alignright" width="300"] Em seus contos, Tiago Velasco conduz a realidade e a ficção a um efeito transformador Foto: Guilherme Lima[/caption]
Sérgio Tavares
Especial para o Jornal Opção
Há uma desnaturação recorrente nos contos de “Petaluma”, de Tiago Velasco. Personagens e lugares que se divorciam de suas características originais, transfazendo-se, coisificando-se. A única exceção fica por conta da narrativa que fecha e dá nome ao livro. Nela, o autor remonta um curto período de angústias e de incertezas, oferecendo ao leitor um relato cortante, no qual a realidade se impregna de ficção para ocultar nomes e traduzir sentimentos.
Tiago, o narrador-personagem em intercâmbio num país de língua inglesa, vai trabalhar como busboy no restaurante Petaluma. Atacado pelo desterro, pela condição de latino em meio a outros latinos que extraem de subempregos uma chance de redirecionar a vida, ele se vê escudado pela ideia redentora de ser jornalista e escritor. Chega a colaborar com sites e revistas sobre música, porém, gradualmente, a experiência se torna um trauma, cujo efeito irá ruir o relacionamento com uma namorada que viajou consigo e, ao contrário dele, não fraquejou e foi “engolida pela cidade”.
Ainda assim, o fato de o conto existir mostra que, a despeito do ressaibo, o autor-personagem cumpriu seu objetivo. Talvez, ele tenha diluído sua identidade por um momento, mas, logo à frente, a reconsolidou –– diferentemente dos demais textos em que a transformação é fatal e irreversível. Se em “Petaluma”, o conto, o autor lida com a verdade, o restante da antologia flerta com o absurdo. Um estranhamento penetrante, um não pertencimento que anula.
“A morta de São José”, cuja premissa se aparenta a do conto “A cabeça”, de Luiz Vilela, situa-se neste terreno movediço. Ali, igualmente estão “Em pedaços”, sobre um homem que acorda desmemoriado num hospital e sai pelas ruas à cata de si, e “Reflexo”, um retrato hedonista de como quebrar o ócio pode ser aterrador.
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Os contos de “Petaluma” guardam o compromisso de defender uma proposta e se saem tão bem quanto o autor, seguro na construção e na condução de sua prosa Foto: Reprodução[/caption]
Velasco adiciona doses sutis de um tipo rascante de humor em seus textos. É o que pode ser conferido no surreal “... a dois”, sobre um casal que, ao completar 40 anos de matrimônio, desperta com as pontas dos dedos da mão de um coladas nas do outro. O final é surpreendente e divertido, num estilo Monty Python de diversão.
“Estrangeiro” e “Ernesto/Andrezza” são os pontos altos, sobretudo se o leitor morar ou conhecer bem o Rio de Janeiro. O primeiro satiriza os roteiros turísticos pela cidade na pele de um carioca que, sem perceber, começa a estrangeirar. Já o segundo segue a rotina de um travesti que sonha em encontrar, entre os clientes, um “Brad Pitt para lhe sustentar”. Quando o acha, porém, o amor confronta-se à condição de ser uma mulher no corpo de um homem.
Apesar de não estabelecerem uma unidade temática, os contos de “Petaluma” guardam o compromisso de defender uma proposta e se saem tão bem quanto o autor, seguro na construção e na condução de sua prosa.
Leia um trecho de “Petaluma”, conto presente no livro de mesmo nome, do escritor Tiago Velasco:
"Hoje, nove ou dez anos depois, vejo Petaluma como a reunião das minhas neuroses. Não percebia naquele período. Não percebi durante esse tempo todo. Agora enxergo. Estou mais claro. Concreto. Não mais um fantasma. Aquele ser que passou por Petaluma.
*
1.
Acordei com o alarme polifônico do celular pré-pago compartilhado com Ela. Oito da manhã. Dormi já era mais de uma. Dois períodos de trabalho no dia anterior. Normal em Petaluma. Motivo de satisfação pra maior parte dos colegas de trabalho: money, plata, grana.
Enrolar mais um pouco na cama era impensável. Após despertar, uma energia dolorida e incômoda perpassava o corpo inteiro. Joelhos, cotovelos, calcanhares, nódulos dos dedos, as articulações existentes em mim concentravam a dor e a replicava. Ossos e veias, highways. A consciência do corpo, traumática e premonitória.
Uma hora para o banho, o café da manhã — uma fatia de pão integral com margarina I can’t believe it’s not butter e queijo, um copo de leite com chocolate em pó —, a roupa mais quente que tivesse no armário azul claro, a caminhada até o metrô suburbano, a espera pela composição da linha R, as três estações, o ônibus, uns quarteirões a pé. Menos quinze graus Celsius lá fora. E aqui, nos seis metros quadrados que divido com Ela, dentro de um apartamento de dois quartos de paredes de papel, o heater tornava o ambiente menos hostil.
A culpa, o medo, o fracasso iminente, a distância da pátria, a ausência eram reforçados toda vez que adentrava a porta de vidro de Petaluma. Ser um vencedor, como a cultura local solicitava, estava a léguas de mim, ali, no salão, rodeado de mesas e recém-colegas que dividiam tips, propinas, gorjetas.
Good morning, busboy. An expresso, please, dizia a manager russa quando não havia sonhado com Stalin e acordava de bom humor.
Good morning.
2.
Ao deixar todos pra trás, ainda no aeroporto, qualquer sensação de acolhimento se foi. O sujeito punk, ao encontro da terra punk, perdeu o moicano na apresentação da passagem à funcionária da companhia aérea. As primeiras lágrimas apareceram logo que eu e Ela saímos da vista dos nossos familiares. Não teria forças praqueles quatro ou cinco meses. A certeza veio antes de sacar o passaporte. E me apoiei n’Ela como gostaria de me apoiar agora. Deve ter visto o medo. Ainda não a sobrecarregava. Questão de tempo. Ela não suspeitava que ia cuidar de mim. Eu tinha certeza. Calei-me.
OBS 1:
Cheguei quase tão cedo quanto àquele dia, nove ou dez anos atrás. Sol fraco. Frio menos repulsivo. Em meio ao monóxido de carbono que saía dos escapamentos de táxis
e ônibus, um cheiro de não-sei-de-quê me trouxe aquele tempo de neuroses. Diferente. Os anos. Eu. O momento. Onde estará Ela?"
Título: Petaluma
Autor: Tiago Velasco
Editora: Oito e Meio
Valor: R$ 35,00

Nascido em 2 de fevereiro de 1915, José J. Veiga se fez eterno com suas obras; tanto que a Companhia das Letras, uma das maiores editoras do país, publicará o conjunto completo de seus escritos. A entrevista, abaixo, traz um pouco desse grande literato
[caption id="attachment_27630" align="aligncenter" width="520"] Se todos cantam a sua ferra, o escritor goiano José J. Veiga optou por cantar a terra de todos, inventando mundos que moram na imaginação, mas teimam em ser um poético espelho a refletir as estranhezas que a realidade disfarça. Foto: Reprodução[/caption]
José Maria e Silva
Atravessia do Paranaíba é um sonho comum à maioria dos escritores goianos. Concretizar a travessia do Atlântico foi a ousadia de José J. Veiga. Um dos escritores brasileiros mais traduzidos no exterior, Veiga, às vésperas dos 80 anos, que completa em fevereiro, continua produtivo — dedica-se a traduções e escreve seu novo romance, do qual procura fazer todo segredo possível, como é de seu feitio. O livro deve ser publicado ainda este ano, com o selo da Difel, o mesmo das outras obras do escritor.
Desde que se aposentou como redator na Fundação Getúlio Vargas, Veiga passou a escrever todos os dias, religiosamente. “Escrevo durante várias horas por dia", conta ele. Antes, sua produção se limitava às madrugadas e fins de semana, quando não estava trabalhando. Ele confessa que tem suas manias. Uma delas é não escrever em computador — prefere a velha máquina de escrever. "Não posso confiar em um aparelho que não conheço", brinca. Até a máquina às vezes o irrita: "Acho que ela está fazendo barulho demais, então passo para a caneta. Aí, a caneta pega a arranhar. Então, troco de caneta ou volto para a máquina".
José J. Veiga demorou a publicar seu primeiro livro. Tinha 44 anos quando estreou, em 1959, com “Os Cavalinhos de Platiplanto”. A crítica, capitaneada por Wilson Martins, fez festa. Martins considerou a obra como um novo veio ficcional aberto na literatura brasileira. Murilo Rubião, com os contos de O Ex-Mágico, havia inaugurado o fantástico na literatura brasileira, em 1947, mas Veiga recriaria o fantástico à sua maneira. Um fantástico sem intelectualismos, simples e profundo como a natureza.
O sucesso de crítica veio acompanhado do sucesso de público, como demonstram as sucessivas edições de “Os Cavalinhos de Platiplanto”, “A Hora dos Ruminantes” e “Sombras de Reis Barbudos”. Veiga tomou-se o principal autor da Difel, espécie de carro-chefe da editora. "Todo mês chegam convites de outras editoras que querem publicar meus livros. Mas não saio da Difel. Estou nela há muitos anos. Criei uma relação de afetividade com a casa", conta o escritor, que recebe cartas de leitores espalhados em todo o mundo. "Tenho cartas até de leitores tchecos", diz ele, que se confessa emocionado cada vez que descobre a emoção de um distante leitor em face de um livro seu.
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Casado com Clérida, a quem dedicou “A Hora dos Ruminantes” ("com amor", segundo reza a dedicatória na folha de rosto do livro), José J. Veiga conta que anda muito saudável. "Já fiz viagens recentes de carro a Goiás, eu mesmo dirigindo", conta. "Só não tenho ido mais a Goiás com a mesma disposição porque a Clérida anda meio adoentada." Clérida, ex-professora, tem 86 anos. Ela e Veiga, como Carolina Xavier de Novais e Machado de Assis, não tiveram filhos. “Mas não faço minhas as palavras finais das Memórias Póstumas de Brás Cubas. São muito pesadas", brinca Veiga. Mas, ao contrário de Machado de Assis, que nunca ficou à vontade com personagens crianças e preferiu quase que bani-los de sua obra, engendrando personagens sem filhos ou com filho único, Veiga é um especialista em falar de meninos. Poucos como ele conseguem penetrar com tanta pertinência no mundo das crianças. "Talvez porque a literatura que faço, cheia de indagações a respeito da vida, precise de crianças para protagonizar esse questionamento. O adulto pergunta menos, acha que sabe muita coisa", explica.
Veiga confessa que é um introvertido. Ao contrário do poeta João Cabral de Melo Neto, que considera "muito seco", ele adora música: "Gosto de praticamente todos os gêneros musicais, mas tenho predileção pela música de câmara". Diz que só não gosta de futebol e carnaval, porque (como Schopenhauer) detesta barulho.
Escreve sempre ouvindo música. "Gostava muito de ouvir a Opus 2, uma rádio aqui do Rio, mas ela acabou", conta.
Tudo que escreve costuma passar por umas quatro ou cinco versões, antes da publicação. "Da primeira vez, escrevo com mais fluência, sem me preocupar muito com detalhes. A primeira versão é mais ara ocupar papel, demarcar espaço. Se uma frase não me agrada, limito-me a sublinhá-la e toco para a frente. Depois, volto cortando, remendando, até chegar ao acabamento, depois de urnas cinco versões”, revela.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, que concedeu por telefone na tarde de segunda-feira, 16, José J. Veiga também falou de política, Plano Real e da literatura goiana e disse que, se continuar com a mesma disposição de agora, quer entrar o terceiro milênio produzindo.
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Tinha 44 anos quando estreou na literatura, em 1959, com “Os Cavalinhos de Platiplanto”. Foto: Reprodução[/caption]
O que o senhor está escrevendo?
Estou escrevendo um novo romance, que será publicado pela Difel. Mas não gosto de falar sobre o que estou escrevendo. Inclusive nunca mostro a ninguém meus originais. A não ser para minha mulher, que lê e, às vezes, dá algum palpite.
O senhor tem acompanhado a literatura goiana, o que se tem feito mais recentemente?
Tenho acompanhado, sim, mas muito, porque estou envolvido com o acabamento do meu livro. Acabei de ler há pouco um livro de poemas de Maria Lúcia Félix, “A Vida Dividida”, que achei muito bom. Ela escreve bem. Para mim foi uma grande revelação.
O senhor parece que também gosta dos contos da jornalista e escritora Eloí Calage.
Gosto. Ela escreve bem. Seu livro de contos, que ganhou um concurso no Paraná, é muito bem escrito.
Em sua última entrevista ao Jornal Opção, o senhor disse que está lendo “Sete Léguas de Paraíso”, de Antônio José de Moura. O que achou do livro?
Gostei. É um bom livro, bem escrito. Só acho que ficou goiano demais. Um pouco difícil de ser entendido por quem não é de Goiás e não conhece a história de Santa Dica.
O senhor conhece a ficção de Edival Lourenço e Itamar Pires, que têm conquistado espaço dentro e fora de Goiás?
Ainda não conheço a obra deles, não. Não tive oportunidade de ler nenhum livro deles.
O que o senhor achou da indicação de Bernardo Elis para a Fundação Pedro Ludovico, que poderá ser transformada em Secretaria da Cultura?
Para mim é uma novidade. Não sabia. Mas acho bom, apesar de ser meio avesso a esse negócio de Secretaria de Cultura. Confesso que não sei se a cultura precisa mesmo de um órgão governamental para cuidar dela.
O senhor já foi sondado pela Rede Globo para transformar alguma de suas obras em minissérie ou caso especial?
Não. Parece que minha obra ainda não chegou à Rede Globo. Já fui sondado duas vezes por um diretor de cinema, o Luís Sérgio Terson. Ele queria filmar “A Hora dos Ruminantes”, fizemos um contrato, mas a produtora faliu antes que fossem iniciadas as filmagens. Com isso o contrato venceu. Mas ele renovou o contrato para fazer o filme. Só que morreu num acidente automobilístico antes de começar.
O senhor já foi traduzido para quantos idiomas?
De cabeça assim, eu não me lembro, Mas foram muitos idiomas –– inglês, russo, servo-croata, tcheco, italiano, espanhol, sueco. Só nunca fui traduzido para o francês, não sei porquê.
O senhor fala ou lê em outros Idiomas?
Leio em inglês, francês e espanhol. Quando pego urna tradução de um livro meu em outro idioma, fico me indagando o que está escrito. A edição sueca de um dos meus livros é muito boa. A capa é muito bonita.
Algum de seus livros tem a sua predileção?
Sempre me fazem essa pergunta, principalmente quando vou a universidades. Mas ainda não deixei de gostar de nenhum deles. Gosto de todos. Cada um deles tem uma história, foram importantes num dado momento da minha vida. Agora, o público, sim. Esse parece que tem predileção por três livros meus: “A Hora dos Ruminantes”, “Os Cavalinhos de Platiplanto” e “Sombra de Reis Barbudos”.
Somando todas as edições de seus livros, quantos exemplares o senhor já vendeu?
Há uns dez anos, fiz essa conta. Deu cerca de 500 mil exemplares. De lá para cá, só “A Hora dos Ruminantes” já ultrapassou 20 edições. Acho que, somando tudo, se eu não tiver vendido um milhão de exemplares, estou perto disso.
Se o senhor tivesse ficado em Goiás, como ficaram Bernardo Elis, Carmo Bernardes e Eli Brasiliense, o senhor teria conquistado o prestígio nacional e internacional que conquistou?
Acho que seria mais difícil. Não me considero melhor escritor que eles, no entanto obtive um reconhecimento maior.
Com quantos anos o senhor saiu de Goiás?
Fui para o Rio de Janeiro com 20 anos. Ingressei na antiga Faculdade Nacional de Direito, me formei e passei a atuar na imprensa.
O que motivou sua ida para a Inglaterra?
Vi um anúncio em jornal informando que a BBC de Londres precisava de redator e tradutor para seus programas transmitidos em português. Fiz o teste, passei e fui para Londres. Quando cheguei lá, a guerra estava quase acabando. Tinha planos de ficar apenas um ano. A princípio só pensava em voltar. A vida numa Europa recém-saída da guerra era muito difícil. Mas acabei ficando cinco anos em Londres. Voltei em 1949 e retomei meu trabalho de jornalista.
Em quais jornais o senhor trabalhou?
O Globo foi o primeiro jornal em que trabalhei depois da minha volta. Fui, em seguida, para a Tribuna da Imprensa e, depois, para Seleções do Reader's Diggest. Trabalhei em Seleções até 1971, quando sua edição em português deixou de ser feita no Brasil para ser feita em Portugal.
O senhor só publicou seu primeiro livro, “Os Cavalinhos de Platiplanto”, aos 44 anos. Quando que o senhor começou a escrever?
Desde muito jovem, quando ainda estudava no Lyceu, em Goiás. Na década de 50, cheguei a mandar três contos meus para uma revista. Eram contos regionalistas. Mas, depois que já tinha entregue os contos, me arrependi. Peguei os originais de volta, dizendo que precisava dar uns retoques importantes e destruí todos eles. Quando fui para o Rio, fiquei briquitando, como se diz aí em Goiás, lutando para ganhar a vida, e acabei adiando um pouco a literatura. Comecei a publicar só em 1958, num suplemento literário do Jornal do Brasil Publiquei alguns contos lá. No ano seguinte publiquei “Os Cavalinhos de Platiplanto”, pela Editora Nítida, que foi muito bem recebido pela crítica.
Quais os seus autores preferidos, principalmente durante seu período de formação?
Havia um gabinete literário em Goiás que me possibilitou travar contato com os clássicos da literatura. Li muito Machado de Assis. Entre os estrangeiros modernos, fiquei entusiasmado com J. D. Salinger. Li muito Guimarães Rosa, sem dúvida um grande criador, um gênio. Nem tanto por “Tutaméia”, que não me agrada muito, mas pelo “Grande Sertão: Veredas”, as novelas de “Corpo de Baile” e “Primeiras Estórias”.
Que avaliação o senhor faz da crítica literária no Brasil?
Acho que está faltando urna crítica atuante na imprensa. Quando comecei a escrever, havia grandes críticos que atuavam constantemente na imprensa, como Otto Maria Carpeaux, Agripino Grieco, Álvaro Lins, Antônio Candido. Hoje, a crítica está mais restrita aos meios acadêmicos.
Em relação à crítica que é feita por professores universitários, o senhor não acha que, às vezes, ela é técnica demais e acaba se transformando em uma crítica de iniciados?
Concordo. A crítica universitária costuma, de fato, ser muito hermética, escrita numa linguagem para iniciados. Muitos professores ficam obcecados com essa coisa de significante e significado e se esquecem que, na literatura, o prazer é um princípio.
Essa crítica não pode acabar surtindo um efeito indesejado, fazendo com que os alunos dos cursos de letras percam o gosto pela leitura?
Acho, às vezes, que essa crítica muito esquemática dos cursos de letras pode até afugentar o aluno do convívio com a literatura. Muitos professores que se debruçaram sobre a minha obra encontram significados que nunca foram sequer imaginados por mim. Claro que algumas dessas interpretações procedem, mesmo não tendo origem numa intencionalidade do autor. Mas há aquelas que não se encaixam na obra. Há umas doze teses de mestrado sobre minha obra, em todo o Brasil. Uma das análises mais sutis que já fizeram dela é a de José Fernandes. Sempre que sou convidado a dar algum depoimento em universidades, dou uma lida nelas para explicar minha obra com as palavras dele.
O senhor já escreveu poesia?
Nunca escrevi poesia. Gosto apenas de ler Carlos Drummond de Andrade, Henriqueta Lisboa, Cecília Meireles e, principalmente, Jorge de Lima. Entre os estrangeiros, leio -muito W. H. Auden. De T. S. Eliot não gosto muito, o hermetismo dele, cheio de citações, não me agrada.
O senhor não citou João Cabral de Melo Neto entre seus poetas prediletos. Parte da crítica o coloca ate mesmo acima de Drummond em qualidade.
Não concordo. Acho sua poesia muito seca. Prefiro a musicalidade de Jorge de Lima, que, para mim, é um dos maiores poetas que o Brasil já teve. Releio sempre “A Invenção de Orfeu”. É um grande livro.
Por que o senhor nunca quis entrar para a Academia Brasileira de Letras?
Não é do meu feitio. A Academia não me atrai. Entendo que há pessoas que gostam dela, respeito essas pessoas, já fui até sondado para entrar na Academia, mas nunca quis aceitar.
A vida literária não o agrada? O senhor não tem grandes amigos escritores?
Tenho grandes amigos que não são escritores. Entre os escritores, sou muito amigo de Autran Dourado, João Antônio e Antônio Callado. Nós nos encontramos sempre, para tomar um chope, conversar, mas literatura não é nosso assunto preferido. É um pouco chato falar de literatura. Preferimos comentar sobre política ou outros assuntos variados.
Em quem o senhor votou na última eleição?
Votei no Lula.
O senhor não acredita no Plano Real?
Tenho minhas desconfianças. E elas são alimentadas por pequenos detalhes. Por exemplo: as primeiras moedas de centavos que foram criadas eram praticamente idênticas às moedas antigas. Isso mostra que quem as criou não estava confiando no plano. Deve ter pensado: "Essa moeda vai ter o mesmo destino das outras, não vai durar muito. Então, não adianta eu me esforçar para criar uma moeda diferente".
O que o senhor achou do ministério de Fernando Henrique Cardoso?
Espero que ele consiga contornar as influências do PFL. Mas não gostei da criação desse Ministério dos Esportes e da nomeação de Pelé. Foi uma atitude populista, desnecessária. Ele queria ter um negro no ministério, mas acabou sendo preconceituoso do mesmo jeito –– colocou o negro no Ministério dos Esportes.

A equipe do Jornal Opção revela, mais uma vez, as músicas que mais têm tocado no nosso radinho. Aumenta o som, Dj! Chitãozinho & Xororó (Participação Especial Fafá de Belém) –– Nuvem de Lágrimas Foals –– Inhaler Gilberto Gil –– Procissão Joao Donato –– Ahie Sam Smith ––Money On My Mind Jeff Beck –– Sleepwalk William Elliott Whitmore –– Johnny Law

Por Duanny Gumesson
Era ela, a aspirante a escritora. A escritora dos momentos de desabafo. Sentava na dura cadeira de madeira, lia alguns textos diversos, esvaía aquela breve inspiração e desistia. Precisava de bem mais que inspiração. Precisava de fatos, de gente, de sentimento, vida pra transformar tudo em um misto de palavras. Era quase um diário da menina. Digo, da pseudoescritora. O que não permite que os críticos ferrenhos digam que não há vida, ou verdade. Porque ela é toda verdade, toda vida, toda movimento, encanto, marcação.
Precisava de um start pra iniciar a sessão de textos do novo ano. E a melhor forma de iniciar escrevendo em um novo ano é falando sobre ele, claro. Teste, início, formas... Chegaram! Um dos encantadores da menina aspirante à escritora forneceu a matéria-prima pra brincadeira de palavras que ela queria elaborar. Era um texto sobre 2015. Um ótimo texto. Ela, então, saiu da crise criativa em que estava e produziu algo que era mais ou menos assim:
[caption id="attachment_27299" align="alignright" width="620"] Reprodução[/caption]
"Sem saber o que falar, não posso me dar ao luxo de não desejar um belíssimo ano aos meus companheiros fiéis. Andam dizendo por aí que 2015 será um bom ano. Concordo. Que será um ótimo ano. Concordo. Disseram que será o melhor ano. Discordo.
"O melhor ano da sua vida será 2015", ouviu de longe 2016, que contou para 2017, que repassou a informação pra 2018. Os três próximos anos ouviram e foram reclamar com as autoridades competentes (seriam os maias, talvez?). Chegaram, pegaram a senha e ficaram discutindo na sala de espera a pretensão de 2015. Se fosse 2015 o melhor ano de todos, era melhor que os próximos nem chegassem, porque 7 bilhões de pessoas iriam se lamentar pelo resto de suas vidas por não terem mais ótimos anos como aquele.
Chamaram a senha de número 15 e lá se foram os três anos revoltados, na ordem crescente. Chegaram à sala do Senhor Cronos –– coincidentemente (ou não), o mesmo nome do deus do tempo da mitologia grega. Explicaram a situação, Cronos os ouviu, atentamente, e silenciou. Os anos também calaram-se. O ruído calado incomodava aqueles elementos temporais todos.
Cronos levantou-se, acendeu um cigarro, olhou a vista da janela. Achou normal. Voltou-se para os três anos ali, revoltados. Apoiou seu cigarro no cinzeiro, desligou as luzes e ligou o datashow. Logo no começo apareceu o calendário maia. Perguntou aos presentes:
–– Sabem o que é isso?
–– Claro –– responderam em coro.
No próximo slide, os anos 2000 aparecem com a ilustração das panes nos sistemas informatizados. Cronos questiona:
–– Reconhecem? –– e eles responderam afirmativamente.
Cronos acelerou a velocidade de apresentação dos slides e mostrou, em sequência, o efeito Júpiter de 1974, a Ruptura de maio de 2011 e o Armagedon de 1914. Tragou mais uma vez seu cigarro, pousou-o no lugar apropriado, voltou-se para 2016, 2017 e 2018 e disse:
–– E então?
2015 disse, meio envergonhado, que achava não ter compreendido o que o responsável pelos tempos tentou transmitir.
Cronos sorriu e afirmou, conclusivamente, que estavam todos ali, discutindo acerca de um novo ano que iria acontecer de várias formas para várias pessoas. Podia ser que alguns aguardassem o fim, que outros alcançassem objetivos, que muitos iniciassem de forma otimista ou pessimista. Sonhos se realizariam em 2015, tragédias também. E assim seria em 2016, em 2017, em 2078. Porque não adiantaria os tempos se preocuparem, os personagens principais são humanos. Ou desumanos.
Os três anos subsequentes agradeceram a explicação de Cronos e deixaram a sala. Se olharam, sorriram. E perceberam que 2015 deixaria espaço e bons acontecimentos para todos os outros. Porque a vida é assim: expectativa, indecisão, decisão, sorte, amor, azar, companheirismo ou a falta dele, independentemente de quatro algarismos."
Assim sendo, a escritorazinha terminou. E esperou muito do 2015 dela, que, aliás, havia começado muitíssimo bem. E levava consigo muita esperança, amor, sonhos, alegrias pra viver aquele ano. E todos os outros. Queria tudo de bom pra quem amava, pra quem a fez se sentir bem nos anos anteriores e para quem ainda iria aparecer e colorir com diferentes motivos tudo aquilo.
Amazonense, Duanny Gumesson é escritora, formada em Letras, e pós-graduanda em Revisão de Texto e Educação a Distância

O Salão Santa Bárbara, em Pirenópolis, se enfeitará de guarda-chuvas e a culpa é toda de Conceição, uma senhorinha de 75 anos, que sobrevive na monotonia sem cor dos dias. Neste sábado, 31, ela descobre que “Quando se Abrem os Guarda-Chuvas”, a lembrança vem e lança aquelas perguntas todas sobre o amor, a vontade de viver, a esperança e, mais, lança aquela vontade de viver outra vez. Para clarear um pouco o céu ou, melhor, as coisas, “Quando se Abrem os Guarda-Chuvas” é um espetáculo do grupo teatral Farândola, que tem circulado Goiás, por meio do Fundo de Cultura do Estado. Às 20 horas, as portas do Salão se abrem a quem quiser ver os guarda-chuvas –– e, ó, vale dar um pulinho em Piri, se você vive aqui, em Goiânia e mais ainda se você vive em Anápolis ou próximo. “Basta estarmos vivos para suportar os obstáculos da vida”, diz Fernanda Pimenta, atriz que interpreta a Dona Conceição. É de graça, só entrar. E, para constar, Pirenópolis é a quarta das seis cidades escolhidas para a circulação –– o grupo já viajou com o espetáculo até para Portugal. No próximo mês, a galera do Farândola segue para Alto Paraíso e, depois, em abril, para Uruaçu.
Serviço
Espetáculo: "Quando se Abrem os Guarda-Chuvas" (Farândola Teatro)
Local: Salão Santa Bárbara, em Pirenópolis
Horário: 20h
Entrada: Franca

[caption id="attachment_27105" align="alignleft" width="200"] Divulgação[/caption]
O trailer da nova franquia de “Quarteto Fantástico” foi divulgado nesta terça-feira, 27. A Fox resolveu acabar com a espera e já mostrou muito do que será o reboot cinematográfico. E, olha, o tom é bem mais dramático. No novo elenco, Michael B. Jordan interpreta O Tocha, Miles Teller vive o Senhor Fantástico, Kate Mara é a Mulher Invisível e Jamie Bell dá vida a Ben Grimm, o Coisa. O diretor de “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”, Simon Kinberg, assina o roteiro do filme, que deve estar em cartaz em agosto.
https://www.youtube.com/watch?v=WdkzdYfnwlk

[caption id="attachment_27097" align="alignright" width="300"] Divulgação[/caption]
A música "FourFiveSeconds" da cantora Rihanna, lançado no sábado, 24, já está em primeiro lugar no Top músicas do iTunes. O hit não só surpreendeu os fãs por trazer Kanye West nos vocais e sir Paul McCartney no teclado, como também surpreende por ser uma balada acústica –– diferente dos outros trabalhos da cantora pop. A faixa é o primeiro single do álbum de inéditas que deve chegar às prateleiras ainda este ano. A canção veio três semanas após o rapper Kanye West divulgar “Only One”, também em parceria com o sir McCartney.
E se você ainda não ouviu, clica aqui.

[caption id="attachment_27044" align="aligncenter" width="300"] Reprodução[/caption]
Já que não é segredo algum que uma boa música ajuda qualquer um a escrever, a equipe do Jornal Opção resolveu aumentar o volume e espalhar para quem quiser ouvir as músicas mais tocadas na redação.
FKA twigs – Two Weeks
Gnarls Barkley – Crazy
Nine Inch Nails – Every Day is Exactly the Same
P!nk – True Love ft. Lily Allen
Rodrigo Amarante – Tardei
Taiguara – Que as Crianças Cantem Livres
The Avener, Phoebe Killdeer – Fade Out Lines
Victor Rocha – Exiled
Vinicius de Moraes e Toquinho – Pot-Pourri N° 3: O velho e a Flor - Veja Você - Mais um Adeus
Warpaint – Hi
Nessa época do ano o que se ouve são marchinhas, samba, axé. E quem não gosta, fica de fora da festa? Que nada! O Grito do Rock vem aí para fazer nosso Carnaval. Em Goiânia, o evento ocorre há 9 anos. Este ano, 54 atrações de diversos estilos musicais irão dividir palco no Centro Cultural Martim Cererê nos dias 14, 15 e 16 de fevereiro. O Grito Rock ocorre entre fevereiro e março. Em 2014, foram mais de 200 cidades, em 40 países, sendo 16 da América Latina. As portas do Martim irão abrir às 16h e os ingressos custam R$ 15.
Está na hora de sacudir a preguiça e voltar para os ensaios, afinal, a Petrobrás e o Ministério da Cultura dão a você a chance de se apresentar nos palcos espalhados pelo País. E, ó, sacode bem e rápido, pois as inscrições estão quase fechando. O prazo vai até às 16h59 desta sexta-feira, 30. O programa contempla projetos teatrais profissionais, não inéditos, nas categorias adulto e infanto-juvenil, com o valor de R$ 15 milhões para o biênio 2015/2016. Está tudo no site www.br.com.br/cultura. Corre lá!