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A primeira pesquisa eleitoral depois da morte de Eduardo Campos deverá ser divulgada nesta segunda-feira, 18, pelo Datafolha em dois cenários presidenciais. Num dos cenários, está a cotação da sigla PSB sem o nome de candidato. No outro desenho, pede-se a intenção de votos em Marina Silva como candidata no primeiro turno, dentro de sete domingos.

A ansiedade com que a presidente Dilma aguarda as oportunidades que a propaganda eleitoral oferece ao confronto com os adversários ficou clara há uma semana. Em pleno domingo de Dia dos Pais, a presidente antecipou-se à exibição em mídia de massa. Sem rede oficial à disposição, quebrou o sossego das redações ao convocar uma entrevista coletiva, no bucolismo residencial do Palácio da Alvorada.

Em busca da audiência da televisão na noite de domingo, Dilma acusou a mídia e a oposição de produzirem “factoides políticos” para explorar a compra da Refinaria de Pasadena e lançar suspeitas sobre a Petrobrás e seus dirigentes. “Não é correto misturar eleição com a maior empresa de petróleo do país”, censurou como se fosse uma advertência à oposição.

Dilma se dirigia em especial a dois então concorrentes presidenciais, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), interessados na apuração do escândalo junto às duas CPIs que, mesmo controladas pelo governo, arriscam-se a investigar no Congresso a compra de Pasadena, o que estimulou o Tribunal de Contas da União a bloquear bens de dirigentes da petroleira.

Naquele domingo, o receio no palácio se agravou com a possibilidade de o TCU rever a decisão que livrou do bloqueio a primeira-amiga e presidente da Petrobrás, Graça Foster. Cada avanço sobre Foster é um passo que aproxima a investigação da própria Dilma, como presidente do conselho administrativo da petroleira na época da operação Pasadena.

Numa espécie de luto cívico, a morte de Eduardo Campos, na quarta-feira, colocou em recesso, naquele dia, os poderes institucionais em Brasília, salvo duas exceções no Supremo Tribunal Federal. Numa delas o ministro Gilmar Mendes negou-se a editar a liminar pedida por diretores e ex-dirigentes da Petrobrás para sustar o bloqueio de bens deles pelo TCU.

Porém, Mendes deixou em suspense a situação de Graça Foster, que mais tarde se incorporou ao grupo para se prevenir quanto à hipótese de seus bens também se tornarem indisponíveis. O ministro, sem a mesma ansiedade, preferiu deixar a decisão da liminar de Foster para depois de o TCU resolver se a inclui ou não no bloqueio — o que pode demorar.

Numa extensão das ansiedades do aparelho do Planalto, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, como quem não quer nada, advertiu que o bloqueio de bens deixaria Foster sem condições de presidir a Petrobrás. Ou seja, a estatal seria abalada com a ruína de seu patrimônio de mercado, como o valor das ações. O aviso de Adams faz sentido, duplo.

O candidato Aécio Neves, aparentemente, não deu bola à advertência. No começo da semana, passou por Manaus e gravou imagens para seu horário eleitoral nas emissoras. Admitiu que pode incluir a Petrobrás nas denúncias tucanas para demonstrar o “quanto faz mal ao país o aparelhamento da máquina pública em benefício de um projeto de poder”.