Os apresentadores de TV noticiaram de semblante fechado a monstruosidade do Hamas contra os jovens de Israel em outubro de 2023. No mês seguinte, os mesmos profissionais fizeram cara ainda mais feia para comunicar a vitória de Javier Milei na Argentina.  Nas eleições municipais do Brasil, novas caretas para informar: os 6 partidos que mais elegeram prefeitos são de direita. Neste mês, chorereu pela vitória de Donald Trump sobre Kamala Harris na Casa Branca e no Capitólio. Se mídia e socialistas/comunistas/democratas não souberem reagir, só lhes restará o infarto fulminante.

Não há figura de linguagem mais branda. Daí, a ginástica facial da imprensa para narrar os fatos. Quando estive na política, autodenominar-se de direita era quase um suicídio. Tratar alguém como tal incorria em ofensa à honra. Corri esse risco nos 9 anos e meio em que estive senador. Às vezes, alguém visita os arquivos e me procura assombrado com os pronunciamentos e alguns dos 2.000 relatórios que escrevi. Sim, enfrentei a fúria.

E a esquerda não usa metáfora, desce o porrete sem semântica e a lâmina no pescoço sem dó. Talvez, venha daí a avidez dos contrários por nocauteá-la, conforme mostraram Tio Sam, os argentinos e as urnas eletrônicas brasileiras. Circulo mais que guia de turismo e escuto tanta coisa que daria um dicionário de impropérios contra o PT e seus aliados, uns merecidos, outros nem tanto. Concorde ou não, nem esboço defesa, pois o ódio está em cada sílaba. Mesmo nas críticas mais ácidas ao governo, meu repertório de ofensas no Senado seria vocabulário de freira se comparado aos palavrões anticompanheirada.

É o caso da semana com 4 dias de trabalho e 3 de folga, a 4X3 no lugar da 6X1, discussão que está no Congresso, com ônus (muito) e bônus (ainda não vi unzinho sequer) para o Executivo.  O dono da borracharia comenta enquanto calibra os pneus que custa a dar conta do serviço no ritmo 7X0 e os congressistas, divorciados da realidade dos pequenos negócios, obrigando um país continental a se submeter à reivindicação de quem nunca assinou sequer uma carteira, nem a própria. Por isso, entre os surrados pelos votos nas diferentes nações não têm sido apenas os políticos de esquerda, mas também seus macaquinhos de realejo na imprensa e seus fantoches nas empresas de pesquisa.

Ventríloquos e seus operadores de mamulengo perderam o respeito pela sociedade. Adeptos da preguiça, omitem que a moçada do Brasil real tem lida diuturna. Com ou sem emprego fixo, monta loja on-line, vende nos grupos de WhatsApp, vai dirigir carro e moto por aplicativo. Enfim, se vira em 2/3 das 24 horas e nas demais ainda fica farejando oportunidades. Os progressistas querem o ócio e o povo quer fazer negócio. Quem é mesmo que deseja o progresso?

Nota-se o desarranjo igualmente quanto aos produtores rurais, inclusive os da agricultura familiar. Quer fazer um tanque de piscicultura para ganhar um dinheirinho e abastecer a despensa? Desiste no enésimo fiscal que bate na porteira exigindo outorga.

Conforme lembrava meu saudoso suplente José Eduardo Fleury, as cidades emporcalham os rios, porque a verba de saneamento vira esgoto nos cofres dos atravessadores, e o culpado é o fazendeiro multado pela poluição que não produziu. Deus abençoou o Brasil com petróleo do Amapá ao Rio Grande do Sul e sempre surge um burocrata para impedir a extração, pois a dona de casa tem mais é que tirar do salário mínimo os R$ 38 do pacote de arroz.

A revolta da população em 2013 resultou no apoio à Lava Jato em 2014 e na vitória de Jair Bolsonaro em 2018. Os sábios pendurados nas folhas de estatais riam de Bolsonaro como os saltitantes das costas Leste e Oeste gargalhavam de Trump.

As campanhas que tentam derrotá-los prometem vagas na administração sem revelar que quem vai pagar a conta não serão os folgados da 4X3, mas o motorista da 4X4. Quando as classes D/E descobrirem que as bolsas recebidas são bancadas por elas mesmas, as ruas se encherão de manifestantes, as mídias ficarão lotadas de mensagens e as urnas, repletas de votos para quem combate isso tudo que está aí. E tal revolução permanece em marcha.

Mesmo quem nem desconfia que há diferença entre centro, direita e esquerda já coroou maioria de filiados a siglas nada vermelhas.

Para dar ideia da goleada, somando-se só os partidos que elegeram mais de 100 prefeitos, 4.279 municípios serão governados por conservadores (PSD, MDB, PP, União Brasil, PL, Republicanos, Avante e Podemos). E os, digamos, de esquerda não chegarão a 1.000 (PSB, PSDB, PT e PDT). Está à beira do buraco e ávida por dar um passo à frente.

Pouco tem adiantado levar pastores ao Planalto, anunciar financiamento de safra, disfarçar proximidade com a ditadura da Venezuela. O rapaz da borracharia (que deve estar no CadÚnico, não perguntei) sabe quem é Nicolás Maduro e quanto já foi emprestado para Caracas. Essa eu perguntei. Resposta: “É mais que o passe do Neymar”.

O craque saiu do Barcelona em 2017 por 222 milhões de euros e do PSG em 2023 por 90 milhões de euros. Jogou na Arábia Saudita o equivalente a meia dúzia de partidas. Mantida a média das últimas transações, seus direitos federativos estão em 30 milhões de euros ou R$ 183,6 milhões na cotação de 12 de novembro de 2024. 

ó a dívida já vencida da Venezuela com o BNDES supera US$ 1 bilhão. Meu amigo borracheiro errou feio. O débito chavista, para cobrar apenas os R$ 6 bilhões que já passaram da hora de ser quitados, supera o passe de Messi, na faixa dos R$ 700 milhões, e da seleção canarinho inteira. Depois, não adianta lamentar o triunfo de um Trump com topete verde-amarelo que a mídia apresentará como quem acaba de ver o diabo vestindo Prada.

Por Demóstenes Torres Ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, procurador de Justiça aposentado e advogado.

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