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Os militantes peemedebistas perdem tempo discutindo a irisdependência quando deveriam articular um líder, ao estilo do tucano, para se firmar tanto em Goiânia quanto no Estado

Daniel Vilela, Agenor Mariano, Bruno Peixoto, Lívio Luciano, Clécio Alves, Celia Valadão e Wagner Siqueira: por que nenhum deles se habilita a assumir a liderança de fato do PMDB em Goiânia e em Goiás? Porque temem Iris Rezende | Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção
Daniel Vilela, Agenor Mariano, Bruno Peixoto, Lívio Luciano, Clécio Alves, Celia Valadão e Wagner Siqueira: por que nenhum deles se habilita a assumir a liderança de fato do PMDB em Goiânia e em Goiás? Porque temem Iris Rezende | Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção

O jornalismo por vezes parece “maria vai com as outras”. Por isso, as colunas de notas e as reportagens “informam”, de maneira constante e insossa, que Iris Rezende, o decano do PMDB de Goiás, “vai ser candidato” e, em seguida, “não vai ser candidato”. É quase um jogo de faz-de-conta, que, se alimenta o noticiário político, nada acrescenta. Talvez sirva tão-somente às táticas e à estratégia do decano peemedebista, que fará 83 anos em dezembro.

O que se precisa discutir é: por que o PMDB precisa tanto de Iris Rezende e deriva seus projetos a partir do dele? Mais: por que os peemedebistas, sabendo que o país busca a mudança e a renovação, não ousam enfrentar o cacique político? O PMDB perdeu cinco eleições consecutivas para governador em Goiás, em dezoito anos. O motivo é prosaico: o partido não se renovou, não mudou seus personagens, notadamente os protagonistas. Iris Rezende perdeu três eleições para governador, sempre para Marconi Perillo. Por que tantas derrotas? Porque o veterano representa o “velho” — no sentido de arcaico, de superado. Seu discurso sempre torna o discurso de Marconi Perillo mais contemporâneo dos indivíduos de seu tempo. Até a linguagem do peemedebista é nostálgica, quer dizer, é dominada pelas vozes do passado. Há uma desconexão profunda entre o que pensa e diz e os goianos reais.

O leitor por certo perguntará: se é um homem do passado, por que foi eleito duas vezes para prefeito de Goiânia, em 2004 e 2008, e aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para a disputa deste ano? Porque se trata de uma referência política e, ante o vazio político, ganha foros de consistência. Porém, como a história não se repete — exceto, diria Karl Marx, como tragédia e, em seguida, como farsa —, a possibilidade de ser derrotado em 2 de outubro é alta.

Hoje, sem tirar nem pôr, há três tipos de peemedebista. Primeiro, os anódinos — que só pensam no próprio projeto político, lixando-se para o projeto partidário de curto, médio e longo prazo. Alimentam-se unicamente do presente — como as crianças.

Segundo, as viúvas de Iris Rezende. Vivem às expensas do veterano político, por isso abancam-se no seu escritório político, no Setor Marista, fazem proselitismo o dia inteiro, ajudando-o a receber visitantes, para trabalhar pelo lançamento de sua candidatura a prefeito. São aqueles que precisam de cargos para garantir a sobrevivência política e, por vezes, até a pessoal. São conhecidos como “rêmoras humanas”.

Terceiro, há os políticos, como Daniel Vilela e José Nelto, que se postam como adversários internos de Iris Rezende, mas a quem falta tutano para levar o enfrentamento o mais longe possível. Recentemente, o grupo se uniu e derrotou o “laranja” que o ex-governador de Goiás queria pôr na presidência do PMDB em Goiás. Infelizmente, os não-iristas não tiram as lições devidas da derrota que impuseram ao decano.

A primeira lição deveria ser: “Precisamos renovar o PMDB por completo. Portanto, precisamos lançar um candidato a prefeito de Goiânia, que, se eleito como ‘a’ renovação, acabará por ser decisivo na disputa para governador em 2018”. A escolha de um nome novo para disputar a prefeitura da capital sinalizaria que, na prática, o peemedebismo estaria se renovando de maneira efetiva. Há vitórias que, em termos estruturais, são derrotas. Uma vitória de Iris Rezende em Goiânia é mais uma vitória do peemedebista do que do PMDB. Porque será uma coisa passadista, não mudancista. Vitórias-solos não são o mesmo que vitórias coletivas, quer dizer, servem a indivíduos isolados, como Iris Rezende, mas não ao coletivo e não dizem respeito ao futuro. Digamos que Iris Rezende seja eleito prefeito em 2016. O que acontecerá? Poderá bancar Ronaldo Caiado para o governo em 2018, quando o presidente do DEM terá 69 anos. Mas não se trata de discutir idade, e sim de perceber que, no lugar de avançar — apostando, por exemplo, num político que pode simbolizar o novo, como o deputado federal Daniel Vilela, um garoto de pouco mais de 30 anos —, o PMDB estará, mais uma vez, recuando. O busílis da questão é: os líderes do PMDB não percebem que falam para o passado, mas, ao contrário deles, os eleitores percebem e não aprovam. O grupo de Marconi Perillo ganhou cinco eleições para governador não por que consegue montar estruturas mais caras, como critica o peemedebismo, e sim por que consegue se comunicar de modo eficiente com seus contemporâneos. O tucanato fala ao presente, dialogando com o futuro, enquanto o PMDB fala ao passado e, portanto, a um eleitor que não existe mais.

Pelo que se disse acima, fica-se com a impressão de que o “problema” do PMDB é única e exclusivamente Iris Rezende. Mas não é o que nós queremos sugerir. O peemedebista-sênior é um dos problemas, quiçá até o principal, mas não é o único. É fácil eleger um “culpado” e transferir a responsabilidade por todas as derrotas para ele. De fato, em 18 anos, Iris Rezende disputou o governo três vezes e um de seus pupilos, Maguito Vilela, hoje rebelado com o líder, duas vezes. O partido não abriu espaço para mais ninguém. Sobretudo, ninguém se rebelou, ninguém optou pelo enfrentamento, preferindo aderir à tese do homem cordial, escondendo as contradições e expressando-as apenas privadamente. Em 1998, se tivesse disputado o governo, Maguito Vilela possivelmente teria sido reeleito. Porém, por receio de “enfrentar” Iris Rezende, internamente, saiu do páreo e o PMDB perdeu e nunca mais voltou ao poder. Quando voltou a disputar o governo, em 2002 e 2006, Maguito não era mais “novidade”. Paradoxalmente, ao administrar Aparecida de Goiânia, recuperou parte de seu prestígio e popularidade.

Pode-se dizer que o PMDB tem militantes — Bruno Peixoto, Agenor Mariano, Lívio Luciano (emprestado ao governo do Tocantins), Waguinho Siqueira, Célia Valadão, Clécio Alves —, mas não tem verdadeiros líderes em Goiânia. Todos, literalmente todos, vivem à sombra frondosa de Iris Rezende, sem contestá-lo publicamente, sem ter coragem de dizer que precisa abrir espaço à renovação. Então, mesmo concordando que o peemedebista-sênior tenta travar a renovação, é preciso acrescentar que ninguém quer enfrentá-lo. O primeiro adversário que se deve vencer na política é interno, não é externo. Por isso, quem quiser se tornar líder de fato, precisa começar pelo enfrentamento direto com Iris Rezende. Porém, feito o enfrentamento, não se pode recuar. É preciso ganhar uma posição, como fez Daniel Vilela, ao ocupar a presidência do PMDB, contra o “laranja” de Iris Rezende, e avançar. O que se percebe é que o deputado federal ganhou uma posição, de fato importante, mas estagnou.

Em suma, Iris Rezende é uma pedra drummondiana no caminho da renovação do PMDB, mas o problema maior do partido é a carência de líderes. Falta entre seus integrantes alguém que, erguendo-se como líder, diga: “Iris Rezende não deve ser candidato a prefeito, porque é preciso pensar no partido, não em projetos-solos”. Mas quem tem coragem de dizer isto? Ninguém — nem mesmo Daniel Vilela, que, sim, é um sopro de renovação, mas ainda hesitante.

O que o PMDB precisa é de um líder que não tema nada — nem as velhas lideranças oligarcas ou quase-oligarcas. No fundo, o que o partido precisa mesmo é de um líder ousado, ou seja, de um Marconi Perillo. Este praticamente retirou Iris Rezende da política estadual, tornando-o um político municipal — circunscrevendo-o a Goiânia. O que falta ao PMDB é um líder, mas líder mesmo, que retire, de vez, Iris Rezende do proscênio. Se não fizer, o partido vai continuar ajudando Marconi Perillo a manter a hegemonia política em Goiás.

Então, se quer avançar e se não quer perder tempo com questiúnculas, os militantes do PMDB, os que querem ser líderes verdadeiros, precisam “aposentar” Iris Rezende e eles mesmos precisam sair de uma espécie de aposentadoria e assumir o comando partidário. Precisam ser mais Marconi Perillo e menos acomodados. Quem teme o confronto, optando pela ideia do homem cordial, das conciliações pelo alto, não pode ser líder. Pode até achar que é, pode até ser chamado de líder, mas não o é de fato.

O PMDB só vai ter um nome consistente para enfrentar Marconi Perillo, e seu grupo, quando finalmente conseguir, com um líder ousado, retirar Iris Rezende do palco. Enquanto estiver discutindo se Iris Rezende vai ou não ser candidato a prefeito de Goiânia, até como única opção, o partido poderá ganhar uma prefeitura importante, mas não o governo do Estado.