Psicólogos apontam medidas para enfrentar ataques a escolas em Goiás
18 abril 2023 às 16h04
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Acerca da onda de violência que tomou conta das instituições de ensino de todo o Brasil, há um tema que tem ficado de fora das discussões, o trabalho voltado para o estimular o convívio saudável entre as pessoas. Como destacam especialistas, a escola é o reflexo da própria sociedade. Isto é, os conflitos que afloram em todas as relações sociais transcendem para além de muros da instituição. O Conselho Regional de Psicologia de Goiás (CRP-GO) destaca a ausência da atuação de profissionais que proporcione um ambiente de melhor convivência humana, como o psicólogo escolar educacional e de assistente social na escola.
Outra questão é a participação efetiva da família. Para a psicóloga e palestrante, Nádia Santana, neste momento, os pais precisam dialogar com os filhos, buscando, se possível, estarem convivendo mais próximos deles. Outra medida, seria as famílias estarem mais presentes na vida escolar. “É importante essa questão da relação com a escola, para a família saber qual é a postura da escola. Como está a questão da segurança, para que a família fique mais tranquila, com relação a isso”, pontua.
Em relação aos medos, provocados por compartilhamentos de supostas ameaças de ataques, a psicóloga salienta que é necessário que os pais verifiquem o esteja ocorrendo, se o caso não é de fake news, para tranquilizar os filhos. “A orientação é que estejam presentes, no sentido de ouvir a criança.
É necessário ficar, se possível, presente, para poder acolher, para que eles se sintam mais seguros”, ensino. Nesse sentido, de acordo com Nádia Santana, a família precisa proporcionar atividades que envolvam as crianças, “para que elas sintam mais tranquilas”.
O presidente do CRP-GO, Wadson Arantes Gama (CRP 09/1523), ressalta que a violência na escola é um fenômeno bastante complexo. Uma vez que envolve a convivência coletiva de muitos atores, alunos, familiares, professores e funcionários. Para ele, nesse contexto falta o papel do psicólogo escolar educacional. Wadson Arantes explica que o profissional é preparado para analisar as situações e interferir nos problemas. Ou seja, a partir do comportamento dos sujeitos envolvidos na questão educacional.
O psicólogo escolar educacional, de acordo com o Wadson, consegue desenvolver “projetos de prevenção e intervenção em situação de violência”. Ele teria a atribuição de buscar compreender, por exemplo, as causas e as consequências de fenômenos que atingem a vida escolar. “Bem como promover o desenvolvimento de habilidades sociais emocionais nos alunos, professores, funcionários e familiares”, enfatiza. “O papel do psicólogo escolar educacional precisa ser entendido. Porque nós temos uma lei que foi aprovada para poder ter psicólogo escolar educacional e assistente social no ensino fundamental. Isso, ainda, no nosso estado não foi regulamenta a lei. Então, isso é muito importante para que a sociedade saiba qual é esse papel desse profissional,” lamenta.
Cyberbullying
Os psicólogos vêm pesquisando o impacto das redes socais na relação entre os alunos e deles com os professores. Inclusive, devido ao uso máximo da internet a prática do blulling é chamada de cyberbullying. “Os desafios é lidar com o impacto das redes sociais na escola. Tanto no que se refere aos assuntos positivos, como ampliação de acesso a informação e comunicação; quanto aos aspectos negativos, como o cyberbullying (prática de bullying por meio de ambientes virtuais, como redes sociais e aplicativos de mensagem)”, enfatiza, Wadson Arantes.
O especialista cita que o bullying não é “mimimi”, como muitos têm rotulado. “É uma violência sistemática de um sujeito. Então é muito importante que as pessoas entendam o papel do psicólogo escolar educacional que é relevante na construção de uma escola mais democrática, uma escola inclusiva, que possa contribuir para a formação integral dos sujeitos para a transformação da sociedade”, defende.
O psicólogo chama a atenção ainda para a exposição excessiva das crianças e jovens para a desinformação. “A gente vive em uma sociedade de fake news”, afirma. “Os adolescentes têm muitas informações, então é muito importante que toda a família, escola, enfim, toda a sociedade tem que tomar uma preocupação sobre isso”, cobra.
O especialista foi questionado se a pandemia da Covid-19 e as restrições de convivência sociais desencadearam para o agravamento da violência escolar. “A gente está vivendo como se fosse um pós-guerra”, compara. Wadson Arantes destacou que com o controle da crise sanitária, as pessoas retornaram para a vida ‘normal’, “mais fragilizadas”, “mais inseguras”. “A gente realmente teve medo da morte. Tivemos o negacionismo em relação à morte pela Covid”, recorda, emendando que as relações entre aluno e professor já não vinham sendo amistosas, no entanto, isso tudo se agravou nesta onda, que deve ser difícil de sair, não se resolvendo apenas com detectores de metais, muros altos e a polícia em tempo integral nas escolas.