Resultados do marcador: Entrevista | Adriana Accorsi

PT vai anunciar o nome da parlamentar como pré-candidata à Prefeitura de Goiânia

Deputada estadual e candidata a prefeita de Goiânia quer unir políticas públicas das três gestões petistas e novas propostas para gerir a capital com participação da população

Candidata do Paço para a disputa em Goiânia, deputada estadual pontua Saúde e Segurança como pautas prioritárias

Deputada estadual mais bem votada em Goiás, campeã de votos do PT leva para a Assembleia, além de sua experiência como policial, propostas para a segurança, como a construção de delegacias modelo
[caption id="attachment_27990" align="alignleft" width="620"] Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
“Com muita esperança.” Foi com essa expressão que Adriana Accorsi encerrou sua entrevista de uma hora e meia ao Jornal Opção. Pela primeira vez, a delegada de carreira que sempre se destacou nas funções em que atuou, assume um mandato. E isso veio com um aval considerável. Mais de 43 mil votos — “43 mil e 424”, como ela gosta de frisar —, tornando-a a mulher mais bem votada da Assembleia Legislativa e a campeã de votos do PT.
Seu carisma e presença de espírito evocam o de seu pai, o ex-prefeito de Goiânia Darci Accorsi, que lutou bravamente contra o câncer e a ajudou em toda a campanha. Darci morreu no fim do ano passado, o que foi um baque na forte estrutura da delegada. “Por mais que ele estivesse doente, sempre se manteve firme comigo. Nunca pensei que o perderia”, diz, segurando a emoção.
Na Assembleia, ela quer aplicar as lições aprendidas com o pai — que era também um brilhante professor de Filosofia — e achar os atalhos para ser bem-sucedida no mandato.
Entre os compromissos assumidos. Adriana quer acompanhar de perto a destinação e aplicação dos recursos para a segurança pública, trabalhar com a prevenção e conscientização de crianças e adolescentes, atuar em prol dos servidores, especialmente os de seu setor e fazer oposição consciente. Em resumo, tudo o que pôde amealhar em seu trabalho como chefe da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), como delegada-geral da Polícia Civil e como secretária municipal de Defesa Social.
Elder Dias — A sra. teve uma votação expressiva. Foram 43.424 votos. Em sua visão, quais foram os motivos que levaram a esse número?
Acho que é bom refletir sobre o porquê de as coisas terem ocorrido dessa forma. Essa votação foi uma surpresa muito agradável para mim. Eu tinha a esperança de vencer a eleição, porque sempre trabalhei bastante pelos objetivos aos quais me dispus, mas não imaginei essa votação. Hoje, quando as pessoas me perguntam como eu estou começando essa nova fase, eu digo que tenho dois grandes sentimentos. Um deles é a gratidão pela votação fenomenal, para a qual pode ser atribuído um conjunto de fatores. Primeiro, o reconhecimento por meu trabalho como delegada — foram 15 anos que dediquei à Polícia Civil. Ouvi muitas pessoas dizerem que um dia queriam agradecer por algum trabalho que prestei como delegada e, se essas pessoas votaram em mim pensando que me recompensariam, pensaram certo. Fico muito grata por esse reconhecimento por meus serviços como delegada, em especial como delegada-chefe da DPCA. Quando falamos com as pessoas durante a campanha, foi possível ver o reconhecimento do processo de mudança cultural de dar importância à criança, algo que aconteceu no Brasil todo com a criação das DPCAs.
O segundo motivo: acho também que existiu um reconhecimento ao trabalho do meu pai, a tudo o que ele fez como vereador, deputado e primeiro presidente do Partido dos Trabalhadores, um de seus fundadores, além de professor. Ouvi muito isso: “Ele foi meu professor e me ajudou a entender a filosofia, a ética, me ajudou a gostar de estudar, de ler.” E ele ficava muito feliz de ouvir isso. Acho que essa eleição foi a oportunidade que as pessoas tiveram de se reconciliar com ele e vice-versa. Ele foi candidato a deputado estadual na última vez e não obteve uma grande votação, não houve muitas condições financeiras. Então, penso que nessa eleição as pessoas tiveram a oportunidade de recebê-lo muito bem. Por onde eu andei, foi motivo de muito orgulho ouvir: “Estou votando em você por causa do seu pai” ou “me desculpe, mas não vou votar em você por sua causa, mas por causa de seu pai, porque, se hoje eu tenho uma casa para morar, é porque ele fez o (Setor) Goiânia Viva” ou “porque ele criou o Cidadão 2000 e hoje eu tenho a oportunidade de ter um emprego”. Algumas pessoas disseram que estavam vivas por causa disso. Acho que teve muito disso, e não apenas em Goiânia, mas também no interior, onde antigos companheiros o ajudaram.
E o terceiro motivo não tem a ver comigo, mas com o tema que minha presença traz, devido à minha história profissional, que é a segurança pública. As pessoas têm esperança de que a minha presença no Parlamento goiano possa melhorar a segurança em Goiás. Então, acho que foi um terço para cada motivo, o que resultou nessa votação, a quinta maior do Estado, a maior do meu partido e a maior votação de uma mulher para deputada estadual nessa eleição, sendo a primeira deputada pelo PT em Goiás. Tudo isso é motivo de muita honra, mas também de muita responsabilidade, uma responsabilidade e tanto com as pessoas.
O outro sentimento que tenho é o de perda, por causa da perda de meu pai [Darci Accorsi morreu em 20 de novembro, vítima de câncer]. Isso foi devastador para mim. Então, eu começo esses trabalhos sentindo muita falta dele. As pessoas, quando perdem um ente querido, vão trabalhar e isso as distrai. Isso não acontece comigo, porque o meu trabalho é o que sonhei fazer com ele, o que conversava com ele. Composição do gabinete, por exemplo, é o que conversávamos todos os dias depois da eleição: a minha participação na política, a minha contribuição para o Partido dos Trabalhadores. A posse no domingo, dia 1º, foi um momento muito bonito para mim, pois simbolizou o início dessa nova fase, mas também foi muito triste, pois iríamos comemorar. Meu pai sempre fazia um churrasco especial para mim, porque eu não sou gaúcha, sou goiana e gosto de carne bem passada (risos), ao contrário dos meus irmãos. Então, foi muito difícil. Está sendo. Ele estava muito doente e as pessoas às vezes não entendem isso, porque nós, os filhos, o víamos de outra forma. Ele sempre foi muito forte. Mesmo na campanha, depois de uma cirurgia, de radioterapia e quimioterapia, sem conseguir retomar a saúde, ele esteve presente comigo o tempo todo. Acho que todos veem seu pai como pessoa forte em sua vida. Eu não imaginei que ele não fosse se recuperar.
Elder Dias — Então, nesse contexto que a sra. traçou, podemos dizer que seria 33% para cada motivo?
Sim, mas talvez a preocupação com a segurança tenha tido um peso um pouco maior.
Elder Dias — Isso pode ser deduzido também pela votação do delegado Waldir Soares (PSDB), eleito deputado federal, e de seu colega de Assembleia Mané de Oliveira (PSDB). O tema segurança pública será realmente o centro do seu foco como parlamentar?
Penso que essa é a minha missão. Acredito que as pessoas votaram em mim por entender que tenho uma história de dedicação, de competência e que, ali, eu consegui cumprir com o que a função exige. E minha intenção é priorizar o tema, no aspecto imediato, ou “stricto sensu”, da segurança pública, sobre condições de trabalho aos policiais, plano de carreira, enfim, investimento diretos em segurança.
Mas também temos de investir naqueles aspectos que, às vezes, as pessoas não entendem como segurança pública, mas que têm impacto no setor: políticas sociais. Uma das minhas prioridades na campanha e que será foco do meu mandato são as políticas de inclusão da juventude — primeiro emprego, capacitação profissional para os jovens. Quero também que meu mandato priorize o combate à violência contra a mulher. O fortalecimento das delegacias de proteção à mulher; criação das delegacias no Estado; criação dos juizados de atendimento à mulher no interior, pois só temos dois em Goiânia; a criação das casas-abrigo para que as mulheres ameaçadas sejam recebidas com seus filhos e se sintam seguras. Mas também conscientização sobre a violência doméstica, para que a mulher sinta paz em seu lar; campanhas educativas. Outra questão que impacta na segurança: a ressocialização do adolescente em conflito com a lei. Precisamos pensar mais nisso e investir nesse fator. Às vezes, temos de internar os adolescentes em conflito com a lei, mas não pensamos em ressocialização. Por fim, acredito que, como servidora pública, quero ser representante de todos os servidores do Estado.
[caption id="attachment_27992" align="alignleft" width="150"]Marcos Nunes Carreiro — A sra. conhece o sistema da segurança pública por dentro e citou a ressocialização, uma questão que está prevista na legislação penal brasileira, mas que não funciona. Por quê? A ressocialização está prevista no Código de Execução Penal brasileiro. Ou seja, o objetivo da pena não é a vingança da sociedade, mas que a pessoa se ressocialize e retorne à sociedade capaz de viver de forma pacífica, principalmente considerando que não temos, no Brasil, pena de morte ou perpétua. Temos um sistema muito problemático, que não cumpre seus objetivos, nem em Goiás nem no Brasil. Nós temos uma imensa quantidade de presos no País. Somos um dos países que mais encarceram pessoas e isso nos leva a perceber que essa não é a solução, simplesmente. Precisamos investir na ressocialização. Eu não só fui delegada no interior, como fui diretora de minipresídios. Sempre participei dessas discussões. Como delegada-geral da Polícia Civil, enfrentei uma crise, que foi a superlotação das delegacias de Goiânia e da região metropolitana, inclusive cerceando o trabalho de investigação dos policiais. Essa é uma questão grave e, para mim, o caminho é o trabalho e o estudo para essas pessoas. Que o presídio seja um local onde isso seja possível. Entretanto, a superlotação hoje impede que tenhamos trabalho e estudo para os reeducandos — que é o nome que a legislação confere às pessoas encarceradas, porque esse é o objetivo. Ou seja, precisamos repensar esse objetivo e criar formas para que essa pessoa seja ressocializada, principalmente o jovem e o adolescente. As pessoas não sabem, mas temos centenas de adolescentes internados — termo que usamos para os adolescentes presos. E temos de investir nessa ressocialização. Uma de nossas principais propostas de campanha é encontrar uma forma de, como deputada estadual, criar em Goiás um programa que invista na oportunidade, nos moldes do Cidadão 2000, que beneficiou milhares de jovens. Ou seja, antes de ele se tornar um jovem infrator, precisamos lhe dar atenção. Antes que ele seja aliciado, precisamos cuidar dele. E isso funcionava no Cidadão 2000, criado por meu pai, mas que foi ampliado na gestão de Nion Albernaz (PSDB) e continuou na de Pedro Wilson (PT), mas que infelizmente acabou. Frederico Vitor — O Cidadão 2000 é um programa que pode ser retomado? Mais que isso, ele pode produzir bons resultados? Fui contra seu fim e entendo que é preciso retomar a ideia, que é: até os 14 anos, no horário em que não esteja na escola, que o menino ou a menina tenha uma atividade esportiva ou cultural. Na época, só tínhamos o futebol. Hoje, há mais alternativas. Existem outros esportes que a juventude tem gostado. Que esse menino ou menina possa também aprender uma profissão dentro do que a lei permite. Depois da escola, ou antes, que ele passe um período aprendendo uma profissão. E que ele saia dali com um emprego garantido. Isso funcionou muito bem com o Cidadão 2000 em Goiânia, em parceria do município com os empresários. Sinto que, hoje, se fizermos essa proposta em Goiânia e em Goiás, teremos apoio da sociedade. Há empresários e comerciantes que foram alunos do Cidadão 2000 que querem nos ajudar nisso agora. Precisamos atuar contra esse extermínio da juventude humilde e negra que acontece em Goiás e no Brasil. Para os adolescentes já em conflito com a lei, precisamos ter locais adequados para a internação. Precisamos de vagas suficientes. Tivemos, há poucos dias, a libertação de cem adolescentes infratores em Goiás, em razão da falta de local. Nós não temos um local adequado, não temos um presídio juvenil. Se as pessoas pensam que esse adolescente será internado e não voltará mais, elas estão enganadas. Ele retornará, e em breve, assim como os adultos — que, muitas vezes, voltam em três dias. O adolescente é altamente influenciável. Não que eu pense que ele não saiba o que está fazendo. Ele sabe, mas é mais vulnerável. Nesse sentido, o projeto Cidadão 2000 era muito importante para a segurança pública. No último ano antes de ser fechado, o programa já não funcionava muito bem. Mas eu era chefe da DPCA e, portanto, responsável por investigar os homicídios de todas as pessoas menores de 18 anos. O programa foi extinto, se não me engano, em novembro de 2008. Naquele ano, tivemos 20 assassinatos de menores. No ano seguinte, esse número subiu para 70 e, depois, só foi aumentando. Isso porque não foi criada nenhuma alternativa de oportunidade para esses meninos e adolescentes. Como deputada, preciso pensar nisso para todo o Estado, para que as cidades tenham condição. Hoje, diferentemente do período em que o Cidadão 2000 foi criado, há verba federal destinada para esse tipo de programa. Mais do que isso, acredito que a sociedade civil quer e vai participar de uma iniciativa dessas. É uma política que encaro também como ligada à segurança pública. Elder Dias — A sra. priorizará a segurança como tema na Assembleia. Mas quais serão suas linhas de trabalho? Quero levar minha experiência como delegada à Assembleia. Debater todas essas questões com a sociedade e com os demais parlamentares e chamá-los para conversar sobre isso. Por isso, acho importante participar da Comissão da Segurança Pública com o Major Araújo (PRP), para que ali possamos levantar essas questões. Além disso, teremos oportunidade de dialogar com os colegas da segurança pública, com os que atuam na área de violência doméstica contra crianças, com as pessoas que tentam resgatar quem está em situação de rua. O diálogo será o princípio de nosso mandato, seja com os movimentos sociais, seja com os colegas de todas as polícias. Não só os da Polícia Civil — embora seja com ela que eu tenha maior proximidade, é minha casa, conheço quase todo mundo e de que me sinto representante —, quero também quero ser a representante das demais polícias: da Polícia Militar, dos Bombeiros, da Agência Prisional, que é a polícia penal, como chamamos os agentes prisionais, e também das guardas municipais e da Polícia Técnico-Científica. Temos como proposta que tenhamos delegacias modelo em todo o Estado, que durem por muitos anos. Cada cidade, muitas vezes pela prefeitura, oferece uma casa para servir de delegacia, um local quase sempre inadequado. Precisamos pensar na dignidade do trabalhador e em sua segurança, bem com na segurança de quem visita — precisamos ter entradas separadas para visitas e autor do crime. É preciso ter um local para o policial que fica ali a noite toda, um local para pessoa que está detida conversar com seu advogado. Quero trazer para a discussão as oportunidades para a juventude, a inclusão de todos os meninos e meninas na perspectiva de uma vida digna. A preocupação em relação à criminalidade juvenil é voltada para soluções paliativas e ilusórias, como redução da maioridade e pena de morte. Temos de pensar nas causas. Temos que acolher a juventude antes que os criminosos façam isso. Acredito que a questão da violência contra a mulher em Goiás está seriíssima. Talvez não tenhamos pesquisas aprofundadas a respeito, mas quero fazer isso em meu mandato, pesquisar as mulheres que foram vítimas de feminicídio em Goiás, saber onde houve a falha, se ela procurou a polícia, se tinha onde abrigar, se ela não acreditou que a lei a protegeria, ou se ela procurou a lei, mas não foi protegida. Será que foi a Justiça que não decretou a medida protetiva que está na lei Maria da Penha? Enfim, o que aconteceu para que tenhamos o aumento de 150% dos assassinatos de mulheres em Goiás? Frederico Vitor — Isso não seria o reflexo da cultura machista que ainda está impregnada em Goiás? Claro que sim. Ao mesmo tempo em que temos de fortalecer as ferramentas de combate ao crime e a impunidade, devemos fortalecer os mecanismos de proteção à mulher. É preciso criar em todo o Estado os juizados de atendimento à mulher que estão preconizados na Lei Maria da Penha. Há medidas que tem de ser tomadas na hora, como as medidas protetivas. Se o agressor se aproximar tem de ser preso, tem de sair a medida judicial de prisão imediatamente. Isso não está acontecendo hoje, por falta desse instrumento. Nós temos de ter as casas-abrigo onde as mulheres se sintam protegidas e seguras. Nós não podemos simplesmente dizer “mulher, denuncie a violência”, pois temos de protegê-la. Ela e seus filhos precisam ser protegidos. Nessa casa, ela receberia atendimento jurídico para que possa ter seus direitos respeitados, além de médicos e psicólogos. Mas, ao mesmo tempo em que precisamos dessas medidas protetivas, nós temos de fazer uma campanha de conscientização ampla e profunda em Goiás. Precisamos sensibilizar as autoridades para compreender o contexto complexo da violência doméstica. Faz parte da minha carreira, também, o combate à violência contra a criança e o adolescente. Em Goiás nós temos medidas importantes a serem tomadas que não são difíceis, mas teriam impacto muito forte, como a criação das Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente, porque o atendimento especializado faz a diferença — mais de 90% dos casos são em ambiente familiar. Outra medida é a criação de uma vara especializada. Estive há vários anos na CPI da Pedofilia na Assembleia Legislativa de Goiás, convidada pelo então deputado Fábio Souza (PSDB). Fomos juntos reivindicar a criação dessa vara e, infelizmente, até hoje, o Tribunal de Justiça não se sensibilizou. Temos varas, e mais de uma, para julgar crimes contra o patrimônio, crimes relacionados a finanças, para o adolescente infrator, mas não há nenhuma para atender à criança vítima de violência. Isso faz com que tenhamos casos com anos e anos para serem julgados, alguns com até oito anos. Isso significa impunidade, em especial porque sabemos que é um dos crimes que têm um número mais alto de reincidência. Isso não poderia acontecer. Outra medida que já reivindicamos, e esta conseguimos —– fiz parte dessa conquista, por um breve período —, foi a sala do depoimento sem dano para crianças. É algo que existe em vários Estados e foi idealizado por um juiz de família de Porto Alegre, dr. José Antônio Daltoé Cezar; que veio a Goiânia a nosso convite e explicou a importância dessa medida para evitar a revitimização das crianças. Nessa sala, a criança conta sobre as violências que foram praticadas contra ela a um profissional da psicologia ou assistente social. Tudo é presenciado, por meio de uma câmera, na sala do juiz, para que a criança não tenha que repetir a cena de violência para juiz assistente, promotor assistente, advogado do réu, réu e, às vezes, até para estagiários de Direito. Isso é para evitar o trauma, a revitimização. São medidas que não são caras e que são possíveis que façamos aqui. A priorização da ressocialização do adolescente, em situação de conflito com a lei, é também importante para mim. Hoje, um dos desafios que nós temos no Brasil é o assassinato de jovens, em especial da juventude humilde, da juventude negra. É uma preocupação em todo o País e existem vários projetos, com apoio financeiro da Secretaria Nacional de Segurança Pública, que se relacionam a medidas de combate à impunidade dos assassinatos e também de inclusão social da juventude vulnerável. Estou conhecendo-os para trazê-los para Goiás. São prioridade que tenho, como deputada. Os jovens foram se afastando da política, pelo descrédito. Se trabalharmos com um canal de diálogo honesto, realmente abertos, pode haver uma reaproximação. Marcos Nunes Carreiro — A sra. participou do governo Marconi Perillo como delegada-geral da Polícia Civil e teve um trabalho bem sucedido, com boa relação com o governador. A sra. saiu de lá para ser secretária de Defesa Social em Goiânia e, agora, foi eleita deputada pelo PT. Como a sra. vê a oposição que será feita ao governador Marconi na Assembleia? Primeiramente, gostaria de esclarecer alguns fatos. Sou filiada ao PT desde os 16 anos e sou militante desde os 13. Nunca isso foi omitido do governador ou do então secretário de Segurança [João Furtado]. Acredito que eu fui convidada — e isso foi dito por ambos — por meu perfil técnico e por meu trabalho. Minha opção partidária e meu pensamento político sempre foram respeitados pelo governador. Ele, inclusive, me disse pessoalmente — e dizia isso frequentemente em seus discursos — que respeitava minhas ideias e que ninguém teria autorização para me coagir de alguma forma a mudar de partido. Isso foi colocado claramente sempre, assim como também deixei claro que tinha intenção de, no futuro, talvez ser candidata pelo Partido dos Trabalhadores. Jamais cogitei de deixar o PT. Tudo foi respeitado pelo governador Marconi Perillo e pelo secretário João Furtado. Minha saída do cargo ocorreu de forma amigável, pacífica. Vejo que tenho o respeito do governador como profissional. Como deputada, desejo continuar com meu perfil técnico, atuando dentro do que acredito. Temos de ter lealdade partidária: o que decidimos como partido — e é nele o momento de colocarmos nossas opiniões e divergências — obviamente eu seguirei. O governador, como político experiente, entenderá isso, até por sempre ressaltar o respeito à democracia em seus discursos. Procurei aprender muito com a sabedoria política de meu pai e uma coisa que seja parte do legado dele a mim é o respeito às opiniões diferentes, à democracia e aos outros partidos. As pessoas têm direito de ter pensamentos diferentes e de debatê-los. Isso é o melhor da democracia. Então, haverá momentos em que eu discordarei e outros em que concordarei. Nos projetos que entender que serão benéficos à segurança pública, a seus servidores e ao funcionalismo em geral, o governador terá meu apoio. Também levarei a ele várias demandas, como já fiz como delegada-geral e, o que é normal, com algumas ele concordou e outras, não. Vejo com alegria a criação do Centro de Triagem das pessoas presas, que foi uma ideia de que participei dentro da Polícia Civil. Estávamos sofrendo com a superlotação das delegacias, o que estava impondo obstáculos a fazermos nosso trabalho. Fizemos parte da idealização dessa obra que agora foi inaugurada. Como delegada-geral levei o pedido e o dr. João Furtado teve a ideia do Centro de Triagem. Os policiais já são poucos, precisam ser liberados para seu trabalho. Enfim, creio que eu e o governador teremos uma convivência respeitosa, ainda que tenha pontos em que discordaremos.Foto: Reprodução[/caption] A questão da violência contra a mulher está seriíssima. O que aconteceu?”
“A lealdade ao partido é importante, assim como à população”
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