Ex-reitor da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), padre Robson de Oliveira Pereira voltou a celebrar missas depois de três anos afastado de suas funções religiosas pela Arquidiocese de Goiânia devido à denuncia do Ministério Público de Goiás (MP-GO) por apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro doado por fiéis enquanto presidia a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). A suspeita era de que Robson havia desviado ao menos R$ 120 milhões.

A primeira celebração, que estava lotada, foi no Dia dos Pais, na Catedral Sant’Ana, em Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo. Neste domingo, o padre realiza a “Santa Missa” das 7h às 11h e das 17h30 às 19h. Padre Robson ficará na cidade por três anos em um período de experimentação, informou a Diocese. Segundo Dom Pedro Luiz Stringhini, ele decidiu acolher Robson após um pedido do padre, fazendo uma “nova experiência, […] uma experiência diocesana”.

Robson era um dos padres de maior prestígio de Goiás e um dos mais conhecidos do Brasil. Suas missas recebiam fiéis de todo o país, e ele foi um dos responsáveis pela expansão da basílica. Mesmo com a investigação do Ministério do Público, o líder religioso continuou sendo ovacionado por milhares de fiéis, que acreditavam, em “perseguição maldosa” contra o representante da igreja.

De acordo com Dom Pedro Luiz, tomou a decisão após ouvir o parecer dos membros do Conselho de Presbíteros da Diocese de Mogi das Cruzes. Com a acolhida, o padre investigado deixou a Congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas).

Leia comunicado oficial do bispo diocesano

“Dom Pedro Stringhini, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo Diocesano de Mogi das Cruzes, por meio deste, comunica aos Reverendíssimos Senhores Padres, Diáconos e aos fiéis diocesanos em geral que, depois de ouvir o parecxer do Revmo. Mons. Antônio Robson Gonçalves, Vigário Geral, e dos membros do Conselho de Presbíteros da Diocese de Mogi das Cruzes, decidiu acolher na Diocese de Mogi das Cruzes o Revmo. Padre Robson de Oliveira Pereira CSsR, que solicitou sua saída da Congregação do Santíssimo Redentor (Redentorista), em conformidade com o cânon 691 do Código de Direito Canônico, para futura integração ao clero diocesano, quando o referido presbítero, obtido o indulto do Dicastério para os Intitutos de Vida Consagrada, iniciar o período de incardinação ad experimentum por 03 (três) anos, nesta Diocese.

Informar ainda que ao Padre Robson de Oliveira Pereira foi concedido o Uso de Ordens e a autorização para residir e exercer o seu ministério sacerdotal no território da Diocese de Mogi das Cruzes.

Ao clero e demais fiéis diocesanos que fraternalmente acolhem Padre Robson de Oliveira Pereira, saudação e benção.”

Investigação

O padre Robson de Oliveira foi alvo da Operação Vendilhões, que teve início no ano de 2020, e apurou eventuais desvios financeiros na gestão da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), entidade que era presidida pelo religioso. No entanto, a investigação foi arquivada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A Associação foi idealizada para gerir as doações em dinheiro enviadas por fiéis e, com o valor arrecadado – em torno de R$ 20 milhões por mês, segundo o MPGO erguer o novo Santuário Basílica de Trindade, conhecida como a capital da fé em Goiás.

Trata-se de uma mega construção iniciada em 2012, que tinha previsão inicial de término em 2022 e era orçada em R$ 100 milhões. Até o início do ano passado, apenas 17% do projeto tinham sido concluídos e o valor total da obra acabou revisado para R$ 1,4 bilhão. A obra não foi concluída.

O padre foi afastado da presidência da Afipe, assim que a Operação Vendilhões foi deflagrada e surgiram as suspeitas de que ele teria usado o dinheiro para comprar fazendas e até casa na praia. Os demais padres redentoristas de Goiás se organizaram para manter as atividades tanto da Basílica de Trindade, que recebe milhares de fiéis de várias partes do país, quanto da associação.

Logo após o escândalo, as doações de fiéis registraram queda de 80%. Em abril de 2021, a Afipe já tinha conseguido reduzir um pouco o impacto para 50%.

Processo arquivado

Uma ação ajuizada pelo Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) transitou em julgado e foi arquivada definitivamente pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em abril de 2022. Em contrapartida, o MP-GO informou que já ingressou com mandado de segurança na Corte Especial, questionando a decisão da Sexta Turma em não admitir o recurso proposto pelo órgão goiano. De acordo com a promotoria, apesar da conclusão do processo originário, ainda fica pendente mais essa ação para julgamento.

No entanto, o advogado do padre Robson, Cleber Lopes, salienta que a decisão do STJ confirma o que concluiu anteriormente o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), de que não houve crime algum do religioso quando presidiu a Afipe. Acerca da sentença da Corte Supeior, a defesa esclareceu que o MP-GO não recorreu dentro do prazo e que houve o trânsito do processo em julgado, agora, não tendo mais mais recurso.

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