Vitória de Trump muda o quê para o Brasil em termos políticos e econômicos?
06 novembro 2024 às 15h01
COMPARTILHAR
Donald Trump retornará à presidência dos Estados Unidos exatamente quatro anos após ser derrotado por Joe Biden. Com o discurso de “America First” (América Primeiro em tradução livre), Trump promete pôr os Estados Unidos como prioridade, rejeitando acordos do clima e fugindo de conflitos mundiais, que são financiados pelos Estados Unidos.
O renascimento político de Trump foi comemorado pela ultradireita de todo o mundo e, em especial no Brasil. O alívio proporcionado pela vitória de Trump aos direitistas brasileiros se deve, em sua essência, à chance, mesmo que mínima, de uma anistia à Jair Bolsonaro, para que ele se torne apto a concorrer nas eleições de 2026.
Ao Jornal Opção, o cientista político Guilherme Carvalho explica que essa força do que ele chama de “ultradireita” ainda é instável. “No Brasil o líder da ultradireita está inelegível mas, caso esse cenário mude, Bolsonaro entrará com grandes chances de desafiar Lula em 2026, assim como ocorreu com Trump nos Estados Unidos. O cenário é bastante instável mas depende mais de fatores internos do que da influência de Trump”, explica.
“Mesmo com a vitória, declarações de Trump, por exemplo, só servem para animar a militância de extrema direita que já é convertida. A preocupação de alguns setores do Itamaraty seria uma ofensiva de Trump no mercado global, e isso pode preocupar a economia. Mas em 2016, quando ele venceu, ele teve posturas mais dogmáticas na política externa, não cumprindo promessas de campanha, então devemos esperar para avaliar com mais precisão”, continua.
A curto prazo, Carvalho diz ser cético sobre os impactos da vitória de Trump no Brasil. “Eu acho que pelo menos do ponto de vista do discurso, a tendência de afastamento dos Estados Unidos das grandes questões globais, principalmente dos conflitos envolvendo Ucrânia, Rússia e esse conflito aberto no Oriente Médio, tendem a abrir espaço pra outros atores, como o Brasil”, explica.
“O segundo maior parceiro comercial do Brasil são os Estados Unidos, mas o país também é o maior competidor em venda de commodities que o Brasil tem no mercado internacional. Um eventual isolamento dos Estados Unidos, como o Trump foi eleito pregando, abre espaço para que o Brasil ocupe espaços, principalmente dentro dessa nova dinâmica de mercado, que pressupõe a participação mais ativa de países emergentes”, continua.
Os impactos, segundo o especialista, podem ser positivos. “Se isso ocorrer, acredito que podemos ter impactos positivos, mas não sabemos exatamente. Trump é um líder imprevisível e não dá para saber quando ele está disposto a retalhar um estado no mercado internacional para promover um aliado ou uma agenda eleitoral”, afirma.
Já o cientista político Pedro Célio acredita, também, que esse isolamento pregado por Trump é prejudicial aos Estados Unidos. “O isolamento que ele tanto prega não é benéfico em um mundo globalizado e universalizado. Caso isso aconteça, parceiros dos Estados Unidos também podem ser prejudicados. Mas acredito que o Brasil não deve sofrer por ter alternativas. Hoje o Brics é muito forte e a aproximação do Brasil com a China é intensa, o que ajuda o país a se posicionar melhor no mercado internacional”, explica.
Leia também
“Sua vitória abre uma nova era de incerteza para a nação”, diz New York Times após vitória de Trump