Por A.C. Scartezini

Encontramos 258 resultados
Apesar do empenho em recuperar a imagem, a presidente não teve sorte durante a semana

Dilma começou a penar no domingo com os protestos e continuou a sofrer até sexta, quando o MPF abafou o pacote contra corrupção

A perda de prestígio presidencial chegou aos mais pobres e incluiu o Norte e o Nordeste

A rejeição ao governo Dilma subiu de 24% no começo de fevereiro para 62% no início da semana passada. A aprovação como ótimo ou bom desceu de 24% para aa metade, 13 pontos no mesmo período. Desde o governo Collor, nenhum presidente foi tão impopular. Ao ser afastado do Planalto, Collor tinha 68% de rejeição. A taxa mais alta de rejeição a Dilma ocorreu no Centro-Oeste, com 75% – antes da visita da presidente a Goiânia na quinta-feira. A seguir, o Sudeste, com 66%. A maior taxa de aprovação pertence ao Norte, com 21% — contra 51 de rejeição. A seguir vem o Nor­deste, onde 16% aprovam contra a maioria de 55%  que rejeitam. Entre as pessoas com renda até dois salários mínimos, a rejeição é de 60%, quatro vezes superior aos 15% que aprovam. Entre os dois e cinco mínimos, a rejeição é quase sete vezes maior: 66% contra 10. Acima de 10 mínimos, a proporção é menor: 65% a 14. Entre 5 e 10 mínimos, a proporção é a mesma dos mais ricos: 65% a 13.

Os protestos de rua, a queda da simpatia de Dilma e a CPI da Petrobrás alarmam o PT

“Esta reunião é sigilosa”, avisou previamente o presidente do PT, Rui Falcão, ao grupo de mais de 20 deputados do partido com que se encontrou, na quarta-feira, para discutir sobre o depoimento do tesoureiro petista, João Vaccari Neto na CPI da Petrobrás. “Peço que os senhores não tuítem o que for conversado”, redobrou o apelo. “Assim, ficamos mais à vontade.” Ao justificar a cautela, Falcão se referiu ao estrago que causou ao governo o vazamento, na véspera, do documento da Secretaria de Comunicação Social do Planalto com críticas à presidente Dilma e sua gestão. “Vocês viram aquele documento que vazou do Planal­to?”, abriu a conversa com a pergunta como exemplo da necessidade de discrição. O tesoureiro ainda não foi convocado pela CPI, mas os deputados consideraram inevitável a convocação porque o PT está isolado na comissão desde o começo por causa da aliança do PMDB com a oposição no confronto atual com o Planalto. Os petistas temem que a fala de Vaccari diante da CPI conduza a fatos que comprometam Lula e Dilma no petrolão. Como forma de contrapor-se, Falcão consultou os deputados sobre a possibilidade de serem convocados também tesoureiros de outros partidos — repetiu a fórmula gasta de dividir responsabilidades com outros em casos suspeitos do PT. Os deputados o convenceram a nem tentar porque a comissão não apoiaria a ideia, como relatou repórter Pedro Venceslau. Então Falcão disse que Vaccari poderia contornar a convocação ao oferecer-se para depor espontaneamente. Responderam que isso não aliviaria a tensão no interrogatório da comissão. “O Vaccari já está sendo preparado”, comunicou aos deputados que o partido está ensaiando o tesoureiro para encarar a CPI com o mínimo de estrago possível para o PT. Os petistas temem que o ambiente adverso a Vaccari se intensifique na Câmara na medida em que os deputados possam se valer de outros desgastes do governo durante a semana, como as marchas de protestos em todo o mapa nacional e a queda do prestígio de Dilma constatada pela pesquisa do Datafolha. Será uma boa oportunidade para deputados mostrarem serviço ao país.

Quando a sabotagem ao Planalto feita dentro do próprio palácio pode compensar ao infiel

[caption id="attachment_31196" align="alignnone" width="620"]Secretário Thomas Traumann: documento vaza e ele viaja Secretário Thomas Traumann: documento vaza e ele viaja[/caption] Responsável pela denúncia do “caos político” no governo, o jornalista e companheiro Thomas Traumann se habilitou a uma provável promoção nesta semana: a troca da Secretaria de Comu­ni­cação Social no caótico Palácio do Planalto da presidente Dilma, pela estabilidade da assessoria correspondente na Petrobras. A troca seria vantajosa. O ambiente na petroleira oferece mais sossego. A agitação do petrolão não é problema na empresa, pois se repete no Planalto, onde a tendência a envolvimento em escândalos promete crescer. Sem falar nos protestos de rua que se dirigem contra o palácio, como a pressão pelo impeachment da presidente. O caminho à provável ascensão de Traumann foi aberto na quinta-feira, com a demissão do companheiro Wilson Santarosa na chefia gerência de comunicação há 12 anos. Ele, com origem sindical, desembarcou na Petrobrás quando o companheiro Lula assumiu o governo em 2003. Quer prova maior de estabilidade? Vale pelo menos enquanto não surgir outro Traumann em governo do PT. Amanhã, segunda-feira, termina a folga de seis dias que o secretário Traumann combinou com a presidente Dilma para ir aos Estados Unidos acompanhar o tratamento médico de uma irmã. Na volta, terá de explicar a coincidência entre a viagem e o vazamento do documento com a crítica mais dura do PT à comunicação do governo. Mas isso não deve ser problema. Tudo se passou no fim da tarde de terça-feira. Enquanto o secretário carregava a mala, o Datafolha se preparava para publicar a nova pesquisa que confirmou a implosão no prestígio de Dilma dois meses e meio depois da posse no novo mandato. A rejeição era de 24% no princípio de dezembro e chegou a 62 pontos no começo da semana passada. Era como se a pesquisa fundamentasse o radicalismo da crítica que surgiu no próprio aparelho jornalístico do Planalto, numa falta de sintonia entre a comunicação do governo e a militância do PT. Um divórcio causado pela corrupção, palavra usada mais de uma vez no papel que transitou do palácio para a imprensa, sob o tratamento informal que companheiros se concedem: “De um lado, Dilma e Lula são acusados pela corrupção na Petrobrás e por todos os males do país. Do outro, a militância se sente acuada pelas acusações e desmotivada por não compreender o ajuste na economia.” Tudo bem, o papel seria apenas para conhecimento interno do palácio, mas vazou num momento de coincidências na fase mais crítica dos quatro anos e dois meses de gestão de Dilma. Veio ao público e expôs a oposição interna no palácio ao ajuste da economia com a redução de direitos trabalhistas. No contexto, mais uma referência a corrupção. “A mudança nas regras do seguro-desemprego, o desastrado anúncio de cortes do Fies, o aumento da gasolina e energia, e do massacre das TVs com as denúncias de corrupção na Petrobras geraram entre dilmistas um sentimento de ‘abandono’ e ‘traição’”, denunciou o documento. Abandono e traição. A divisão do PT a partir do racha entre Lula e Dilma, acentuada pela falência de governo que impôs à presidente esquecer seu antigo modelo econômico e buscar um novo projeto fora dos quadros petistas, com a incorporação dos novos ministros da Fazenda e do Planejamento, Joaquim Levy e Nelson Barbosa. No conflito, Traumann assumiu uma posição. A crítica que está no texto da Comunicação não leva assinatura do autor, além de vazar. Mas quem poderia ser o responsável na secretaria?  A autoridade pertence ao secretário Thomas Traumann, que bateu asas para o exterior em momento crítico à presidente, vítima, como o PT, das marchas de protestos que foram às ruas dois dias antes. O secretário abandonou ou traiu a chefe? Em dezembro, quando Dilma reorganizava a equipe depois de reeleita, era certo que não estava em seus planos a renovação do contrato de Traumann. Mas ele foi ficando no palácio. Apenas em fevereiro a presidente formalizou a permanência do secretário, um mês depois de novo governo. Ele poderia se sentir abandonado e traído? O documento da Comunicação poderia ser aquela autocrítica de governo que Dilma se recusa a fazer? Não, a presidente ainda não chegou a esse estágio. Em sua longa entrevista a repórteres na segunda-feira, ela ensaiou uma autorrevisão. Mencionou nove vezes a palavra humildade como uma postura pessoal a ser adotada, mas ainda não chegou nem a isso na prática.

Com a disputa de poder no governo, o PT de Lula tenta se isolar da sucessora impopular

[caption id="attachment_31191" align="alignleft" width="250"]Dilma deveria intensificar os conflitos, segundo petistas Dilma deveria intensificar os conflitos, segundo petistas[/caption] O documento que vazou na Se­cre­taria de Comunicação Social da Presidência animou uma ação dentro do PT que procura afastar Lula de desgaste com o ajuste fiscal da pre­­sidente Dilma, a quem lulistas a­cu­sam de se tornar impopular por conta da mudança econômica conservadora, mais a deficiência na mon­tagem de um sistema de mídia a­de­quado em apoio ao governo petista. A impopularidade da presidente teria a ver com a falta de mídia mais manipulável, com verbas ou apoio aos recursos de comunicação disponíveis no aparelho do governo. Seria uma maneira de conter a independência dos veículos. Por isso, o documento oferece a Dilma a receita para “virar o jogo” com maior exposição em público, “não importa quantos panelaços eles façam”. O estímulo a Dilma para desafiar a hostilidade da oposição nas ruas com seus panelaços seria um tiro no pé da própria. Uma forma ma­quiavélica de enfraquecer a presidente mais ainda, além de forçá-la a martirizar-se. Em benefício de quem? De Lula? Bem, ele seria poupado. Ficaria no bem-bom do lar e do escritório, entre os seus. A sucessora seria o boi de piranha. Mas quem seriam aqueles que promovem o panelaço, como está no documento? São as pessoas que saem às ruas em marchas de oposição ao governo. Eles são o mal. Os companheiros do PT são o bem. A estratégia proposta a Dilma é a de intensificar os conflitos, a dissensão social. Com a disseminação de confrontos, militâncias poderiam ser milícias. Revolucionariamente. A segunda parte da virada do jo­go viria com a unificação dos serviços de mídias do governo. “É preciso consolidar o núcleo de comunicação estatal, juntando numa mesma coordenação ‘Voz do Brasil’, sites, twitter e facebook dos ministérios, facebook da Dilma e Agencia Brasil”, sugere o texto, que inclui também o aparelho dos ministérios e estatais. O foco da ação do aparelho seria São Paulo, território tucano onde o PT é fraco. Seria algo em parceria com o prefeito e companheiro Fernando Haddad, como justifica o documento com um laconismo que torna a recomendação pouco clara, pobre em matéria de comunicação social: — Há uma relação direta entre um e outro. Observe-se que o ajuste fiscal de Dilma recebe progressivamente a condenação pública de comunicadores que passaram por Brasília a serviço de governo petista. Todos eles paulistas e militantes lulistas, como Traumann. Acusam a presidente de não montar um aparelho de comunicação que agregue apoio jornalístico ao governo e integre todos os meios públicos à disposição. “Instrumentos de comunicação o governo hoje tem de sobra”, escreveu Eugênio Bucci em artigo, como se os recursos não existissem quando presidiu a antiga Radiobrás na era Lula. “Pagos a peso de ouro. As somas são bilionárias. Não foi por falta de máquina de propaganda que a classe média foi às ruas no domingo”, completou Bucci. Também em artigo de jornal, André Singer atribuiu a Dilma uma contradição entre palavras e atos que “constitui perigosa sequência daquela produzida por uma campanha à esquerda e a montagem de um ministério à direita.” Escreveu Ricardo Kotscho que “o governo Dilma 2 está se acabando sozinho, numa inimaginável autodestruição.”

O pudor do PSDB ao sair às ruas e a franqueza de Dilma ao citar o termo impeachment

A cautela dos tucanos em relação aos protestos contrasta com o impulso da presidente ao referir-se ao próprio impedimento

Ao tentar um rumo para os tucanos, FHC se perdeu pelos caminhos entre as crises

O ex-presidente FHC ensaiou, em entrevistas no começo da semana, a construção de um rito de passagem para os tucanos se ajustarem aos protestos e pedidos de impeachment de Dilma. Era uma tentativa de encontrar um rumo para os companheiros que se reuniriam na quarta-feira para decidir a posição do partido diante das manifestações. “A rua, neste momento, não é dos partidos, é do povo”, recomendou que não se contaminasse partidariamente as manifestações populares. Seria uma maneira de assegurar legitimidade às mobilizações e afastar alguma especulação sobre o oportunismo dos partidos. Aí, o tucano caiu num impasse. “Também não se pode deixar que a sociedade avance sozinha”, recuou FHC. Ele não disse, mas se deduz que, se a oposição não participa, a evolução da massa nas ruas em confronto com o governo pode atrai-la, demandar a intervenção de partidos. Soltas, as massas são capazes também de atropelar as legendas. Então, o que fazer? Uma das opções tucanas é deixar que a presidente e o PT se desgastem sozinhos ao longo do aprofundamento das crises, mais o processo de manifestações que pretende ser contínuo, sem data para acabar. A adesão ao pedido de impeachment seria uma decisão radical não recomendável, pensou o ex-presidente: — Impeachment é como bomba atômica, é para dissuadir, não para usar. E se a dissuasão não causar efeito, se a presidente não renunciar, poderia se perguntar a FHC. “Tirar Dilma não adianta nada”, sugeriu nas entrevistas que, antes, os partidos precisam ter um projeto comum sobre o que fazer para oferecer consequência ao eventual vácuo presidencial. Seria a discussão de uma pauta sobre “como melhorar a situação política, econômica e social”. A agenda só “não pode ser um conchavo” entre partidos, aconselhou. Sumariamente, isolou o PT de Lula quanto ao acordo entre partidos para desatar o nó entre o povo e o governo: — Ele quer é acusar. Ele é o bom, nós somos os maus. Então, não há como dialogar com quem não quer dialogar.

O novo conselho político do Planalto soa como teste de um curativo de emergência

[caption id="attachment_30680" align="alignnone" width="620"]Ministro Pepe Vargas, o ineficiente: Lula recomendou a saída dele  | Foto:  Elza Fiúza/Agência Brasil Ministro Pepe Vargas, o ineficiente: Lula recomendou a saída dele | Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil[/caption] Os conselhos políticos que a presidente Dilma compõe e recompõe são curativos que o palácio convoca para resolver problemas de relacionamento com os partidos aliados, mas sem alterar uma contradição na estrutura de governo: o presidencialismo é de coalizão, porém não governa com a coalizão. Não se pode esperar eficácia ou vida longa do novo conselho. Há a centralização da presidente que não oferece espaço à divisão de decisões com os partidos da coalizão. Nem o PT merece a confiança de Dilma para uma participação que vá além da audiência a petistas mais simpáticos à presidente. A rejeição ao novo conselho continua a incluir petistas, como Lula, que recomendou o afastamento de Aloizio Mercadante da chefia da Casa Civil. Sugeriu que o companheiro se limite à assessoria da presidente nas questões administrativas do governo. Seria a aposentadoria de Mercadante como costureiro político, pois sua obra não funciona. Em jantar no Alvorada, na terça-feira, Lula também discordou de Pepe Vargas como o articulador político formal na qualidade de secretário de Articulação Insti­tucional. Sugeriu que o lugar seja entregue a alguém mais hábil. Acontece que Vargas é um dos gaúchos queridos de Dilma que estão na assessoria do palácio. Este é outro problema: a dificuldade da presidente em assimilar pressões que a coloquem em posição subalterna, como a intervenção de Lula. De quebra, Dilma se ofende com o questionamento de capacidade em formar quadros adequados à qualidade da tarefa de cada um no governo. Enfim, há um círculo vicioso recorrente. Aliados conspiram contra a coalizão que não oferece aos sócios a cota de poder a que se julgam merecedores. Assim, o PMDB está na raiz da nova reforma no conselho. O grupo tinha seis conselheiros, todos eles companheiros no PT. Agora, Dilma acrescentou mais três, sem aumento de qualidade. Trouxe o secretário de Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB); e os ministros de Cidades, Gilberto Kassab (PSD), e da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB). Nenhum se destaca na articulação política. Se Kassab criou o seu partido e queria fazer mais um para ajudar Dilma, contou com o oportunismo de políticos insatisfeitos nas antigas legendas. E o PMDB com isso? O partido não se julgará mais aquinhoado com a presença de Padilha no grupo. Não muda nada. Antes, a presidente prometeu a Lula instalar no conselho o vice-presidente Michel Temer, líder dos peemedebistas. Depois, reuniu o grupo duas vezes sem chamar o vice. Temer não quis mais participar do conselho. Alegou-se que o vice não teria autoridade, por exemplo, para impor o alinhamento com o Planalto do presidente do Senado, Renan Calheiros. E Padilha, tem ainda menos ascendência sobre o senador. Em seguida à ampliação do grupo, Calheiros acusou o governo de envelhecer quanto à consistência das relações com os aliados: — A coisa da aliança, ela precisa ter um fundamento. Esse governo parece que envelheceu. Porém, antes que a semana se encerrasse, a presidente reconheceu que Temer tem sua serventia. Com medo de novas hostilidades públicas, Dilma desistiu de ir a Belo Horizonte na sexta-feira. Pediu que o vice fosse em seu lugar ao lançamento em Minas de uma campanha contra a violência doméstica, no Tribunal de Justiça.

A presidente recebeu Toffoli apenas depois de saber que ele julgará o petrolão

[caption id="attachment_30676" align="alignnone" width="620"]Dias Toffoli: como vai votar o petrolão, Dilma afinal o recebeu | Foto: Nelson Jr. / Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli: como vai votar o petrolão, Dilma afinal o recebeu | Foto: Nelson Jr. / Supremo Tribunal Federal[/caption] Há quase um ano, o ministro Dias Toffoli pediu uma audiência com a presidente Dilma, antiga companheira no PT de ambos, sem receber resposta. Dis­cretamente, ele se queixou entre colegas do Supremo Tribunal Federal, mas nem por isso revidou em seus votos como juiz que interessavam ao governo. Na terça-feira, uma composição entre ministros da casa articulada por Gilmar Mendes se consumou, à noite, com a permissão a Toffoli para trocar de turma nos julgamentos do tribunal. Saiu da primeira e foi para a segunda, num movimento que lhe permitirá presidir, com mandato de um ano, o julgamento da maioria dos processos do petrolão. No começo da manhã seguinte, uma alteração na agenda da presidente ofereceu a Toffoli a audiência que não acontecia há meses e meses. Havia uma visita de Dilma, naquela quarta-feira, a Rio Branco, no Acre. Mesmo assim, o palácio abriu um espaço para Toffoli estar com ela às 9 horas, como primeiro compromisso da presidente no dia. Trinta e quatro minutos antes, às 8h26, a mudança na agenda foi comunicada aos repórteres que cobrem o palácio. Mais tarde, em Rio Branco, Dilma disse aos jornalistas que a alteração da agenda foi possível por causa da diferença no fuso horário com o Acre, onde os relógios marcam duas horas a menos do que em Brasília. Nomeado por Lula em 2009, Toffoli, antigo advogado do PT e assessor jurídico de José Dirceu na Casa Civil do presidente, desembarcou no Supremo no fim daquele ano a tempo de participar do julgamento do mensalão, onde reforçou a bancada de ministros amigos do governo. Ao lado do atual presidente Ricardo Lewandowski. Agora, vai ao petrolão. A articulação de Gilmar Mendes para a mudança de turma seria para evitar que Dilma preenchesse a vaga então existente entre as cinco cadeiras da segunda turma com alguém que fosse nomeado para o Supremo marcado pelo estigma de ser juiz no petrolão. Aí, não faz diferença. Toffoli já teve oportunidades de reiterar a fidelidade ao PT. Faz mais sentido considerar que o preenchimento da quinta vaga impedirá que as votações da turma sejam feitas apenas entre os quatro ministros que lá já estavam. Com o número par de juízes, seria comum o empate nas votações, o que beneficia os réus. No caso dos presidentes do Senado e da Câmara, senador Renan Calheiros e deputado Eduardo Cunha, o julgamento será no plenário entre todos os ministros, com direito a televisão, como no mensalão. Antes da criação das turmas, que funcionam em salas menores. Mas a conversa entre Dilma e Toffoli não abrangeu o julgamento do petrolão, garantem ambos e os outros dois companheiros que participaram do encontro: o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. O assunto levado por Toffoli seria a adoção do registro civil único, em que um novo documento do cidadão passa a substituir todos os outros. O caso de Toffoli foi a segunda articulação entre ministros do Supremo nas últimas semanas. No fim de fevereiro, outra combinação levou o colega decano Celso de Mello a protestar contra a demora de Dilma em preencher a vaga existente no tribunal há quase oito meses, desde a aposentadoria voluntária de Joaquim Barbosa. Na época, a presidente, que não gosta de cobrança, não se tocou. Então veio a segunda trama para pressionar o Planalto, onde até se lembrou do pedido de audiência de Toffoli, que adormecia numa gaveta. Questão prontamente resolvida.

Dilma dividiu a base do governo mais ainda ao tentar aglutinar os partidos para aprovar o ajuste

Lula nem voltou a Brasília para ajudar a presidente a vender o arrocho, todos abalados com a lista de Janot sobre os políticos mencionados na Lava-Jato

Vácuo na articulação política do governo fortalece o PMDB na busca de controle da Lava-Jato

[caption id="attachment_30259" align="alignright" width="620"]Procurador-geral Rodrigo Janot: recondução ao cargo está em risco | Foto: Elza Fiuza/ Agência Brasil Procurador-geral Rodrigo Janot: recondução ao cargo está em risco | Foto: Elza Fiuza/ Agência Brasil[/caption] Ao assumir o poder de fato diante da impotência da articulação política da presidente Dilma, o PMDB tenta desalojar o procurador Rodrigo Janot da chefia da Procuradoria Geral da República numa operação para controlar a evolução da Operação Lava-Jato no Judiciário. Coube ao presidente do Senado, Renan Calheiros, dar a entender que a ideia é afastar Janot antes de setembro, quando vaga o cargo. Como Janot é candidato à recondução dentro de seis meses, o senador sugeriu a desincompatibilização do procurador para disputar a indicação ao novo mandato entre seus colegas do Ministério Público, quando elaboram a lista de candidatos proposta à Dilma, cujo PT é o partido mais comprometido com o petrolão. A jogada do PMDB inclui a escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal. A ideia de Calheiros, incluído por Janot na lista de autoridades cuja vinculação com o petrolão será apreciada pelo Supremo, tornou-se clara quando ele, na quinta-feira, interveio numa discussão, no Congresso, sobre a emenda constitucional que obriga o candidato à reeleição a desincompatibilizar-se previamente do cargo. Na fala, o senador comparou a desincompatibilização à situação do procurador: “É uma prática que devia valer para todas as eleições do Exe­cu­tivo e até mesmo do Ministério Público. Nós estamos com o procurador-geral da República em processo de reeleição para a sua recondução. Quem sabe se, nós, mais adiante, não vamos ter também que, a exemplo do que nós estamos fazendo com as eleições do Executivo de regrar esse sistema que o Ministério Público tornou eletivo?” A mudança nas regras exposta por Calheiros poderia acontecer logo por iniciativa do próprio MP, que adotou a eleição. Além disso, o próprio Janot poderia ser constrangido a desincompatibilizar previamente por iniciativa pessoal. Enfim, fica um recado, pouco sutil, à presidente Dilma para não reconduzir o procurador se ele estiver na relação do MP. Mas afastar Janot não é tudo para o PMDB de Calheiros e do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, que está pautando as ações do Planalto ao assumir a agenda de iniciativas de Dilma, sem energia política para se impor. Os peemedebistas também estão de olho na indicação do novo ministro do Supremo para a vaga de Joaquim Barbosa. A vaga ocorre na turma do tribunal que julgará o pessoal do petrolão. São cinco cadeiras no grupo. Em qualquer julgamento dos ministros ali será fácil o empate de dois a dois. No caso de empate, o réu é absolvido. É cômodo ao acusado precisar de apenas dois votos, mas se o quinto nome for de amigo dos petroleiros, haverá mais confiança. Calheiros e Cunha, outro peemedebista mencionado por Janot, não ficariam chateados se a escolha ficar com Luís Felipe Salomão, quase 52 anos, baiano que se fez profissionalmente no Rio e atual ministro do Superior Tribunal de Justiça. Ao assumir ali, Salomão agradeceu a colaboração de dois cariocas, Eduardo Cunha e o ex-governador Sérgio Cabral em sua indicação. Se continuar no STJ, apreciará a inclusão no petrolão do governador Luiz Fernando Pezão, outro peemedebista do Rio. Mas a presidente Dilma, se não tinha pressa em preencher a vaga no Supremo, agora deve pensar melhor. Se não aprovar a indicação, Calheiros poderá derrubar o candidato com um peteleco, no Senado, em votação secreta. O senador tem mesmo de ser exigente: o novo ministro poderá apreciar o caso dele e outros sete colegas apontados por Janot. Não é nada, eles são 10% dos 81 senadores.

A sociedade pode exercer, nas ruas, o poder moderador no choque entre o Planalto e o Congresso

[caption id="attachment_30255" align="alignright" width="620"]Fernando Henrique Cardoso,  ex-presidente da República:  não ao grito de “fora, Dilma” | Foto: Renato Araújo/ABR Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República: não ao grito de “fora, Dilma” | Foto: Renato Araújo/ABR[/caption] Ao sair às ruas no próximo domingo, a manifestação contra a presidente Dilma terá como cenário o impasse entre dois poderes no centro da crise geral. Débeis, um procura se robustecer ao explorar a fraqueza do outro. O Planalto tenta se alimentar no envolvimento do Congresso com o petrolão. Na outra mão, os congressistas, para ganhar mais poder, valem-se da impotência de Dilma na gestão das crises. O choque entre os dois poderes poderá ter a sociedade como poder moderador a partir do movimento nas ruas pelo impeachment da presidente, solução radical que a sociedade passa a assimilar como algo natural a partir da perda de credibilidade de poderes republicanos que trouxeram o caos à economia e a corrupção institucionalizada à vida pública. “Tem que ficar claro que nós apoiamos, mas não somos promotores”, recomendou FHC, há dez dias, a um grupo de senadores do PSDB com quem almoçava em São Paulo. Sugeriu que os tucanos estejam nas passeatas, mas sem gritar o “Fora, Dilma”, uma distinção de quem governou oito anos ao som do “Fora, FHC” da voz petista rouca de tanto gritar aonde o presidente ia, inclusive na Europa. Ex-candidato a vice de Aécio Neves na chapa presidencial, o senador Aloysio Nunes Ferreira, hoje líder do PSDB, considerou coerente sua participação em passeata pelo impeachment, como avisou aos colegas: __ Eu vou participar, mas não queremos tomar conta. Trata-se de uma manifestação contra o governo e nós somos oposição. A adesão ao protesto ganha corpo no Congresso e nos partidos de oposição. O PPS de Roberto Freire decidiu aderir no meio da semana. Ainda na quarta-feira, o presidente do Solidarie-dade, deputado paulista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, comunicou que o partido, oriundo da central Força Sindical, pedirá um estudo jurídico para propor o impeachment de Dilma. Ele acabara de almoçar com o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, que está no olho do furacão no Congresso. Paulinho comunicou que, em princípio, o pedido de impeachment do Solidariedade deve se basear na compra da Refinaria Pasadena aprovada pelo conselho de administração da Petrobrás, presidido por Dilma na época, então chefe da Casa Civil de Lula. O pedido de impeachment ingressa na Câmara, onde o presidente Eduardo Cunha, se aceitá-lo, encaminha o processo ao Senado, presidido por Renan Calheiros, outro peemedebista no centro do litígio com o Planalto. Se aceitar a proposta, o presidente providencia uma investigação do caso por senadores, que depois decidirão pela execução ou não do impedimento. O clima para a progressão do processo tem a ver com a movimentação na ruas, como no caso do então presidente Fernando Collor, repudiado pelos jovens caras-pintadas ao longo de 1992. Inutilmente, Collor apelou à sociedade para ir às ruas defender o governo com os ativistas coloridos. Assim como militantes do PT devem se confrontar com as novas passeatas que se iniciam. Em litígio, o Planalto e o Congresso dependem cada um do clima das ruas como moderador ou determinador do caráter das manifestações públicas incentivadas por redes sociais. O foco será mesmo apenas na falta de confiança na gestão de Dilma? Pode começar por aí, mas, se o protesto embalar pode assumir outras direções. À espera do que pode brotar no asfalto e nos equipamentos das redes, em especial na repercussão da mídia de imprensa, Planalto confia em que o protesto popular surfe também na rejeição ética aos políticos representados pelo Congresso, cujos presidentes Renan Calheiros e Eduardo Cunha estão em xeque no terceiro poder, o Judiciário, como citados na investigação da corrupção do petrolão. Os dois presidentes do Congresso suspeitam que o Planalto influenciou a decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em inclui-los entre as pessoas suspeitas de receber repasse de dinheiro arrecadado pelo petrolão. A descoberta de que poderiam ser arrolados pelo Ministério Público Federal semeou o conflito nas relações de Calheiros e Cunha com a presidente Dilma.

Há 10 anos, a mediação popular nas redes sociais evitou a aprovação da elevação impostos de Lula

[caption id="attachment_30253" align="alignright" width="620"]Ex-presidente Lula: derrota fragorosa quando quis aumentar imposto | Foto: Ricardo Stuckart/Abr Ex-presidente Lula: derrota fragorosa quando quis aumentar imposto | Foto: Ricardo Stuckart/Abr[/caption] Em oito anos de governo do presidente Lula, as duas maiores derrotas do Planalto em votações no Congresso ocorreram quando ele tentou cobrar mais impostos. Em ambas as manifestações da sociedade prevaleceram entre congressistas. Empresários também fizeram lobby contra os impostos, mas os e-mails populares que entupiram a caixa postal dos parlamentares foram mais determinantes. A derrota que mais doeu em Lula foi a última, com a rejeição pelo Senado, em 2007, de mais uma prorrogação do imposto do cheque, a CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira. Ainda hoje, o ex-presidente atribui os males da saúde pública à extinção de um imposto que era para ser emergencial, mas pesou durante 14 anos no bolso dos brasileiros – e não cuidou da saúde. Porém, a mais bem articulada pela sociedade foi a primeira derrota há precisos dez anos. Lula mudou ministros e tentou aprovar um aumento em até 30% em impostos sobre prestadores de serviço e empresas de agricultura, transportes, saúde e educação. Como compensação, ofereceu a correção em 10% da tabela do Imposto de Renda. O brinde foi a única coisa aprovada na medida provisória. A queda dos impostos introduziu em cena a sociedade civil organizada como um poder moderador de fato, cujo conjunto age dentro de outros poderes, os formais. No caso, o conceito moderador real se justificou por representar a inserção informal nas relações entre poderes de Estado: a sociedade penetrou no Legislativo e impôs hegemonicamente o veto ao aumento de imposto. A intervenção da sociedade como árbitra nas relações entre o Executivo e o Legislativo a consagrou como contrapeso na ordem republicana. O governo reconheceu ou validou o freio da pressão social que rompeu invencibilidade no Congresso dos projetos da equipe econômica durante os primeiros dois anos do governo Lula. Se hoje o petrolão está em cena, naquela época o mensalão estava nos bastidores. Começou a vir à tona dois meses depois, na CPI dos Correios.

A investigação de Calheiros e Eduardo Cunha por desvio de dinheiro da Petrobrás garante a crise

[caption id="attachment_30250" align="alignright" width="317"]Eduardo Cunha na relação do petrolão é mais problema para Dilma | Foto:  J.Batista / Câmara dos Deputados Eduardo Cunha na relação do petrolão é mais problema para Dilma | Foto: J.Batista / Câmara dos Deputados[/caption] A acolhida do Supremo Tri­bu­nal Federal à investigação dos presidentes do Congresso, senador Renan Calheiros e deputado E­duardo Cunha, pela participação de ambos no petrolão é ga­rantia de turbulências perenes en­tre o governo Dilma e o PMDB. Pior ainda para o Pla­nalto se uma legião do PT também está sob a mesma investigação. Todos os petroleiros pensarão que faltou cobertura do governo para evitar as novas investigações autorizadas pelo ministro Teori Zavascki como relator do petrolão. O ex-presidente Lula, que não retornou a Brasília nos últimos dias para submergir na conflagração geral entre crises tem, agora, motivo para uma reflexão em torno de sua relação com o governo Dilma e a eleição presidencial de 2018. Não é nada, Dilma tem quatro ex-ministros sob a investigação do Supremo. Começa pela senadora Gleisi Hoffmann, ex-chefe da Casa Civil e do PT. Tem ainda o senador Edison Lobão, que respondeu até dezembro pelo Ministério de Minas e Energia por indicação do PMDB do ex-presidente Sarney – no Maranhão, também a ex-governadora Roseana Sarney entra em investigação. Os outros dois ex-ministros dirigiram Cidades em nome do PP, Mário Negromonte (BA) e Aguinaldo Ribeiro (PB). O impacto no Senado é especial. Além de Calheiros, outros dois senadores do PMDB continuam investigados, Edison Lobão e Valdir Raupp (RO), presidente em exercício do partido. Afora Gleisi, mais um senador do (PT) enfrenta o Supremo, Lindbergh Farias, do Rio. O PTB tem Fernando Collor (AL). O PP, Ciro Nogueira (PI). O PSDB tem o senador Antonio Anastasia, ex-governador de Minas. Além de Anastasia, o PSDB tinha o senador Aécio Neves na lista do procurador Rodrigo Janot por causa de denúncia sobre propina que surgiu no sistema elétrico de Furnas. Mas Janot considerou o caso irrelevante e propôs a Zavascki que o arquivasse. O relator aceitou a sugestão, assim como ocorreu com a presidente Dilma, também mencionada. Janot sugeriu, não afirmou porque pode haver controvérsia, que a menção a Dilma merecia o arquivo: a Constituição diz que presidente não pode ser responsabilizado por fato estranho ao exercício do mandato presidencial. Outra sugestão acolhida foi o arquivo para o caso do ex-deputado Henrique Alves (RN), presidente da Câmara até dezembro. Goiás tinha dois representantes na lista do procurador-geral como mencionados nas primeiras investigações. Ambos do PP. Um é o deputado Roberto Balestra, tratado na lista como Renato. Balestra responderá a inquérito. O mesmo destino coube ao ex-deputado Sandes Júnior, que já se envolveu no escândalo de Carlinhos Cachoeira.

Lula defende mais presença do PMDB no governo antes que piore o que está ruim

O ex recomendou, em Brasília, a incorporação do vice-presidente Michel Temer ao conselho político de Dilma