“Tivemos um ano de muita instabilidade no Brasil”, é assim que o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, abre sua fala na coletiva de imprensa para balanço da produção agropecuária no estado de Goiás em 2024. Apesar da instabilidade climática e econômica no cenário nacional, o representante do agro goiano apresenta cenário geral positivo, com algumas variações a depender do setor. “O produtor, de uma forma geral, ele conseguiu evoluir, conseguiu suplantar e venceu o ano de 2024”, comemora Schreiner. 

No balanço apresentado pela Faeg, as exportações de carne bovina e de açúcar em 2024 apresentaram crescimento de, respectivamente, 18% e 31% em comparação a 2023, em Goiás. Ao mesmo tempo, a soja em grão, o farelo de soja e o milho tiveram queda no comércio exterior. A soja em grão e em farelo sofreram queda de 13% e 25%, respectivamente, enquanto a exportação do milho sofreu redução de 44% em comparação com 2023.

Em suas falas, o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, cita os eventos climáticos que acometeram o país (especialmente a seca intensa) como fatores que explicam a queda na produção e, consequentemente, na exportação. “Isso redundou numa colheita menor para o Brasil e também para o estado de Goiás”, explicou Schreiner. O setor dos grãos foi o mais afetado em Goiás. 

Quando se pensa em valores absolutos da exportação agropecuária em Goiás, os US$5.6 bilhões vindos da exportação da soja em grão em 2023, sofreram queda, indo para US$4.8 bilhões neste ano. A soja em farelo foi de US$1.3 bilhões para US$981 milhões. O produto que sofreu maior impacto de um ano ao outro foi o milho, indo de US$1.1 bilhões em valores recebidos da exportação em 2023 para US$653 milhões em 2024. 

Segundo dados apresentados na coletiva de imprensa, os setores que registraram alta no comércio exterior em Goiás foram a carne bovina e a cana de açúcar. “Carnes, nós exportamos para mais de 160 países”, o presidente da Faeg exemplifica a pungência do setor que cresce. Em valores reais a alta da carne representa salto de US$1.3 bilhões em 2023 para US$1.5 bilhões neste ano. Já a cana de açúcar viu os valores recebidos do comércio exterior saltarem de US$438 milhões em 2023 para US$574 milhões neste ano.

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A expectativa geral para 2025 é de melhora na safra, especialmente na de grãos, até por melhores perspectivas nas condições climáticas, e estabilidade no preço das carnes. A Faeg orienta “gestão e cautela” aos produtores, considerando as possíveis flutuações no mercado financeiro internacional, que influenciam o mercado interno. As previsões da Federação é de que as 30 milhões de toneladas colhidas na safra geral goiana de 2024 tenham crescimento de 11%, passando para 34 milhões em 2025. O desejo é de que o aumento da produção seja acompanhado pelo crescimento da exportação. 

Reforma Tributária

Outro ponto destacado como positivo no balanço de 2024 foi a Reforma Tributária, aprovada no Congresso. “Nós vemos de uma forma muito positiva a Reforma Tributária para o setor agropecuário”, colocou o presidente da Faeg. A redução da carga tributária voltada para o setor do agronegócio é destaque que favorece a produção do setor no país. A adoção da alíquota geral em 40% para o setor, e a opção pela isenção total para agricultores e pecuaristas que faturam até R$3.6 milhões anualmente foram alguns exemplos citados por Schreiner. 

Além disso, a retirada dos produtos conhecidos como agrotóxicos ou defensivos agrícolas tiveram taxação aliviada, o que foi visto como positivo pelo setor. “Produtos que poderiam ser incluídos no Imposto do Pecado, nós conseguimos fazer com que todos entendessem que eles são extremamente necessários”, explica o representante do setor. 

Por fim, o presidente da Faeg elogia a atuação da frente parlamentar em defesa do agronegócio e das instituições da sociedade civil que representam o setor na “defesa intransigente” dos produtores na Reforma Tributária. “O setor agropecuário, sem dúvida nenhuma, conseguiu ser colocado de uma forma bastante valorada”, resumiu.

Críticas

Durante sua fala, o presidente da Faeg conjuga as condições climáticas e a postura do mercado financeiro nacional e internacional como algumas das responsáveis pelas quedas vividas no agronegócio goiano em 2024. 

Para Schreiner, o “descontrole econômico do Brasil” com “corte nos gastos de forma superficial” leva a um aumento na inflação, elevação das taxas de juros e do dólar. “Serão necessárias medidas austeras, medidas de ajuste fiscal do governo”, cobra o representante do agronegócio. “Se o Governo Federal não tomar decisões necessárias para o combate ao desequilíbrio fiscal, sem dúvida nenhuma, nós podemos amargar aí taxas extremamente altas”, resumiu ao defender a independência do Banco Central, que já deu previsão de dois aumentos da taxa Selic em 2025.

Como boa parte dos insumos para a produção agropecuária vem do exterior, a flutuação das taxas e do dólar não é bem vista pelo setor. Apesar dos desacordos com as políticas da atual gestão federal, Schreiner se mostra otimista com a presidência de Gabriel Galípolo no Banco Central. Para o representante do agro, Galípolo apresenta “uma coerência com relação à realidade do Brasil e com a independência que o Banco Central requer”.