Vereadores e deputados pedem retirada de kit sobre terror distribuído em escolas de Goiânia

05 setembro 2014 às 11h46

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Primeiro a abordar o assunto, deputado Fábio Sousa relatou histórias de sacrifícios, mortes e rituais de magia negra. Porta-voz da Secretaria de Educação defende que os temas fazem parta da cultura popular e que a conotação dada pelos parlamentares é equivocada

“Bú! Histórias de medo e coragem”, um kit escolar distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) às escolas municipais goianas, tem causado movimentação na Assembleia Legislativa de Goiás e também na Câmara de Vereadores de Goiânia desde que o deputado Fábio Sousa (PSDB) denunciou em 26 de agosto que o material trazia informações sobre sacrifícios de animais e ensinava a crianças rituais de magia negra. A informação chegou ao tucano, segundo relatou, por um grupo de professores que pediu anonimato. O assunto passou quase despercebido pela imprensa, mas entre os parlamentares, medidas têm sido adotadas.
“Existe uma cartilha que conta a história de um bebê que mata sua família com uma faca. Além disso, dentro do kit vem uma diadema com chifres de capeta, um chapéu de bruxa com peruca e unhas de mentira e cálice de caveira, na qual a professora deveria usar ao ler as histórias de terror. O que mais me assusta é que se trata de um material voltado para crianças de seis, sete anos, chancelado pelo Ministério da Educação”, disse à época Fábio Sousa. O tucano, que é pastor da Igreja Fonte da Vida, salientou na mesma fala que sua análise do conteúdo do kit se dá pelo fato de não ter “nada a ver com folclore brasileiro”, sendo, inclusive, “algo que ofende diversas crenças religiosas, seja a católica, a evangélica, a espírita ou a umbanda”.
Na Casa de leis estaduais, um dia após o assunto ser abordado por Fábio Sousa, um requerimento pedindo a retirada do kit das unidades escolares foi protocolado pelo deputado Simeyzon Silveira (PSC); enquanto que na Câmara de Vereadores de Goiânia, na última quinta-feira (4/9), também foi apresentado requerimento com o mesmo teor do protocolado na Assembleia. O pedido foi assinado pelos vereadores Deivison Costa (PTdoB), Divino Rodrigues (PROS), Doutor Gian Said (PSDB), Fábio Lima (PRTB) e Rogério Cruz (PRB), e salienta em seu texto que “vivemos em um Estado laico, que tem como princípio a imparcialidade em assuntos religiosos, portanto a laicidade pressupõe a não intervenção de qualquer religião e sua prática no Estado”.
O deputado Fábio Sousa apoiou a iniciativa da Câmara e frisa que a culpa pelo teor do kit não é das prefeituras que distribuíram às escolas municipais, mas sim do governo federal, por meio do MEC.
O kit “Bú! Histórias de medo e coragem” tem tido seu conteúdo questionado quanto a qual seria seu teor educacional ao apresentar histórias que levam ao medo e chegam a ensinar às crianças como fazer alguns feitiços e pactos com espíritos. O Jornal Opção Online apurou que este material não é usado atualmente pela rede municipal, pois fez parte do programa de incentivo à leitura e à escrita de 2013. O tema de 2014 é “Criadores de Começo” e o de 2012 foi “Contadores de Histórias Encantadas.”
Os kits, juntamente com o programa, não são impostos às escolas, que precisam se inscrever para participar. O projeto consiste em contar histórias num determinado tema para depois promover um concurso de redação para colocar em prática a imaginação das crianças. Os professores que contam as histórias recebem treinamento específico.
O outro lado

Diretor do departamento pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME), Marcos Pedro da Silva minimiza a polêmica em torno de “Bú! Histórias de medo e coragem”. Idealizado pelo Endesa Brasil com a parceria do MEC e do Ministério da Cultura (Minc), o programa de incentivo à leitura e à escrita é realizado em 19 cidades do País, dentre as quais Goiânia, com o único objetivo de fomentar o interesse dos alunos em exercitar a leitura e a escrita. “Ao contrário do que estão colocando, este kit em específico, que nem é mais o usado, aborda tão somente o tema assunto e coragem, que faz parte da nossa cultura popular, não há a conotação que estão dando”, defende Marcos Pedro.
Para o diretor, o projeto é muito bem fundamentado, possui início, meio e fim e foi elaborado por pessoas capacitadas para tal, educadores. “Com ele, buscamos ajudar os alunos a imaginar e escrever suas próprias histórias. Aqui em Goiânia, por exemplo, tivemos quatro redações dos nossos alunos selecionadas e que estão sendo divulgadas em escolas do Brasil inteiro. Isso é importante demais para as crianças que escreveram esses textos”, salienta.
Marcos Pedro concluiu a entrevista pontuando que não vê necessidade para a retirada do kit “Bú! Histórias de medo e coragem”, já que não tem sido usado em sala de aula e serve, tão somente, como acervo de leitura nas bibliotecas das escolas.