UFG fecha acordo com embaixada da Alemanha para geração de matéria-prima
24 julho 2023 às 19h30
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A Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) e da Secretaria de Relações Internacionais (SRI), e a Embaixada da Alemanha no Brasil firmaram um acordo internacional com o propósito de apoiar as “Guerreiras de Canudos”, um grupo de agricultoras tradicionais que trabalha com plantas medicinais e aromáticas, utilizando conhecimentos populares para desenvolver fitocosméticos de forma artesanal.
Esse projeto é financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e por agências alemãs, incluindo a Forschungszentrum Jüelich GmbH (FZJ) e a Fachagentur Nachwachsende Rohstoffe (FNR).
A coordenação do projeto é compartilhada entre a UFG, representada pelo Instituto de Química e pela Escola de Agronomia, e a Bergische Universitat Wuppertal (BWU) da Alemanha. Os pesquisadores responsáveis pela UFG são Vanessa Pasqualotto e Sérgio Sibov, enquanto Jörg Rinklebe lidera a equipe da BWU.
Além disso, outros parceiros incluem pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o grupo de mulheres Guerreiras de Canudos e a empresa Bio Cerrado Fitoterápico Produtos Naturais. Da parte alemã, pesquisadores da Freie Universität Berlin também participam do projeto.
A Funape é a gestora administrativa-financeira do projeto pela UFG, desempenhando um papel fundamental na viabilização das atividades. A secretária de Relações Internacionais da UFG, Laís Forti Thomaz, destaca que o acordo resultou de um esforço coletivo, envolvendo diversas instituições, e foi finalmente assinado após negociações intensas.
Luiz Fernando Araújo, coordenador do SPITT, enfatizou o desafio que foi ajustar um contrato único que respeitasse as legislações de ambos os países, considerando a diversidade de parceiros, incluindo instituições de ensino, empresas e agricultores tradicionais.
“Esse projeto de pesquisa tem um aporte de um edital Finep que exigia a participação de uma instituição estrangeira e de empresas. Em relação às tratativas, a participação da PRPI consistiu em fazer um meio de campo entre os interesses institucionais, onde foi preciso instruir sobre as cláusulas que abordavam a propriedade intelectual, exploração econômica dos resultados futuros que podem surgir dessa parceria e também orientações sobre o cadastro junto ao Sisgen (Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado) que foram dadas aos professores”, explicou.
O coordenador enfatizou que era necessário adotar uma minuta proposta pela Câmara Permanente de Ciência e Inovação, a fim de reforçar a segurança jurídica. Uma vez que a outra instituição também possuía um modelo contratual próprio, foi essencial conciliar as diferentes perspectivas de cada instituição e unificar essas abordagens em um único documento.
“O acordo já está assinado por todas as partes e foi devidamente publicado. Com a UFG sendo a gestora desse projeto em território nacional por meio da coordenação da professora Vanessa Pasqualotto, nós temos grandes expectativas de fomentar o conhecimento da comunidade tradicional Guerreiras de Canudos. Foi uma grande preocupação nossa observar a legislação que protege essas mulheres, ao mesmo tempo em que não podíamos impor nossa legislação, já que estávamos lidando com parceiros internacionais. Contamos com o apoio da SRI para observar convenções internacionais”.
Matéria-prima
O projeto intitulado “Plantas nativas brasileiras como fonte de matéria-prima inovadora para uso agrícola sustentável e cosmético contribuindo para bioeconomia aprimorada” foi selecionado pelo Edital Finep (MCTI/FINEP/FNDCT) 008/2020 na linha temática “Plantas aromáticas e medicinais”.
Essa seleção pública tinha como objetivo conceder recursos não reembolsáveis para o desenvolvimento de soluções inovadoras por instituições científicas e tecnológicas (ICTs) brasileiras, que atuassem em pesquisa, desenvolvimento e inovação, em parceria com uma instituição alemã. O foco era abordar temas e desafios da bioeconomia, conforme estipulado no edital.
Após quase dois anos da publicação do resultado final, em junho de 2023, as instituições finalmente conseguiram assinar o acordo que permitirá o financiamento do projeto, no montante de aproximadamente R$1,5 milhão.
A escolha do projeto se baseou na proposta de integração entre o conhecimento científico e o conhecimento tradicional, proveniente do grupo de agricultoras tradicionais “Guerreiras de Canudos”, que faz parte do Assentamento Canudos, localizado em Palmeiras de Goiás (GO). A cooperação visa desenvolver atividades e projetos na área de ciência, tecnologia e inovação, com o intuito de obter produtos, processos e serviços inovadores, além de promover a transferência e a disseminação de tecnologia.
O professor Sérgio Sibov relatou que a equipe responsável pelo projeto ficou entusiasmada com a celebração do acordo e o início dos trabalhos. Ele explicou que o Assentamento Canudos é constituído por cerca de 300 famílias, abrangendo uma área de aproximadamente 13.000 hectares, situado a aproximadamente 70 km de distância de Goiânia.
“Para diversificar a renda, as mulheres formaram um grupo – as Guerreiras de Canudos – que produz artesanatos com plantas medicinais e aromáticas nativas e exóticas. A proximidade com a capital facilita o acesso a um mercado de consumo mais expressivo, proporcionando oportunidades para o desenvolvimento econômico do assentamento. O uso de plantas medicinais e aromáticas é estimulado, especialmente em decorrência da falta de acesso aos serviços de saúde. No entanto, é importante utilizar esses recursos naturais de forma sustentável e segura’, defendeu.
Sérgio ainda ressaltou que o objetivo principal da proposta é impulsionar a investigação científica do bioma Cerrado, envolvendo diversos agentes, para atender à crescente demanda do mercado por matérias-primas de origem vegetal utilizadas na produção de cosméticos pelas Guerreiras de Canudos.
“Isso pode gerar emprego e renda, bem como desenvolvimento econômico sustentável para o assentamento. As ações incluem: pesquisas colaborativas com a universidade, infraestrutura melhorada, cursos de boas práticas de produção, sensibilização ambiental e capacitação das mulheres para a manipulação adequada da matéria-prima. Isso pode favorecer o desenvolvimento de uma cadeia produtiva especializada em recursos vegetais pouco exploradores pela indústria brasileira”, finalizou.
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