Resultados do marcador: Fim do antidumping

Sindicato das Indústrias de Laticínios de Goiás afirma que os pequenos fabricantes não sabem o custo de produção e que protecionismo é discurso retrógrado
[caption id="attachment_164859" align="alignnone" width="620"] Goiás produz nove milhões de litros de leite por dia. Pequenos fabricantes são maioria (80%), mas respondem por apenas 20% da produção total | Foto: Jonas Oliveira - SECS/Fotos Públicas[/caption]
Na semana passada, os produtores brasileiros de leite viveram dias de tensão com o fim das taxas antidumping – uma forma de proteger a produção nacional do leite importado. Concomitantemente, o Ministério da Agricultura vai aumentar as taxas de importação de leite contra a Europa e a Nova Zelândia para compensar o fim do antidumping. Esta taxa é cobrada desde 2001 e compensava o efeito da exportação do produto por preço abaixo do custo, causando prejuízos à produção local. Atualmente, o imposto de importação é de 28%.
Contudo, segundo Alfredo Luiz Correia, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios no Estado de Goiás (Sindileite), a questão é mais profunda: o leite brasileiro não conseguiria competir com o importado porque os pequenos empresários não têm noção de quanto custa produzir um litro de leite em sua fazenda. "A produção de leite no Brasil carece de profissionalismo e eficiência", diz.
Para comparação, o diretor do Sindileite citou a produtividade de leite na Nova Zelândia, país de onde o Brasil importaria leite em pó, integral e desnatado com o fim das taxas antidumping. Os produtores neozelandeses, em primeiro lugar, sabem o custo de cada litro de leite produzido e, em segundo, sabem produzir de forma eficiente.
Cultura
O sindicalista visitou várias fazendas produtoras no país da Oceania. “Um pequeno produtor, que tem até 200 vacas na Nova Zelândia, não tem nenhum funcionário, por exemplo. No Brasil, um micro produtor com 50 vacas tem de dois a quatro funcionários. Um produtor que não sabe quanto custa o leite que ele produz como vai saber por quanto vender?”, questiona.
De acordo com Correia, isso ocorre por uma questão cultural. “O pequeno produtor não sabe quanto custa produzir um saco de milho [usado na alimentação da vaca]. A cultura é essa porque o avô e o pai produziam assim. Enquanto pensarem desta forma, vão ser eternamente exploradores de vacas”, lamenta.
Preço
Ele explica que o litro de leite mais bem pago do país está em Goiás. “O estado já foi o segundo maior produtor de leite nos anos 1990 e, atualmente, é o quinto. Em Goiás, paga-se a média de R$ 1,50 a R$ 1,70 por litro produzido, como matéria-prima. Em janeiro passado foram pagos esses valores. Em outros estados pratica-se em torno de R$ 0,90 a R$ 1,20”.
"As grandes indústrias de Goiás estão produzindo no Sul do Brasil, onde se tem oferta de leite por menor preço"E exatamente por esse valor praticado, Goiás não figura mais no topo do ranking de produção. Alfredo Correia cita duas grandes indústrias goianas que transferiram parte de sua produção para o Sul do país. “As grandes indústrias de Goiás, como Italac e Piracanjuba, estão produzindo no Sul do Brasil, onde se tem oferta de leite por menor preço”, conta Correia. A queda de Goiás nesse ranking de grandes produtores nacionais aconteceu há 15 anos. Ano após ano, estados como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul especializaram a mão de obra e a eficiência na produção, que não aconteceu em solo goiano, conta Correia. O estado goiano exporta 80% do leite produzido. Dessa fatia, 64% vão para São Paulo, o maior centro consumidor do País. “Como competir nesse centro consumidor se o meu preço é o mais alto do Brasil? O custo para enviar a matéria-prima aos paulistas é de dez centavos por quilo. Goiás está a mil quilômetros de São Paulo. O custo de transporte é muito caro. Energia em Goiás é caro. Tudo é caro”, dispara Correia. São Paulo Em entrevista à coluna "Direto da Fonte", do jornal O Estado de S. Paulo, o secretário paulista da Agricultura, Gustavo Junqueira, afirmou que o aumento do imposto sobre a importação de leite “é complexa e exigirá muita habilidade dos governantes”. Para Junqueira, os produtores precisam ter maior visibilidade sobre como o governo vai programar essa nova agenda. “É importante melhorar a regulação e as exigências burocráticas para que a competição com outros países seja equilibrada.” O secretário comenta ainda que em São Paulo, “o Executivo estadual prepara as empresas para competir por meio de adequações tributárias – como a eliminação de imposto nos hortifruti e redução do ICMS para combustível de aviação”. O Ministério da Agricultura informou na terça-feira, 12, que vai aumentar as taxas de importação de leite da Nova Zelândia e Europa a fim de equilibrar o fim das tarifas antidumping sobre os produtos. Mas as novas alíquotas não foram divulgadas. Em sua conta no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro tentou tranquilizar os produtores de leite ao anunciar que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vai manter a competitividade do produto nacional. “Comunico aos produtores de leite que o governo, tendo à frente a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, manteve o nível de competitividade do produto com outros países. Todos ganharam, em especial os consumidores do Brasil”, escreveu o presidente no Twitter.
Proteção antidumping é boa para os produtores
O diretor do Sindileite avalia o efeito do fim de práticas antidumping no Brasil de duas formas: a primeira seria benéfica ao consumidor, com mais opções de produtos internacionais nas prateleiras dos mercados, mas, por outro lado, a reserva de mercado não é boa ao Brasil nem em outro qualquer lugar do mundo. [caption id="attachment_164861" align="alignnone" width="620"]
