PMDB precisa produzir seu Marconi Perillo pra tirar Iris Rezende do páreo e assumir como líder

18 junho 2016 às 12h30

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Os militantes peemedebistas perdem tempo discutindo a irisdependência quando deveriam articular um líder, ao estilo do tucano, para se firmar tanto em Goiânia quanto no Estado

O jornalismo por vezes parece “maria vai com as outras”. Por isso, as colunas de notas e as reportagens “informam”, de maneira constante e insossa, que Iris Rezende, o decano do PMDB de Goiás, “vai ser candidato” e, em seguida, “não vai ser candidato”. É quase um jogo de faz-de-conta, que, se alimenta o noticiário político, nada acrescenta. Talvez sirva tão-somente às táticas e à estratégia do decano peemedebista, que fará 83 anos em dezembro.
O que se precisa discutir é: por que o PMDB precisa tanto de Iris Rezende e deriva seus projetos a partir do dele? Mais: por que os peemedebistas, sabendo que o país busca a mudança e a renovação, não ousam enfrentar o cacique político? O PMDB perdeu cinco eleições consecutivas para governador em Goiás, em dezoito anos. O motivo é prosaico: o partido não se renovou, não mudou seus personagens, notadamente os protagonistas. Iris Rezende perdeu três eleições para governador, sempre para Marconi Perillo. Por que tantas derrotas? Porque o veterano representa o “velho” — no sentido de arcaico, de superado. Seu discurso sempre torna o discurso de Marconi Perillo mais contemporâneo dos indivíduos de seu tempo. Até a linguagem do peemedebista é nostálgica, quer dizer, é dominada pelas vozes do passado. Há uma desconexão profunda entre o que pensa e diz e os goianos reais.
O leitor por certo perguntará: se é um homem do passado, por que foi eleito duas vezes para prefeito de Goiânia, em 2004 e 2008, e aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para a disputa deste ano? Porque se trata de uma referência política e, ante o vazio político, ganha foros de consistência. Porém, como a história não se repete — exceto, diria Karl Marx, como tragédia e, em seguida, como farsa —, a possibilidade de ser derrotado em 2 de outubro é alta.
Hoje, sem tirar nem pôr, há três tipos de peemedebista. Primeiro, os anódinos — que só pensam no próprio projeto político, lixando-se para o projeto partidário de curto, médio e longo prazo. Alimentam-se unicamente do presente — como as crianças.
Segundo, as viúvas de Iris Rezende. Vivem às expensas do veterano político, por isso abancam-se no seu escritório político, no Setor Marista, fazem proselitismo o dia inteiro, ajudando-o a receber visitantes, para trabalhar pelo lançamento de sua candidatura a prefeito. São aqueles que precisam de cargos para garantir a sobrevivência política e, por vezes, até a pessoal. São conhecidos como “rêmoras humanas”.
Terceiro, há os políticos, como Daniel Vilela e José Nelto, que se postam como adversários internos de Iris Rezende, mas a quem falta tutano para levar o enfrentamento o mais longe possível. Recentemente, o grupo se uniu e derrotou o “laranja” que o ex-governador de Goiás queria pôr na presidência do PMDB em Goiás. Infelizmente, os não-iristas não tiram as lições devidas da derrota que impuseram ao decano.
A primeira lição deveria ser: “Precisamos renovar o PMDB por completo. Portanto, precisamos lançar um candidato a prefeito de Goiânia, que, se eleito como ‘a’ renovação, acabará por ser decisivo na disputa para governador em 2018”. A escolha de um nome novo para disputar a prefeitura da capital sinalizaria que, na prática, o peemedebismo estaria se renovando de maneira efetiva. Há vitórias que, em termos estruturais, são derrotas. Uma vitória de Iris Rezende em Goiânia é mais uma vitória do peemedebista do que do PMDB. Porque será uma coisa passadista, não mudancista. Vitórias-solos não são o mesmo que vitórias coletivas, quer dizer, servem a indivíduos isolados, como Iris Rezende, mas não ao coletivo e não dizem respeito ao futuro. Digamos que Iris Rezende seja eleito prefeito em 2016. O que acontecerá? Poderá bancar Ronaldo Caiado para o governo em 2018, quando o presidente do DEM terá 69 anos. Mas não se trata de discutir idade, e sim de perceber que, no lugar de avançar — apostando, por exemplo, num político que pode simbolizar o novo, como o deputado federal Daniel Vilela, um garoto de pouco mais de 30 anos —, o PMDB estará, mais uma vez, recuando. O busílis da questão é: os líderes do PMDB não percebem que falam para o passado, mas, ao contrário deles, os eleitores percebem e não aprovam. O grupo de Marconi Perillo ganhou cinco eleições para governador não por que consegue montar estruturas mais caras, como critica o peemedebismo, e sim por que consegue se comunicar de modo eficiente com seus contemporâneos. O tucanato fala ao presente, dialogando com o futuro, enquanto o PMDB fala ao passado e, portanto, a um eleitor que não existe mais.
Pelo que se disse acima, fica-se com a impressão de que o “problema” do PMDB é única e exclusivamente Iris Rezende. Mas não é o que nós queremos sugerir. O peemedebista-sênior é um dos problemas, quiçá até o principal, mas não é o único. É fácil eleger um “culpado” e transferir a responsabilidade por todas as derrotas para ele. De fato, em 18 anos, Iris Rezende disputou o governo três vezes e um de seus pupilos, Maguito Vilela, hoje rebelado com o líder, duas vezes. O partido não abriu espaço para mais ninguém. Sobretudo, ninguém se rebelou, ninguém optou pelo enfrentamento, preferindo aderir à tese do homem cordial, escondendo as contradições e expressando-as apenas privadamente. Em 1998, se tivesse disputado o governo, Maguito Vilela possivelmente teria sido reeleito. Porém, por receio de “enfrentar” Iris Rezende, internamente, saiu do páreo e o PMDB perdeu e nunca mais voltou ao poder. Quando voltou a disputar o governo, em 2002 e 2006, Maguito não era mais “novidade”. Paradoxalmente, ao administrar Aparecida de Goiânia, recuperou parte de seu prestígio e popularidade.
Pode-se dizer que o PMDB tem militantes — Bruno Peixoto, Agenor Mariano, Lívio Luciano (emprestado ao governo do Tocantins), Waguinho Siqueira, Célia Valadão, Clécio Alves —, mas não tem verdadeiros líderes em Goiânia. Todos, literalmente todos, vivem à sombra frondosa de Iris Rezende, sem contestá-lo publicamente, sem ter coragem de dizer que precisa abrir espaço à renovação. Então, mesmo concordando que o peemedebista-sênior tenta travar a renovação, é preciso acrescentar que ninguém quer enfrentá-lo. O primeiro adversário que se deve vencer na política é interno, não é externo. Por isso, quem quiser se tornar líder de fato, precisa começar pelo enfrentamento direto com Iris Rezende. Porém, feito o enfrentamento, não se pode recuar. É preciso ganhar uma posição, como fez Daniel Vilela, ao ocupar a presidência do PMDB, contra o “laranja” de Iris Rezende, e avançar. O que se percebe é que o deputado federal ganhou uma posição, de fato importante, mas estagnou.
Em suma, Iris Rezende é uma pedra drummondiana no caminho da renovação do PMDB, mas o problema maior do partido é a carência de líderes. Falta entre seus integrantes alguém que, erguendo-se como líder, diga: “Iris Rezende não deve ser candidato a prefeito, porque é preciso pensar no partido, não em projetos-solos”. Mas quem tem coragem de dizer isto? Ninguém — nem mesmo Daniel Vilela, que, sim, é um sopro de renovação, mas ainda hesitante.
O que o PMDB precisa é de um líder que não tema nada — nem as velhas lideranças oligarcas ou quase-oligarcas. No fundo, o que o partido precisa mesmo é de um líder ousado, ou seja, de um Marconi Perillo. Este praticamente retirou Iris Rezende da política estadual, tornando-o um político municipal — circunscrevendo-o a Goiânia. O que falta ao PMDB é um líder, mas líder mesmo, que retire, de vez, Iris Rezende do proscênio. Se não fizer, o partido vai continuar ajudando Marconi Perillo a manter a hegemonia política em Goiás.
Então, se quer avançar e se não quer perder tempo com questiúnculas, os militantes do PMDB, os que querem ser líderes verdadeiros, precisam “aposentar” Iris Rezende e eles mesmos precisam sair de uma espécie de aposentadoria e assumir o comando partidário. Precisam ser mais Marconi Perillo e menos acomodados. Quem teme o confronto, optando pela ideia do homem cordial, das conciliações pelo alto, não pode ser líder. Pode até achar que é, pode até ser chamado de líder, mas não o é de fato.
O PMDB só vai ter um nome consistente para enfrentar Marconi Perillo, e seu grupo, quando finalmente conseguir, com um líder ousado, retirar Iris Rezende do palco. Enquanto estiver discutindo se Iris Rezende vai ou não ser candidato a prefeito de Goiânia, até como única opção, o partido poderá ganhar uma prefeitura importante, mas não o governo do Estado.