A cautela dos tucanos em relação aos protestos contrasta com o impulso da presidente ao referir-se ao próprio impedimento

Presidente Dilma Rousseff deixou a palavra impeachment entrar em seu universo mental | Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR
Presidente Dilma Rousseff deixou a palavra impeachment entrar em seu universo mental | Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR

Até a presidente Dilma começou a assimilar a ideia de conviver com uma campanha nas ruas a favor de seu impeachment. “Eu acho que há que caracterizar razões para o impeachment e não o terceiro turno das eleições”, aceitou a presidente dessacralizar a rejeição pessoal à palavra ‘impeachment’, ao pronunciá-la pela primeira vez em público na segunda-feira.

Uma palavra que, a partir deste domingo, deverá percorrer o país sistematicamente em protestos contra o governo em seu labirinto. A presidente, até a entrevista a repórteres, evitou o termo, que veio espontaneamente das ruas como expressão de sentimento que repele não apenas Dilma, mas toda a construção política que se ergueu na corrupção.

Dois dias depois, a direção do PSDB se reuniu para discutir a posição do partido quanto aos protestos e emitiu , de manhã, uma nota com 283 palavras, sem incluir o termo impeachment entre elas. A referência mais próxima estava neste bloco com 54 vocábulos, onde afirmou que decidiu participar da mobilização nas ruas:

“Acreditamos que a participação popular melhora as instituições e eleva os padrões de governança pública. Por isso, o PSDB, através de seus militantes, simpatizantes e várias de suas lideranças, participará, ao lado de brasileiros de todas as regiões do país, desse movimento apartidário que surge do mais legítimo sentimento de indignação da sociedade brasileira.”

À tarde, o presidente do partido, senador Aécio Neves, afirmou a repórteres que não compareceria aos protestos. Como perdeu a disputa presidencial na reeleição de Dilma, não desejava se confundir com derrotado em busca do terceiro turno. Dizia que os partidos não deveriam se meter no movimento para não comprometer a legitimidade da manifestação.

Repetia ainda a explicação para a ausência do impeachment na nota do partido. “Nós não proibimos e nem estamos proibidos de dizer a palavra impeachment, ela apenas não está na agenda do PSDB”, confirmava a intenção tucana em não se comprometer com a radicalização dos protestos contra Dilma.

Ao começar a noite, Aécio pensava um pouco diferente. Con­fessou a uma rádio paulistana que poderia ir ao protesto de hoje se lhe desse na telha no momento de o povo estar lá fora. Afinal, o PSDB tem um compromisso com as manifestações populares, pensou e arrematou:

— Sou um cara de rompantes. Quem sabe se na hora eu não resisto?

Num rompante assim, foi espontânea a rendição da presidente à citação das 11 letras que formam a palavra inglesa impeachment. Tão voluntária que se fez sem um rito de passagem que introduzisse o termo no vocabulário presidencial com toque de naturalidade. Veio, digamos, no supetão de uma discussão com repórteres.

O sossego das passeatas nacionais promovidas pela CUT na sexta-feira, em defesa da Dilma, mas contra arrocho, favorece a adesão popular às movimentações deste domingo porque ajuda a afastar a ideia de beligerância nas ruas. Se bem que o tema da oposição ao governo leva, hoje, às ruas algo provocador: o afastamento da presidente.