A festa dos irmãos Cosme e Damião, santos católicos sincretizados com Ibeiji (orixá da Umbanda), é comemorada no dia 27 de Setembro e costuma ser muito concorrida em todos os terreiros do país. Apesar de ser comemorada na próxima quarta-feira, 27, a Igreja Católica celebra a festa hoje para não chocar com a data da morte de São Vicente de Paulo, já que no caso dos irmãos o dia da morte não tem confirmação.

Além disso, na igreja ortodoxa grega, a data é 1º de julho; para os ortodoxos, o dia dos santos é 1º de novembro. Em 17 de outubro, também há uma celebração. Já os terreiros de Umbanda em Goiânia, celebrarão a festa para as entidades no próximo fim de semana, alguns sexta, 29, e outros sábado, 30. No Centro Espirita de Umbanda João Grande, em Goiânia, a comemoração será no sábado e contará com uma mesa de doces, bolos e distribuição de balas para as crianças.

“Para nós, a gente comemora o Pós-Domingo no dia 27, que seria amanhã. Mas a nossa festa será no sábado, dia 30. Os terreiros mantém a tradição viva, a gente faz uma festa muito grande. A gente comemora desde a fundação do João Grande, que já vai para 50 anos, a gente sempre fez essa festa”, explicou a mãe de santo do Centro João Grande.

Cosme e Damião foram os primeiros santos a terem uma igreja erguida para seu culto no Brasil. Ela foi construída em Igarassu, Pernambuco e ainda existe. A morte dos irmãos gêmeos teria acontecido em um 27 de setembro e, por isso, a data ficou associada aos padroeiros. Até 1969, a data era unânime, mas a partir de uma reforma no calendário católico foi decidido que Cosme e Damião seriam celebrados um dia antes.

Na prática, a festa no Brasil ocorre na próxima quarta-feira, 27. Até porque nas religiões afro-brasileiras é neste dia que se celebra o orixá Ibeji, uma entidade infantil que costumeiramente é sincretizada com São Cosme e São Damião, com distribuição de saquinhos de doces às crianças.

Cosme e Damião na Umbanda

As festas para Ibeiji, tem duração de um mês, iniciando a 27 de setembro (Cosme e Damião) e terminando a 25 de outubro, devido a ligação espiritual que há entre Crispim e Crispiniano com aqueles gêmeos, pela sincretização que houve destes santos católicos com os “ibejis” ou ainda “erês” (nome dado pelos nagôs aos santos-meninos que têm as mesmas missões).

Nas festas de ibeiji, que tiveram origem na Lei do ventre-Livre, desde aquela época até nossos dias, são servidos às crianças um “aluá” ou água com açúcar (ou refrigerantes adocicados no dia de hoje), bem como o caruru (também nas Nações de Candomblés). “Esses seres, mesmo sendo puros, não são tolos, pois identificam muito rapidamente nossos erros e falhas humanas. E não se calam quando em consulta, pois nos alertam sobre eles”, explicou a mãe de santo.

Ela explica que muitas entidades que atuam sob as vestes de um espírito infantil, são muito amigas e têm mais poder do que imaginamos. Mas como não são levadas muito a sério, o seu poder de ação fica oculto, são conselheiros e curadores, por isso foram associadas à Cosme e Damião, curadores que trabalhavam com a magia dos elementos.

Embora as crianças brinquem, dancem e cantem, exigem respeito para o seu trabalho, pois atrás dessa vibração infantil, se escondem espíritos de extraordinários conhecimentos. “Imaginem uma criança com menos de sete anos possuir a experiência e a vivência de um homem velho e ainda gozar a imunidade própria dos inocentes” disse a líder espiritual.

A entidade conhecida na umbanda por erê é assim. Faz tipo de criança, pedindo como material de trabalho chupetas, bonecas, bolinhas de gude, doces, balas e as famosas águas de bolinhas -o refrigerante e trata a todos como tio e vô. Os erês são, via de regra, responsáveis pela limpeza espiritual do terreiro.

Cosme e Damião na Igreja Católica

Um dos santos mais citados na Igreja, São Cosme e São Damião, irmãos gêmeos, eram médicos de profissão e santos na vocação da vida. Viveram no Oriente (Cilícia, Ásia Menor entre os séculos III e IV) e, desde jovens, eram reconhecidos pela habilidade deles como médicos. Com a conversão, passaram a ser também missionários, ou seja, ao unirem a ciência à confiança no poder da oração, levavam para muitos a saúde do corpo e da alma.

Viveram na Ásia Menor, até que, devido à perseguição de Diocleciano, no ano 300 da Era Cristã, foram presos por serem considerados inimigos dos deuses e acusados de usar feitiçarias e meios diabólicos para disfarçar as curas. Tendo em vista essa acusação, a resposta deles era sempre: “Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo Seu poder”.

Diante da insistência dos perseguidores da fé cristã, com relação à adoração aos deuses, responderam: “Teus deuses não têm poder nenhum, nós adoramos o Criador do céu e da terra!”. Após defenderem a fé cristã, foram decapitados no ano de 303.

Segundo a fé católica, eles teriam sido lançados no mar para se afogar, mas sobreviveram; depois foram colocados em uma fogueira, mas não se queimaram; então foram apedrejados, crucificados e alvejados com flechas, e ainda assim sobreviveram. Por fim, eles foram decapitados, e seus corpos foram enterrados em Cirro, na Síria. A perseguição também se estendeu à família de Cosme e Damião, e todos os demais irmãos morreram martirizados. 

São considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina.