Uma história da enchente em Goiânia: uns lamentam e criticam, outros transformam emoção em ação
25 janeiro 2016 às 17h42

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A história de Flávia poderia ser de Ana ou de Francisco. De José ou Rafaela. De muita gente. Porque ainda há gente (e muita gente) que faria, fez e faz o mesmo que ela

Este domingo da veterinária Flávia Cristina Borges do Carmo foi diferente. Em vez de churrasco, clube, tarde de TV ou simplesmente ficar com a família, ela precisava concluir um compromisso que havia firmado consigo mesma: visitar a região atingida pela enchente do Córrego Cascavel e do Ribeirão Anicuns e fazer doações a famílias que perderam praticamente tudo que tinham.
Mais do que sua parte, ela levou consigo a colaboração de dezenas de pessoas. Flávia puxou uma campanha com a ajuda das redes sociais para as vítimas da inundação. “Na noite daquela chuva [terça-feira, 19], enquanto estava em casa, fiquei imaginando quem estaria na rua sem casa o tanto que seria desesperador”, conta.
As manchetes do dia seguinte aguçaram ainda mais a sensibilidade da veterinária. “Quando saiu nos jornais a situação em que tinham ficado algumas regiões, fiquei extremamente chateada. Foi muito triste ver o desespero daqueles que, de um dia para o outro, chegaram até ficar sem casa e então pediam ajuda.” De pronto, ela teve a ideia da campanha, que foi muito bem recebida por amigos e outras pessoas.
Foi a primeira iniciativa por parte de Flávia, mas a prática da solidariedade ela já havia aprendido em casa, com a família. “Quando era mais nova meus pais tinham o costume de fazer visitas a creches e asilos e me levavam”, diz.

Ao chegar à Vila São José para a entrega dos donativos — roupas, calçados e mantimentos, entre outros itens —, ela teve a ideia da real situação. E do quanto aquilo tinha valido a pena. “Antes eu só tinha visto a destruição por meio das reportagens. O cenário que encontrei lá era de pessoas que dependiam dessa ajuda e de outras, e que se mostraram extremamente agradecidas com o que recebiam. Tudo para eles é muito bem vindo”, concluiu.
É justo fazer a crítica ao poder público, que quase sempre (como agora) se mostra perdido em sua burocracia em condições de emergência como esta. Mas é importante ressaltar o papel de outro poder: o da população, que, com pessoas como Flávia e muitas outras, souberam avaliar a situação e agir com empatia e solidariedade.
A história de Flávia poderia ser a de Ana ou Francisco, de José ou Rafaela. De muita gente. Porque há muita gente que fez e faria o mesmo que ela. É bom ter essa gente por aí, para espalhar esse sentimento. De nada vale a emoção se isso não produzir nada. No caso de Flávia, produziu muitos frutos: roupas, calçados, alimento e esperança.