Vereadora Kátia Maria apresenta projeto de Cidade Esponja em Goiânia para conter enchentes e mudanças climáticas
25 setembro 2025 às 13h30

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Em uma Goiânia que enfrenta, ano após ano, sérios problemas com alagamentos, enchentes destrutivas, como a que causou a morte de uma jovem e arrastou carros e parte da infraestrutura urbana na última terça-feira, 23, a vereadora Kátia Maria (PT) apresenta um projeto de lei que pretende redesenhar a capital goiana, transformando-a em uma “Cidade Esponja”.
A proposta, baseada em soluções naturais, é um dos pilares de um novo pacote legislativo ambiental protocolado na Câmara Municipal e declara à percepção de que a gestão pública atual e anterior foram incapazes de preparar a cidade para os eventos climáticos extremos.
A entrevista concedida pela parlamentar ao Jornal Opção expõe a vulnerabilidade de Goiânia. O problema central, segundo Kátia Maria, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Casa, é a excessiva pavimentação. “A cidade está muito pavimentada. Então, você tem asfalto, você tem lotes pavimentados e você tem o grandioso de edificações. Então, a área permeável de terra em Goiânia hoje é pouca”, alerta.
Quando uma chuva intensa, como a que caiu em um único dia o volume esperado para todo o mês de setembro, encontra um solo impermeável e um sistema de drenagem “insuficiente” e “sem manutenção”, o resultado é a implosão. “A água é bruta, não pede licença e é por isso que a gente vê carros e motos sendo levados”.
“A culpa não é da população. A prefeitura precisa manter os bueiros limpos, fazer a coleta seletiva, fazer a coleta do orgânico. Ontem a gente via saco de lixo rodando na cidade”. A vereadora reconhece o papel do cidadão na produção consciente de resíduos, mas é enfática: “a tarefa principal é do Poder Público, é da prefeitura”.

Conceito da Cidade Esponja: absorver em vez de represar
A solução proposta vai na contramão da engenharia tradicional de concreto. O projeto de lei que institui a política da Cidade Esponja tem como premissa “criar as possibilidades para que a prefeitura possa implementar políticas públicas que possam garantir que as inundações (…) possam ser melhor trabalhadas a partir de soluções baseadas na natureza”.
O conceito, já adotado por cidades como Paris, segundo a vereadora, consiste em “trabalhar para mitigar esses riscos de incêndios, de desastres naturais, promover a biodiversidade, a nossa vegetação urbana, fazendo a gestão descentralizada da água”.
Na prática, significa substituir superfícies impermeáveis por áreas verdes que permitam a infiltração da água no solo.
A ideia é “intercalar galerias de águas pluviais, mas também espaços adaptados de Goiânia, onde possa fazer a permeação, a permeabilidade da água, para que a gente ajude nessa drenagem de forma natural”. Pavimentos drenantes, jardins de chuva, telhados verdes, parques inundáveis e a desimpermeabilização de lotes são algumas das medidas previstas. “O caminho de volta é tirar pavimento e garantir a permeabilidade do solo”
Além de enfrentar alagamentos, o projeto também busca melhorar o microclima urbano, reduzindo as chamadas “ilhas de calor” e aumentando a qualidade do ar. Para Kátia Maria, a ampliação das áreas verdes é estratégica tanto para a drenagem das águas quanto para o conforto térmico da população.
“Quanto mais vegetação você tem, quanto mais áreas arborizadas você tem, a sensação térmica de Goiânia será melhor. Então, o clima melhora de uma forma geral. Não é só evitar as enchentes, as inundações, mas a vegetação vai cumprir com o papel da qualidade do ar, da temperatura, da sensação térmica, os bolsões de calor, para que a gente possa amenizar também isso das mudanças climáticas.”
Prioridade: intervir onde a água já invadiu
Para Kátia, a medida é urgente diante do cenário de risco já mapeado pela Defesa Civil, que aponta mais de 100 pontos de alagamento em Goiânia. “Se tem um alagamento é porque a infraestrutura das galerias de águas pluviais está insuficiente e o volume de água não está sendo contemplado. Então, nós precisamos pensar nesses pontos de alagamento e nas intervenções que configuram, seja um jardim, seja uma área permeável, seja uma política onde parte do lote seja retirado essa pavimentação, o concreto e possa permear a água”, explicou.
A intervenção próxima a essas áreas “vai ajudar nas próximas chuvas a fazer a permeabilidade da água, desafogando, tirando força do uso das galerias”. Ela cita a região da Marginal Botafogo, cenário dos recentes estragos, como um epicentro do problema. “Se nós quisermos resolver o problema da Marginal Botafogo, nós precisamos começar a política da Cidade Esponja por essa cabeceira ali, entendeu? Setor Pedro [Ludovico], Redenção, Jardim Goiás, e ir descendo porque ele tem um impacto geral”.
A parlamentar atribui a gravidade da situação na área a um processo histórico de adensamento e impermeabilização. “É lá em cima, porque cortou muita árvore, pavimentou muito de forma desenfreada, e agora a consequência chegou. E nós precisamos fazer o caminho de volta”.
O projeto apresentado na última semana aguarda o parecer da Procuradoria da Câmara. Em seguida, seguirá o rito ordinário: passará pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), por duas votações em plenário e por uma comissão temática. O caminho é longo, e a vereadora, consciente dos desafios políticos, deposita esperança no poder de convencimento diante da gravidade dos fatos.
“Eu quero acreditar e irei trabalhar para convencer os outros vereadores da gravidade do momento ambiental que nós estamos vivendo em Goiânia, para sensibilizá-los para aprovar esse projeto de lei, que com toda certeza terá um benefício para a qualidade de vida e a segurança das pessoas no período de chuva”.
O pacote de projetos apresentados pela vereadora, além da Cidade Esponja, inclui medidas voltadas à educação ambiental, gestão de resíduos e fortalecimento da biodiversidade urbana. A proposta prevê a articulação da nova política com o Plano Diretor, a Lei de Uso e Ocupação do Solo e as políticas de saneamento e mobilidade, além de prever o uso de tecnologia, como sensores e georreferenciamento, para um monitoramento climático mais eficaz.
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