Resultados do marcador: de 1982 a 2010

Desde o retorno das eleições diretas para governador, em 1982, apenas Marconi, Maguito e Alcides conseguiram vencer de virada
[caption id="attachment_6897" align="alignleft" width="620"] Marconi Perillo (à direita) impôs a primeira derrota a Iris Rezende (esquerda) na disputa pelo governo em 1998[/caption]
Afonso Lopes
Histórico das eleições anteriores serve como parâmetro para eleições futuras? Nem pensar. No máximo, servem apenas como parte da história. Cada eleição, de certa forma, faz a sua própria história, e isso é a única coisa que realmente vale. Ainda assim, é curioso observar nas curvas ascendentes e descendentes das campanhas eleitorais de Goiás alguns fatos. Foram oito disputas desde 1982 — 82, 86, 90, 94, 98, 2002, 2006 e 2010. Em quatro delas, candidatos que começaram atrás acabaram vencendo, em 94, 98, 2002 e 2006. Em três, os favoritos venceram, e em apenas uma disputa o jogo começou empatado e se definiu durante a campanha.
Marconi Perillo é o detentor do recorde de viradas nas disputas para o governo. Foram duas, incluindo o histórico desempenho de 1998, que acabou significando a queda do império poderoso do até então imbatível PMDB. Maguito Vilela, prefeito reeleito de Aparecida de Goiânia, e Alcides Rodrigues, cada um com uma virada eleitoral, fecham o quadro.
Início arrasador
As três primeiras eleições pós-abertura, no início da década de 1980, registraram um PMDB absolutamente arrasador. Em 1982, Iris Rezende aplicou uma surra magistral em Otávio Lage sem correr qualquer tipo de risco e com direito a se colocar entre os mais votados do país proporcionalmente. Embora o resultado não tenha registrado qualquer surpresa, porque era essa exatamente a perspectiva dominante entre a população, o feito de Iris foi notável, num país que ainda era governado por generais e que convivia com frequente ameaça de retrocesso. Houve prudência e bastante habilidade para não tematizar nacionalmente a eleição de Goiás, evitando assim qualquer choque com os “urutus” de Brasília. Nessa época, ainda não se tinha pesquisa eleitoral, que começou mesmo somente quatro anos depois, em 1986. O candidato do PMDB, após um duríssimo processo de disputa interna que resultou na saída do ex-presidente regional do partido, Mauro Borges, foi Henrique Santillo, então senador da República. Desde a primeira pesquisa, o peemedebista apareceu com vantagem contra o ex-peemedebista Mauro Borges, já líder pela oposição. Ou seja, foi uma eleição de PMDB contra PMDB. Ganhou quem começou melhor, mas os últimos momentos se tornaram eletrizantes. Ao longo dos meses, enquanto a candidatura de Santillo perdia fôlego, Mauro crescia. As pesquisas na época ainda não conseguiam captar exatamente o quadro eleitoral de todo o Estado, e em Goiânia, Mauro e Santillo disputavam voto a voto, com essa sensação se refletindo como se fosse global. Não era. Enquanto em Goiânia a eleição foi definida a favor de Santillo por pouco mais de uma dúzia de votos, o interior despejou uma frente de 200 mil votos para o PMDB. Iris Rezende voltou em 1990 como oposicionista do governo do peemedebista Santillo. Mais uma vez, era PMDB contra PMDB, e quem se beneficiou muito com essa briga familiar-partidária foi Paulo Roberto Cunha, da oposição. Naquela campanha, e pela primeira vez em Goiás, a disputa quase foi definida por um jingle. A candidatura de Paulo Roberto era amparada, nos programas eleitorais do rádio e da TV por uma melodia harmoniosa e deliciosamente pegajosa que insistia no refrão “tá certo, Paulo Roberto, Paulo Roberto tá certo”. As pesquisas indicavam constante crescimento de Paulo Roberto e já se especulava sobre a possibilidade de haver segundo turno entre os dois quando um fato pode ter modificado esse quadro. Semanas antes da eleição, Iris Rezende escapou da morte num acidente de carro quando retornava a Goiânia após campanha no interior. Iris foi internado num hospital em Goiânia e se submeteu a várias cirurgias para sobreviver. As atenções políticas, que estavam beneficiando muito a campanha alto astral de Paulo Roberto, se voltaram para os boletins médicos. Iris deixou o hospital e participou do comício de encerramento da campanha, no bairro de Campinas. Foi uma cena profundamente marcante e certamente inesquecível para quem a viu: Iris, com gesso do pescoço para baixo e apenas com as mãos descobertas, discursou, sorriu e acenou com as mãos à altura da cintura, com os braços e todo o tórax cobertos pelo gesso.Primeira virada
Com o PMDB totalmente pacificado em torno da liderança de Iris Rezende, a eleição de 1994 marcou por alguns fatos. Foi a primeira vez, e única até hoje, que três candidaturas, embora representantes de apenas dois grandes eixos, disputaram a eleição palmo a palmo: Maguito Vilela, pelo PMDB, e Ronaldo Caiado e Lúcia Vânia, ambos pelo eixo oposicionista. Também foi na eleição de 1994 que aconteceu a primeira virada e houve a estreia da disputa num segundo turno. As pesquisas já estavam bem mais abrangentes, e registraram cada passo das candidaturas e dos humores do eleitorado. Maguito começou em último e Caiado largou na frente, com Lúcia Vânia poucos corpos atrás, em segundo. Ao longo da campanha de retórica mais agressiva de Goiás, aconteceu um sobe/desce entre os candidatos oposicionistas enquanto Maguito cresceu aos poucos e sem parar. No final do primeiro turno, o peemedebista venceu, com Lúcia se classificando para o segundo turno com pouquíssima frente sobre Caiado. Depois disso, foi um passeio. Maguito selou a vitória e confirmou a virada sem maiores problemas.