Candidato da Rede Sustentabilidade promete romper todos os contratos e fazer uma auditoria profunda nas contas da prefeitura

Djalma Araújo: "Não se combate violência só com polícia na rua, isso já acabou, não adianta. Isso é política equivocada. Se combate a violência com livros"
Djalma Araújo: “Não se combate violência só com polícia na rua, isso já acabou, não adianta. Isso é política equivocada. Se combate a violência com livros”

Djalma Araújo brinca que é o filho de vaqueiro que quer ser prefeito. Nascido na Bahia, ele veio fugido em um caminhão “pau de arara” e se elegeu vereador de Goiânia pela primeira vez há 24 anos.

Decidiu deixar a Câmara para ser o candidato da Rede Sustentabilidade ao Paço Municipal. Combativo, ele garante que enfrentará os grupos econômicos que dominam a cidade, como o setor imobiliário — o qual ele critica ferrenhamente. Foi, inclusive, o autor da denúncia contra o Nexus Shopping & Business.

Para o candidato sustentável, é preciso romper todos os contratos firmados pela atual administração e fazer uma auditoria rigorosa. Mas ele não quer só que, caso tenha havido corrupção, os culpados sejam punidos: vai exigir o dinheiro desviado de volta.

Durante a segunda entrevista com os candidatos à Prefeitura de Goiânia, Djalma Araújo defendeu a realização de concursos públicos, rejeitou parcerias com setor privado na Saúde e garantiu maior investimento em educação: promete dobrar o salário dos professores.

Ácido, as críticas mais duras do candidato tiveram como alvo o ex-prefeito e também candidato, Iris Rezende (PMDB).

Alexandre Parrode – O sr.concorda que povo não sente, de alguma forma, que o Iris é o culpado por Goiânia estar ruim ou estar o caos que está em diversas áreas, como trânsito e saúde? Até porque ele é prefeito desde 2004. Há 10 anos ele controla a prefeitura – agora que ele brigou com o Paulo. Ninguém pergunta para o sr.se o Iris é o culpado por tudo que está acontecendo na capital?

Iris é populista e demagogo. O populismo se assemelha muito à convicção de manipulação de pessoas. Então, o Iris tem um poder muito forte de manipular pessoas. Quando ele asfaltou Goiânia, por exemplo, ele encaminhou para a Câmara Municipal um projeto que está no Código Tributário, que é a contribuição de melhoria, que é você pagar pela melhoria que foi feita. Eu e outros vereadores enfrentamos o Iris, mais de uma vez, contra essa contribuição para a isenção daquele tributo, e não conseguimos na gestão do Iris. O único legado que o Paulo Garcia conseguiu, na minha opinião, foi fazer essa isenção. Como você vai pagar uma pavimentação asfáltica se você já paga IPTU, IPVA e outros tantos impostos? Então, fizemos uma grande manifestação. Fomos para a rua para lutar por essa isenção.

Mas, na verdade, Iris pensa que Goiânia é uma fazenda dele. As pessoas de Goiânia precisam acordar, porque ele é um grande coronel da política e um grande manipulador. Ele destruiu a carreira de Henrique Santillo. O Maguito Vilela ficou na sombra dele, porque foi submisso a ele. Nestas eleições, ele recuou, depois voltou. O que ele quer é continuar. Enquanto o pulso do Iris continuar pulsando, ele continua na política. Sempre eu conto uma história interessante: o Iris quer ser candidato a prefeito, mas, caso ele ganhe a eleição, dois anos depois, ele vai querer ser candidato a governador. E, caso ganhe a eleição de governador, ele vai querer ser candidato à reeleição. E, caso fique mais 8 anos no governo, ele vai querer ser candidato a senador. Ou seja, ele não larga o osso e o populismo é muito isso: a necessidade de estar sempre perto do poder, impedindo o surgimento de novas lideranças, e não só lideranças do partido.

Alexandre Parrode – O sr. não acha que Goiânia perde com sua candidatura à prefeitura, e não à Câmara Municipal? Eu vejo que, ao menos nesta gestão, não fosse o sr. ou o vereador Elias Vaz, que são dois legisladores combativos, várias pautas importantes, como a própria CEI das Pastinhas, poderiam não ter se concretizado. O sr.concorda?

Concordo. A Câmara Municipal não representa o povo. Agora, minha candidatura é um desafio e um projeto coletivo e nacional, que faz parte de um objetivo maior que é eleger Marina Silva em 2018. É claro que vou fazer falta na Câmara devido à minha combatividade, modéstia à parte, contra a especulação imobiliária e outras pautas; não só a CEI das Pastinhas, mas também a luta contra a máfia dos combustíveis etc. E espero que os vereadores eleitos pela Rede para a próxima gestão sejam vereadores combativos e que exerçam a função de legislar, fiscalizar e promover o debate público. Estas são as funções do vereador, mas, agora, temos também aqueles vereadores assistentes sociais ou aqueles que têm que ter uma base do prefeito porque tem que receber cargos comissionados. Então, a Câmara, como instituição, não representa o povo, mas sim grupos econômicos. Alguns vereadores, como eu e o Elias, questionamos muito e as algumas discussões vão para frente. Mas é humanamente impossível dar cargo a algumas pautas. Tentamos criar uma Comissão de Inquérito contra a fraude na merenda, por exemplo, e não conseguimos.

Meu objetivo, na verdade, com essa candidatura é mostrar para a sociedade que essa velha política, a dos coronéis e do acerto de contas, morreu. Com exceção do Flávio Sofiati, todas as candidaturas à Prefeitura de Goiânia estão loteadas para cargos. E anote: com Iris Rezende, teremos um aumento excessivo de IPTU. O Iris vai mudar a Planta de Valores, com um aumento de até 100%. Eu, como prefeito de Goiânia, não aumentaria o IPTU. Agora, garanto que, com os outros candidatos nós teremos um grande aumento.


Alexandre Parrode – E sobre a progressividade do IPTU, que chegou a ser defendida pelo prefeito Paulo Garcia, mas acabou não sendo implementada integralmente.

Não houve uma correção. A planta que define isso, mas você está na mesma zona. Nós temos que mudar as zonas fiscais, só que os empresários não aceitam isso. A maior receita de Goiânia é o ISS, não o IPTU. Nós queremos manter a correção do IPTU pela inflação, porque a atual carga tributária já é muito grande. E nós queremos o IPTU progressivo, porque isto está na Constituição Federal, no Estatuto da Cidade e na Legislação municipal, mas não é feito, porque a Prefeitura de Goiânia não consegue enfrentar o setor imobiliário. Em Goiânia, nós temos o “minifúndio”. Nós temos uma área de um desembargador, em frente ao Conjunto Itatiaia, por exemplo de 7 alqueires. Logo à frente, temos mais de 10 alqueires vazios; e essas áreas são para especular. A prefeitura asfaltou vários bairros, onde 30% são espaços vazios. Quero deixar claro que não estou propondo cobrança de imposto progressivo para quem tem um lote, mas para as grandes áreas. Cheguei a conclusão que a ideia é fazer de Goiânia uma cidade compacta e, aqui faço mea culpa com o meu amigo, o ex-secretário da Amma Nelcivone Melo, porque ele sempre foi um defensor dessa ideia. Com uma cidade compacta, as pessoas ficam mais próximas. É impossível você pegar as famílias e colocar nos bairros mais distantes de Goiânia.

Alexandre Parrode – E existe hoje um projeto hoje na Câmara que prevê uma nova expansão urbana.

É um projeto que envolve, na verdade, um parcelamento urbano, e nós conseguimos com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-GO) um parecer contrário para essa proposta. A ideia era acabar com a zona rural e transformar isso em lotes de até 10 mil metros quadrados, mas, posterior à lei, assegura o parcelamento urbano dessas áreas. É nada mais do que uma expansão urbana disfarçada. O que nós estamos propondo é a manutenção do equilíbrio das áreas rurais da cidade. Até a cidade precisa pensar na conservação de suas áreas rurais, e fortalecer, inclusive, a economia nesses locais.

Bruna Aidar – Mas como fica a integração da capital com a Região Metropolitana, até porque você também precisa pensar na mobilidade entre as cidades?

Essas questões devem ser discutidas no Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo, que, na verdade, não funciona. É necessário criar um fórum de debate permanente para discutir política urbana, uso do solo, saúde, toda as demandas estão relacionadas, é impossível você ter uma solução só para Goiânia, se você não tem uma solução para Aparecida, precisa ter uma solução conjunta.

Alexandre Parrode – Goiânia é a única cidade metropolitana em que o transporte intermunicipal tem o mesmo valor do dentro da cidade. Por exemplo, se a pessoa sai daqui de Goiânia e vai para Goianira, ela paga o mesmo preço que do Setor Bueno ao Centro. É preciso alterar a realidade? Em especial porque as empresas do transporte reclamam muito da crise, dizem que estão tendo prejuízo.

Aconteceram duas licitações de transporte coletivo em Goiânia. As duas foram feitas pelo ex-prefeito, Iris Rezende (PMDB), a última foi questionada pela Justiça, inclusive. Acontece que temos um esquema que foi montado ao longo de 60 anos, transporte coletivo está nas mãos de algumas pessoas, das mesmas famílias. Eles descapitalizaram as empresas e fizeram investimentos em fazendas e outras empresas, com o dinheiro da passagem do trabalhador. Transporte coletivo é uma das coisas mais rentáveis que existe. A grande jogada é que os empresários pegam dinheiro do BNDES, compram os ônibus, mas jogam dinheiro em outras empresas. É fácil jogar a culpa no poder público. É uma grande mentira, essa máfia precisa ser enfrentada. O que estamos propondo: auditoria e pente fino em todo o sistema. Se não cumprirem o contrato, vamos romper, simples assim.

Outra coisa, vamos propor o transporte alternativo de até 12 pessoas, já fizemos um estudo que é possível ter linhas de bairro a bairro, serão vans articuladas. Uma forma de enfrentar, com mesmo preço, o problema dos ônibus. Monopólio é uma coisa desastrosa, em qualquer setor. Os taxistas estão me atacando agora porque sou defensor dos aplicativos de transporte individual, a tecnologia, não tem jeito de fugir.

Voltando à questão do transporte coletivo, eu insisto, é uma galinha dos ovos de ouro. Precisamos rever isso.

Bruna Aidar – O sr., como prefeito, está disposto a brigar com esses grupos econômicos? Parece que, na iniciativa privada, o que está no contrato deve ser cumprido integralmente, já no poder público, é essa morosidade, aditivos, não há controle.

Não existe fiscalização e o poder público não tem interesse em fiscalizar essas empresas. A cidade tem donos… Transporte coletivo, setor imobiliário. Para enfrentar esse pessoal, tem que ter coragem. É difícil enfrentá-los até no Judiciário.

Alexandre Parrode – “O número de passageiros tem caído ano a ano”, “o preço do diesel aumentou”, “faltam incentivos do governo”… As empresas alegam que não têm dinheiro para manter o sistema.

É uma falácia. Eles descapitalizaram as empresas, esse grupo econômico aí tem 17 empresas.

Bruna Aidar – O sr. acha que eles continuariam prestando o serviço se não fosse rentável?

Nunca. Transporte coletivo paga a vista, dinheiro certo, é rentável. Qualquer empresário que está ganhando dinheiro começa a chiar.

Alexandre Parrode – Quem tem coragem para enfrentá-los?

Eu tenho. Você acha que Vanderlan vai ter? Não. Iris? (risos) Iris é aliado deles há 60 anos, chefe. Cidadão comum tem que entender que esses aí não dão conta de mudar o transporte coletivo.

Bruna Aidar – O sr. pretende romper todos os contratos da prefeitura? 

Sim! Vamos romper todos imediatamente. E queremos, inclusive, o dinheiro de volta do que foi desviado.

Alexandre Parrode – O sr. é a favor de parcerias-público-privadas?

De jeito nenhum. OS [Organizações Sociais] é organização criminosa.

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Djalma Araújo durante entrevista

Alexandre Parrode – Em nenhum setor? 

Sim… Por exemplo, vamos revitalizar o Centro de Goiânia? Topo! Dou desconto no ISS [Imposto Sobre Serviço], reduzo para 2% para as empresas que se comprometerem. Transformar o Centro em um local de cultura 24 horas como é em Curitiba eu vou precisar do setor privado.

Alexandre Parrode – O sr.acha que o prefeito acertou em fazer os corredores de ônibus, as ciclofaixas e cilclorrotas? Quando entrevistamos o Vanderlan, por exemplo, ele criticou a proposta.

Sim, mas isso estava no Plano Diretor da cidade. O corredor exclusivo, para funcionar, precisa de ônibus em primeiro lugar, é claro. Mas tudo isso são exigências do Estatuto da cidade.

Bruna Aidar – A crítica feita foi em relação ao modo como foi feito, com os corredores de ônibus nas laterais da pista e não no meio, prejudicando os comerciantes do local.

Por isso que nenhuma obra em Goiânia será feita sem o debate com a comunidade. Isso está no Estatuto da Cidade. Você pode fazer o corredor exclusivo nas laterais, no meio da pista, como queira, desde que haja essa consulta à população. Os corredores são essenciais para a mobilidade urbana. É imbecil discordar dos corredores exclusivos porque está no Plano Diretor de Goiânia, que é o meu plano de governo.

Alexandre Parrode – Plano Diretor que, inclusive, já deveria estar sendo discutido o novo, visto que o atual vence em 2017.

Na verdade, o Plano Diretor é uma carta de intenções e na nossa gestão ela vai deixar de ser apenas uma carta de intenções. Vamos criar o Instituto de Planejamento de Cidade. Um órgão enxuto que servirá para a implementação do Plano Diretor da cidade.

Alexandre Parrode – Quantas secretarias o sr.pretende cortar?

Nós vamos cortar secretarias extraordinárias e 90% dos cargos comissionados. Vamos cortar o celular dos secretários, o carro e congelar o salário dos secretários durante quatro anos. A correção do salário dos titulares das pastas será apenas pelo índice da inflação e ainda quero economizar R$7 milhões com os contratos da Prefeitura de Goiânia. Por exemplo, a Secretaria Municipal de Saúde fez um contrato com uma oficina para a frota da saúde de R$4 milhões, com o acréscimo de cinco aditivos, já gastaram R$10 milhões nos últimos três anos. Com esse dinheiro daria para comprar uma oficina inteira! Eu vou fazer um auditar na Secretária de Saúde porque dinheiro do povo não é capim. Mas o Paulo Garcia é um homem honesto.

Alexandre Parrode – Todos dizem isso.

O Paulo é um homem honesto, mas juntou com uma tropa, uma gangue que o cerca.

Bruna Aidar – Não é isso o que aconteceu também com a presidente Dilma Rousseff?

O problema é se deixar levar. O Paulo é uma pessoa honesta, leva uma vida modesta e o que falam dele é mentira. Eu o conheço há muito tempo e posso dizer. O que aconteceu é que ele pegou uma gestão desastrosa de Iris Rezende e deu continuidade a essa gestão desastrosa. Mas eu duvido que o Paulo tenha feito qualquer esquema na prefeitura.
Alexandre Parrode: Você acha que o mesmo pode acontecer se a Adriana [Accorsi] for eleita?

Infelizmente, a Adriana vai manter todos esses contratos. Por que vai manter? Porque são compromissos com esses grandes empresários e os partidos aliados que estão por trás.

A maioria dos nossos partidos hoje são organizações criminosas. Aqui você tem um contrato para a prestação de serviço dando R$10 milhões para uma empresa sem licitação e ainda mais na saúde pública. Homecare R$11,2 milhões para fazer a saúde em casa. Quem fiscaliza isso? Ninguém.

Na Secretaria de Saúde, locação de veículo e motorista para transporte de paciente: R$2 milhões. Com isso dá para comprar quantas vans? Então, vamos auditar em todos os contratos, fazer rescisão de todos e quem quiser que busque na Justiça. Eles gastaram R$6 milhões com insulina e está faltando insulina. E o que é mais absurdo é um secretário de Saúde ser sócio de uma empresa na área de saúde. Nunca vi isso na minha vida. E o buraco fiscalizador é muito mais grave do que o que foi mostrado naquele esquema da regulação de pacientes. Tem que fazer um auditar de todos os esquemas que foram montados.

E te digo mais, outro esquema que iremos rescindir de imediato é o call center da prefeitura, que nos últimos cinco anos gastou R$120 milhões. Aquele call center de telemarketing, para o qual a pessoa liga para fazer reclamações de buraco na rua, por exemplo. Ora, isso pode ser feito pela internet. É possível modernizar a administração. A própria Secretaria de Saúde gastou R$8 milhões em equipamentos sem licitação. Tivemos ainda o escândalo dos fotossensores.

Alexandre Parrode – Então, fazendo essa conta, nós temos 55% da receita com folha de pagamento…

Hoje são 48. Vamos lá, 48% com a folha de pagamento, 25% para Educação, 15% para Saúde, 7% de dívida urbana. Aí já temos 95%. E a folha de pagamento vai crescer. A previsão da receita é de R$5,6 bilhões, considerando que o que sobra é 2% disso. R$100 milhões durante o ano não dá para construir 100 Cmeis. Não tem dinheiro. Quem assumir hoje e não cortar gastos, economizar, é mentira falar que vai fazer alguma coisa para a cidade. Estão mentindo para a população.

E nessa conta, nem colocamos as perdas salariais dos servidores que precisam ser recompostos. E esse dinheiro que sobrou, supostamente R$100 milhões, tem que cobrir titularidade da Educação, saúde, dos servidores em geral, o que corresponde a, aproximadamente R$50 milhões. Em maio tem que pagar a Data Base. E se não pagar, não fizer o acordo para parcelar, eles não aguentam mais. Então, quem disser que vai transformar Goiânia em uma Suíça, está mentindo porque não tem dinheiro em caixa. Essa conta eu já fiz. Conversei com o ex-secretário e com o atual secretário. Isso seria fazer a mesma coisa que o Paulo Garcia fez.

O Ciams [Centro Integrado de Atenção Médico Sanitária] do setor Urias Magalhães está há três ou quatro anos fechado para reforma. R$3 bilhões já foram gastos e a prefeitura não entregar. Eu estive lá e conversei com o mestre de obras. Ele me disse que faria aquela obra com R$700 milhões.

A minha proposta é pegar os trabalhadores da Comurg e da Semob e fazer o contrato temporário de 90 dias, é possível fazer isso, e concluir todas as obras de Cmeis e todas a obras da saúde, começando pelo Ciams do setor Urias Magalhães.

Alexandre Parrode – E como vai ficar o BRT?

O BRT, se tiver dinheiro ele continua, se não tiver, vamos parar porque eu prefiro investir nos seres humanos. Claro que investir em transporte é importante, é investir nos seres humanos, mas eu quero investir na vida. Para mim, esta é a prioridade. Para terminar o BRT, nós vamos buscar os recursos com governo federal, mas Goiânia não consegue dar conta de mais essa dívida. A Leste-Oeste precisa ser feita. Aí vem a prefeitura e faz o “túnel lava jato”, gasta R$10 milhões.

Administração precisa de planejamento. Quem vai viabilizar a finalização das obras será a população através do orçamento participativo, que é um recurso para democratizar o uso do dinheiro arrecadado por meio dos impostos.

O orçamento hoje é engessado. Só é possível fazer alguma coisa com o rompimento de todos os contratos e fazer auditoria em todos os contratos existentes e ainda lidar com a dívida flutuante que vai sobrar, de R$400 milhões. Com o corte de todos os comissionados. Quem quiser trabalhar, que trabalhe no seu carro. Cortar até celular. Só vou deixar o cafézinho, que é uma prática brasileira.

Só que tem outro porém. Eu quero esse dinheiro de volta. Vou mandar tudo para o Ministério Público porque meu objetivo é fazer um acordo com esse pessoal, talvez uma delação premiada, um acordo de leniência. Afinal, a prefeitura ainda enfrenta outra situação muito difícil porque os ricos quase não pagam impostos nessa cidade e não adianta expor na Justiça. Nós temos que fortalecer a procuradoria fiscal, mas tem que fazer acordo também com esse pessoal, negociar a dívida que eles têm com a prefeitura.

Como a Marta fez em São Paulo, na construção do Centro de Educação Unificada, com toda estrutura de esporte, lazer e cultura. Eu quero fazer isso. Construir pelo menos quatro unidades de Centro de Educação Unificada com dinheiro desse pessoal. Essa e a parceria público-privado que eu quero fazer, para que eles possam construir essas escolas. Estão entre os devedores, bancos, empresas de telefonia, que entrariam com o dinheiro para viabilizar essas obras. Eu vou judicializar essa dívida? Nunca! Seria perder tempo com o judiciário, com inúmeros recursos que a lei permite. Eles têm os melhores advogados, informações privilegiadas. É impossível obter o pagamento desta forma.

Alexandre Parrode – Se a dívida é de R$ 5 milhões o sr.dá o perdão para eles?

Dá o perdão, eles constroem escolas, vamos perdoar.

Alexandre Parrode – E daí, inclusive, eles que vão fazer?

Faz as escolas. Nós queremos escolas “padrão Fifa” e lá na periferia, porque a Marta fez isso lá em São Paulo e o Haddad (PT) deu continuidade. É a melhor escola do mundo, porque lá você tem ensino infantil, fundamental e para jovens e adultos.

E outra coisa, por que o filho do trabalhador não pode aprender a tocar piano, por exemplo? Precisa conhecer, aprender a ler partitura, então ele vai ter aula de piano lá, aula de violino, etc. Porque tem muita gente que tem disposição muito grande na vida para ser artista, que tem um potencial que precisa ser trabalhado. O acesso à cultura é muito difícil, precisamos melhorar isso nas escolas. Temos um potencial cultural imenso nesse país, temos que formar os jovens porque é uma forma de combater a violência.

Não se combate violência só com polícia na rua, isso já acabou, não adianta. Isso é política equivocada. Se combate a violência com livros, já dizia meu conterrâneo Rui Barbosa, um país se faz com homens e livros, e a Nação não deu conta de fazer isso porque não quis fazer. Hoje temos o crack, a violência urbana e aí se pergunta o que fazer para combater a violência urbana.

A única coisa que eu tenho é a Guarda Municipal que será treinada para fazer ações preventivas. Vou fazer um acordo com o Governo para que as polícias Civil, Militar e Federal criem um conselho permanente com reunião mensal para discutir os grandes crimes que temos em Goiás, como o tráfico. As ações têm que ser conjuntas e a Prefeitura vai fazer sua contribuição, não vamos ser protagonistas na segurança.

Hoje as delegacias estão sucateadas, há mais de quinze anos que o governo não promove um concurso público para a Polícia Militar. Nós temos uma PM muito qualificada, uma das mais qualificadas do Brasil. A Polícia Civil está desmotivada, porque os salários são baixos. Ou seja, segurança em Goiás não é prioridade do Governo.

Agora a Prefeitura não pode assumir essa responsabilidade porque não dá conta. Ela tem a Guarda Municipal, equipada, preparada e tem que cumprir a Lei 13.022 que torna a Guarda como agente de segurança ostensiva. Precisa que a guarda seja equipada e tem que fortalecer a política comunitária de conselhos nos bairros. Eu sou membro do conselho do meu bairro, lá tem a vigilância comunitária, todo mundo tem o WhatsApp e avisa “estou saindo de casa”.

Mesmo assim passaram lá em casa e deram seis tiros. A polícia investiga aquele caso até hoje e ainda não conseguiu descobrir quem deu os tiros, e foi filmado. Eu tenho adversário político, inclusive inimigos, mas não sei quem fez isso. Eu nem dei visibilidade para isso, porque o pessoal ia falar que estava usando, falei no partido, mas vazou. Não vou usar meus conflitos para me promover nunca.

Segurança pública se faz com educação de qualidade. Goiânia vive uma violência que é uma das maiores do mundo. Estamos colhendo os erros do passado, porque não fizemos investimentos em educação, em cultura, onde estão as praças? Goiânia não tem praça.

Djalma concede entrevista aos repórteres do Jornal Opção
Djalma concede entrevista aos repórteres do Jornal Opção

Alexandre Parrode – É só no centro?

Só no centro. Olha, Goiânia tem uma nata musical inquestionável, precisamos valorizar esse pessoal e levar, usando a Lei de Incentivo Fiscal – sou co-autor daquela lei – precisamos incentivar esse pessoal. Alguém da cultura tem que buscar recursos para implementar cultura nos bairros: teatro, música que é produzida aqui em Goiás. Fazer um show em Goiânia é uma das coisas mais difíceis.

Alexandre Parrode – A não ser que seja um Villa Mix…

A não ser que seja um Villa Mix. É um absurdo isso! Precisamos valorizar a cultura regional, o pequi mesmo. Esses caras são muito bons. Aqui temos uma cultura muito forte: música, teatro, cinema, artes plásticas, literatura. Precisamos valorizar e exportar a cultura daqui.
Acabou aquele projeto do Cine Ouro, mas vai ser montado e precisamos levar aquele projeto para todos os bairros de Goiânia. Tem que incentivar a volta dos botecos. Temos que buscar acordo com os bares, fazer acústica, Termos de Ajuste de Conduta para deixar o povo cantar. É a cultura que vai salvar a humanidade.
E quando falo na CEU, estou valorizando os músicos. Porque vai ter professor de piano, violino, cavaquinho…

Alexandre Parrode – Mas tem dinheiro para bancar todos os professores?

Se eu criar despesa, tenho que ter receita e é aquilo que falei dos impostos. Com economia dá para fazer apenas duas escolas.

Qual é a prioridade? Caso seja eleito, reformar todos os postos de saúde, mas sem empreiteira. Concluir todos os CMEIs Nas escolas onde não tem quadra, construir quadras. Construir quadra de esporte nas praças. Contratação de médicos. Colocar a UPA para funcionar 24 horas com médico, porque não adianta colocar para funcionar sem profissional. Sinalizar o trânsito e iluminar as ruas. Resolver o necessário de imediato. Aí dá para fazer uma parceria público-privada.

As escolas só serão feitas com muita economia e a parceria público-privada com os devedores. Vamos corrigir os salários. O professor ganha R$ 2 mil, um vereador ganha R$ 11 mil e não precisa. Nós vamos, tendo recurso, dobrar o piso dos professores. Com economia e gestão pautada na responsabilidade fiscal é possível fazer uma economia de R$ 7 a R$ 10 milhões por mês. Só com comissionados, a Prefeitura gasta uns R$ 4 milhões por mês, gastava mais. Se o Paulo não tivesse feito aquela reforma, não pagava a folha.

Mas ele tirou direitos efetivos. Quem presta concurso público tem que ser bem remunerado. Professor não trabalha só em sala de aula, trabalha em casa também.

Marcelo Gouveia – O sr. acredita em revolução?

Não… Acho que a revolução que teremos que fazer é a cultural, mas não igual a da China. Cultural e sustentável. Sustentabilidade está na ordem do dia. Não queremos mais expansão urbana em Goiânia, isso aí acabou para a gente, queremos a sustentabilidade econômica e ambiental do nosso município.

Uma coisa que dá para arrecadar dinheiro para o município que eu acabei de me lembrar aqui… Podemos vender as áreas da Rua 115 para os atuais ocupantes. Só uma concessionária, uma área que foi invadida e construída sem titularidade, mas com aval da Amma [Agência Municipal do Meio Ambiente] e do MPGO que firmaram um TAC [Termo de Ajuste de Conduta] na gestão do prefeito Pedro Wilson (PT), tem 5 mil m². Se conseguirmos vender, dá mais de R$ 60 milhões. Acho que a área é toda do município, mas dizem que tem uma parte do Estado. Se não me engano, há um decreto do ex-governador Otávio Laje que determina que todas as áreas de uso comum pertencem ao município.

Alexandre Parrode – Uai, então, se for assim, o Clube Jaó é do município.

É do município. Temos que vender aquela área para o Jaó, inclusive,

Alexandre Parrode – Mas quem entrou com uma ação foi o Estado.

Pois é… Por isso que vamos fazer um levantamento topográfico do município, pegar de 60 anos para cá e analisar tudo. Temos colégios particulares que foram construídos em área pública. Chegar nesses donos e dizer: “Meu amigo, é impossível tirar você daí, mas queremos vender.”

Eu aprovei uma lei na Câmara, inclusive dei como sugestão para Paulo Garcia, que em toda ponta de quadra tem sempre aqueles ‘puxadinhos’, podemos vender para os donos que ‘invadiram’. A prefeitura pode arrecadar com aquilo ali de 30 a 50 milhões de reais. Quero vender a vista para pegar o dinheiro mais rápido.

Alexandre Parrode – Os empresários vão topar isso? Porque vivemos em uma situação que temos os donos de Goiânia, o mercado imobiliário que domina a administração.

A lei tem que ser igual para todos, para a dona Maria lá no Itatiaia que fez o puxadinho dela, quanto para os donos do Nexus, por exemplo. A lei no Brasil não funciona para o rico. Essa obra do Nexus fraudou o Estudo de Impacto de Vizinhança… Olha, não somos contra construir, gera emprego e renda. Mas tem que obedecer critérios. O primeiro deles é audiência pública com a população local. Isso já está previsto, na verdade…

Bruna Aidar – Se tivessem feito, não haveria Nexus.

Exatamente. Não tinha Nexus, não tinha aquela obra que Iris autorizou lá perto do colégio Pedro Gomes, em Campinas. A Amma virou um escritório de vender licença ambiental. Eu quero tirar o poder da Secretaria de Planejamento. Ficou provado na CEI das Pastinhas que é um balcão de negociação. Isso tem que acabar. Por isso que Pedro Wilson não deu conta de ficar na Amma, porque é um homem honrado.

Alexandre Parrode – Os servidores são honestos.

Sim! A maioria dos servidores são honestos. A grande questão é que tem político demais, nós precisamos de técnicos na Amma e na Seplanh. Eu não quero político, quero uns três, quatro, cinco no máximo. Eu quero técnicos da universidade, do empresariado bom, tem muita gente boa. Administração da cidade tem que ser compartilhada.