Resultados do marcador: Novas obras e bairros abandonados

Paço Municipal inaugura pequenas reformas pela capital enquanto restante da cidade espera, em média, cinco anos para usufruir de uma obra que está quase pronta
[caption id="attachment_172859" align="alignnone" width="620"] Maria da Conceição aguarda a entrega do CMEI na rua onde mora desde a gravidez, quando Iris Rezende visitou a obra há dois anos | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
O prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB), prometeu transformar a capital num canteiro de obras nestes últimos dois anos de mandato com supostas finalidades eleitorais. O seu líder na Câmara Municipal de Goiânia, vereador Tiãozinho Porto (Pros), diz que o Paço ajustou as contas nos dois primeiros anos de mandato para injetar dinheiro próprio em obras até a eleição de 2020.
Os recursos do cofre municipal deverão ser aplicados em viadutos, asfalto, construção e reformas de instalações públicas, entre outras, segundo Porto. “Reafirmo que Goiânia se tornará um canteiro de obras neste ano e no ano seguinte. O prefeito é um grande gestor, já sanou as dívidas da Prefeitura, que tinha quase 900 milhões de atrasos. Essa foi uma parte da administração, agora Goiânia entrará em nova fase”, afirma Porto.
O prefeito inaugurou na terça-feira, 19, o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Governador Olinto de Paula Leite, localizado no Parque Flamboyant. A estrutura, na verdade, já existia, mas foi reformada para atender as crianças da região. De acordo com censo do IBGE em 2010, a população do Parque Flamboyant era de 1.464 pessoas.
Mas a 52 minutos do Parque Flamboyant, numa viagem de carro de 31,9 quilômetros, moram cerca de 9 mil pessoas nas onze etapas do bairro Jardins do Cerrado, fundado em 2009. Em apenas um dia, na quinta-feira, 21, o Jornal Opção visitou diversas obras inacabadas pela Prefeitura de Goiânia desde a inauguração do setor.
Moradores questionam, por exemplo, se essa disposição em revitalizar, começar e terminar novas obras não estaria na agenda para atender as periferias esquecidas pela Prefeitura.
Uma das obras mais antigas do bairro Jardins do Cerrado deixou um esqueleto de tijolos há sete anos parado. Além da depredação natural do tempo no que restou do que seria um CMEI, como a umidade que assolou as paredes com lodo e o mato de quase dois metros de altura, ladrões terminaram de roubar os materiais de construção abandonados no local: restos de encanamento, barras de ferros usadas na fundação que ficaram expostas e pedaços de madeira usados no início da laje.
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CMEI do bairro Santa Helena está parado e o mato quase chega na laje da estrutura | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
O pedreiro Billy Marques dos Santos, 35, mora no condomínio Residencial Orquídea há seis anos, do outro lado da rua onde o CMEI está abandonado. Com dois filhos em casa, Billy percorre alguns quilômetros até o Conjunto Vera Cruz para deixar as crianças na escola. A unidade de educação infantil na porta do condomínio do pedreiro poderia atender 100 crianças em dois turnos ou horário integral.
A Associação Habitacional Cerrado Forte, representante dos moradores do setor, informou que mil crianças estão fora da escola. Essas crianças aguardam ingresso na rede municipal de Educação de duas formas: esperando vagas na lista de espera de CMEIS próximos ou a entrega das unidades educacionais inacabadas.
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Billy Marques, morador do Jardins do Cerrado VII, em frente ao CMEI que seus filhos poderiam frequentar se estivesse pronto | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
Na etapa 4 do Jardins do Cerrado há outro CMEI fechado há três anos. A unidade, no entanto, estava quase pronta, mas faltando poucos detalhes a obra foi abandonada e o CMEI nunca funcionou. O tempo continua a devorar a estrutura já construída e os moradores próximos denunciam que o local virou abrigo para traficantes e ladrões se esconderem da polícia.
O cadeado na entrada principal foi arrombado e qualquer pessoa pode entrar no terreno da escola. No interior do local, um lodo espesso engoliu parte da cerâmica branca no pátio central, que dá acesso a todas as salas de aulas. A unidade foi construída em um formato quadrado, como uma caixa de fósforos. Há bastante espaço nas quatro laterais do terreno, hoje tomado pelo mato.
O presidente da Associação Habitacional Cerrado Forte, Lee Anderson, conta que já havia portas nas salas, vidros nas janelas e até vasos sanitários nos banheiros. Todas as peças foram roubadas por ladrões que vendem no comércio para comprar pequenas quantidades de drogas. “O furto dessas peças deve causar um prejuízo de, pelo menos, uns R$ 20 mil aos contribuintes. A estrutura estava pronta, nova, mas foi deteriorada pelo tempo. Era só colocar funcionários e entregar”, lamenta Lee Anderson. Esse CMEI acolheria cerca de 400 crianças que deveriam estar na educação infantil, ou seja, quase metade das mil crianças na lista de espera.
No interior da escola, a reportagem encontrou a carcaça de um animal morto. Sobraram apenas ossos e dentes em decomposição, espalhados no pátio: o corpo estava na grama e a cabeça, com a boca aberta, em cima da cerâmica onde as crianças teriam atividades escolares.
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Presidente da associação de moradores do Jardins do Cerrado, Lee Anderson caminha no interior do CMEI abandonado pela Prefeitura | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
A doméstica Maria da Conceição Martins da Silva, de 29 anos, mora em frente à obra fechada. Com seis passos a pé, ela deixaria a filha de nove meses aos cuidados dos professores para trabalhar no centro de Goiânia. E mais uma vez, outro morador precisa levar o filho para fora do setor por falta de assistência. Maria da Conceição fez um acordo com o chefe para trabalhar e cuidar da filha ao mesmo tempo, misturando ambiente de trabalho com pessoal.
“Eu estava grávida quando o Iris Rezende veio aqui dizer que assinou o termo para concluir a obra do CMEI, quase dois anos atrás”, diz a doméstica.
Esses problemas de falta de vagas na educação infantil e estruturas abandonadas são os mais visíveis e acontecem em todos os sete distritos da capital goiana.
O vereador Lucas Kitão (PSL) afirma que Goiânia está entre as capitais brasileiras que mais tem crianças fora da escola. “Só na lista de espera cadastrada são mais de 10 mil. O prefeito prometeu dobrar o número de escolas em tempo integral e não fez. Pelo contrário, transformou escolas de tempo integral em dois turnos para abrir mais vagas e mascarar o déficit”, deplorou Kitão.
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Vereador Lucas Kitão diz que Goiânia está entre as capitais campeãs com crianças fora de escola | Foto: Jornal Opção[/caption]
Segundo o vereador, a Prefeitura prometeu 50 novos CMEIs e entregou apenas 8 até o momento. “O tempo passa. As verbas do Fundeb entram para o Município, mas os benefícios não chegam para a sociedade. A CEI [Comissão Especial de Inquérito] das obras paradas revelou mais de 100 obras inacabadas e metade delas são de CMEIs que poderiam facilmente ser construídos e inaugurados”.
O não pagamento da data base dos professores municipais também assombra a categoria. O projeto foi aprovado em outubro passado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Agora, ele está parcelado. “O prefeito mandou atualização salarial para a Casa, de duas carreiras municipais de mais de 400%. E não foi cogitado aumento ou melhora salarial para os professores”, denuncia novamente Lucas Kitão.
O líder do Paço na Câmara Municipal, Tiãozinho Porto, fez a defesa do prefeito sobre os problemas relatados na Educação da capital, já que a Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura não se manifestou sobre as perguntas encaminhadas desde terça-feira, 19.
Porto disse que o prefeito tem interesse em resolver a falta de vagas nos CMEIs ainda neste ano, bem como terminar as construções das escolas espalhadas pela cidade.
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Vereador Tiãozinho Porto diz que Iris Rezende quer resolver problemas da educação neste ano | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Segundo a vereadora Priscila Tejota (PSD), o secretário Municipal de Educação e Esporte de Goiânia, Marcelo Ferreira da Costa, compareceu inúmeras vezes à Câmara Municipal com soluções "risíveis" para falta de vagas na rede municipal de ensino. “Ele veio mostrar um cronograma anual de aumento de vagas que não acontece. Isso é um descaso com o professor e com os alunos. As reformas na rede municipal são feitas via mutirão, apenas aquelas reformas que pintam as paredes. Goiânia ainda tem 11 unidades de placas de gesso que são muito quentes. Então as creches não colocam as crianças na sala de aula porque esquenta muito e elas ficam a maior parte do tempo no pátio”.
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Vereadora Priscila Tejota afirma que a prefeitura recebeu dinheiro do governo federal para CMEIs, mas não usou | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Priscila afirma que o Governo Federal enviou dinheiro ao Paço para refazer essas unidades de gesso em concreto e a Prefeitura não executou as obras.
Além da parte de infraestrutura, a vereadora confirma que há crianças sem uniforme e sem merenda. “A Educação está completamente sofrida. Uma discussão atual é como desarticular os ataques terroristas às escolas. Mas o que vamos discutir? Instalar detector de metais na entrada das escolas que não têm merenda nem uniforme?”, questiona Priscila Tejota.
Outra obra do bairro Jardins do Cerrado que foi abandonada em estágio avançado é a do Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU). Também conhecido como Praça Céu pelos moradores, o projeto começou em 2016 e foi esquecido após um ano de trabalho, quase pronto.
No meio do mato estão uma pista de skate para lazer, uma quadra de esporte multiuso e um prédio com uma sala de teatro para 200 espectadores, banheiros e salas recreativas para oficinas e aulas de artes. No complexo também funcionaria um polo de atendimento psicossocial e uma sala reservada para a Polícia Militar de Goiás. A Prefeitura e o Governo Federal prometeram investir R$ 3,8 milhões na obra.
A praça também foi vítima da feroz ação do tempo e de ladrões locais que usam o prédio para consumir drogas. Pequenos traficante usam as paredes internas do teatro com pichações para homenagear os líderes do tráfico de drogas mortos em confrontos com a PM. É comum ver essas frases dentro do prédio, como “luto eterno ao docero”, que foi um jovem traficante do bairro.
Na parede colada à sala de controle de áudio e vídeo do teatro há uma mancha preta e resquícios de colchões queimados no chão, onde dormiram moradores de rua. Os banheiros foram saqueados tanto nos vasos sanitários como nas cerâmicas das paredes. A fiação elétrica pré-instalada nas paredes foi levada. Agora se veem apenas restos de fios nos canos amarelos encontrados no chão e paredes.
A área sede do CEU tem 7 mil metros em obra conjunta com o Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura. A construção do Centro integrava o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).
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Obra da Praça CEU no Jardins do Cerrado, parada há três anos, virou abrigo para moradores de rua e ponto de tráfico de drogas | Fotos: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
O descaso com as obras de CMEIs, porém, não são exclusividade do Jardins do Cerrado.
A reforma do CMEI da Vila Santa Helena, por exemplo, está parada desde a gestão de Paulo Garcia (2013). Uma empresa começou a revitalização da escola, mas não terminou por falta de recursos. A obra consumiu R$ 750 mil com a promessa de ficar pronta em 150 dias, de acordo com a placa informativa na porta da escola. Mas lá se vão cinco anos.
Unidades de Saúde no bairro Jardins do Cerrado abrem as portas para avisar que não têm médicos
A 400 metros daquele CMEI abandonado na porta do pedreiro Billy Marques anos funciona uma Unidade de Atenção Básica à Saúde da Família, na etapa VI. Os funcionários abrem as portas para avisar aos moradores que não há médico e indicar outras unidades mais próximas, como o Centro de Saúde da Família, da etapa IV, que também funciona sem médicos e, por sua vez, indica outras unidades próximas. A distância entre as duas unidades da etapa 4 a 6 chega a um quilômetro. Na quinta-feira, 21, quando a reportagem esteve no bairro, os dois postos de saúde estavam fechados às 16h30. O presidente da associação dos moradores, Lee Anderson, informou que as unidades sempre fecham antes do horário previsto – às 18h. “Toda vez que um morador chega numa unidade dessas, o recepcionista diz que não tem médico e manda ir ao Conjunto Vera Cruz ou Trindade”. [caption id="attachment_172869" align="alignleft" width="404"]


Da periferia aos bairros mais ricos da capital, o asfalto cede espaço para buracos
As erosões no asfalto são evitadas diariamente por milhares de motoristas em qualquer região da capital. E não só de buracos vivem as ruas. Lugares periféricos não possuem nem pavimentação asfáltica. A reportagem visitou áreas nobres da capital, como o Setor Jaó e a Avenida Portugal, no setor Oeste, onde a população de uma classe financeira mais alta também sofre com buracos profundos e extensos há meses. [caption id="attachment_172876" align="alignleft" width="404"]



Coleta de lixo ineficiente transforma ruas em lixões
O Jornal Opção esteve no setor Crimeia Leste. Algumas ruas sem coleta de lixo há duas semanas estão com sacolas rasgadas e os resíduos que caem no chão alimentam os cachorros de rua com restos de comida podre e fétida. A reclamação virou frequente entre moradores e comerciantes locais. Na Região Norte da capital, próximo ao campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás, foi registrado urubus comendo o lixo abandonado no meio da rua. Há uns três meses houve problemas nos caminhões da Comurg, diz o vereador Tiãozinho Porto. Alguns carros de coleta tiveram problemas mecânicos, mas o problema foi resolvido, garante o parlamentar. “Atualmente não escuto mais problemas quanto à coleta de lixo. Tem um projeto na Câmara que libera dinheiro para a Prefeitura comprar novos caminhões e que vai trazer um salto positivo muito grande para a Comurg. O projeto foi aprovado na Casa e a Prefeitura prepara a licitação para comprar esses caminhões”, informa Porto. O vereador acrescenta que “às vezes um caminhão que estraga já faz uma falta enorme. Mas sempre repassamos os problemas para o prefeito, ele sabe da necessidade da compra de novos caminhões”. [caption id="attachment_172879" align="alignleft" width="404"]

