O ex-presidente FHC ensaiou, em entrevistas no começo da semana, a construção de um rito de passagem para os tucanos se ajustarem aos protestos e pedidos de impeachment de Dilma. Era uma tentativa de encontrar um rumo para os companheiros que se reuniriam na quarta-feira para decidir a posição do partido diante das manifestações.

“A rua, neste momento, não é dos partidos, é do povo”, recomendou que não se contaminasse partidariamente as manifestações populares. Seria uma maneira de assegurar legitimidade às mobilizações e afastar alguma especulação sobre o oportunismo dos partidos.

Aí, o tucano caiu num impasse. “Também não se pode deixar que a sociedade avance sozinha”, recuou FHC. Ele não disse, mas se deduz que, se a oposição não participa, a evolução da massa nas ruas em confronto com o governo pode atrai-la, demandar a intervenção de partidos. Soltas, as massas são capazes também de atropelar as legendas.

Então, o que fazer? Uma das opções tucanas é deixar que a presidente e o PT se desgastem sozinhos ao longo do aprofundamento das crises, mais o processo de manifestações que pretende ser contínuo, sem data para acabar. A adesão ao pedido de impeachment seria uma decisão radical não recomendável, pensou o ex-presidente:

— Impeachment é como bomba atômica, é para dissuadir, não para usar.

E se a dissuasão não causar efeito, se a presidente não renunciar, poderia se perguntar a FHC. “Tirar Dilma não adianta nada”, sugeriu nas entrevistas que, antes, os partidos precisam ter um projeto comum sobre o que fazer para oferecer consequência ao eventual vácuo presidencial.

Seria a discussão de uma pauta sobre “como melhorar a situação política, econômica e social”. A agenda só “não pode ser um conchavo” entre partidos, aconselhou. Sumariamente, isolou o PT de Lula quanto ao acordo entre partidos para desatar o nó entre o povo e o governo:

— Ele quer é acusar. Ele é o bom, nós somos os maus. Então, não há como dialogar com quem não quer dialogar.