Ciente da demanda crescente global pelos minerais críticos, encontrados nas chamadas terras raras, especialmente devido à transição energética dos combustíveis fósseis para fontes renováveis, Goiás está com planos para se tornar local de destaque no assunto.

Atualmente bastante concentrado na China, os minerais críticos têm gerado uma busca mundial por fornecedores. Goiás já possui um grande projeto de extração de terras raras em operação, localizado em Minaçu, e mais dois em fase inicial de implantação, nas cidades de Iporá e Nova Roma. O minério é essencial na fabricação de produtos de alta tecnologia sustentável e na produção de componentes para dispositivos como celulares, motores elétricos, turbinas eólicas, drones e equipamentos médicos.

Nesse sentido, a exploração de terras raras já está dentro Plano Estadual de Recursos Minerais (PERM-GO), que deve ser votado na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) no segundo semestre, uma iniciativa que inclui políticas públicas para o desenvolvimento na área.

Em entrevista ao Jornal Opção, o secretário de Indústria e Comércio (SIC), Joel Sant’Anna Braga, mencionou sobre os investimentos em andamento e que após o fechamento da Metago, empresa estatal do ramo de mineração, Goiás não teve mais planos elaborados de desenvolvimento em Goiás.

“Há muitos anos, a Metago fazia a política mineral do estado. Ela foi encerrada e não teve mais investimento em planos de desenvolvimento da mineração. O governador Ronaldo Caiano resgatou, há dois anos e meio, e nós estamos trabalhando no PERM, junto com universidades e outras instituições que têm o conhecimento para podermos fazer o levantamento de todo o estado. Tem várias empresas chinesas, europeias, fazendo sondagens em Goiás”, afirmou.

De acordo com a gerente do setor de Minas da SIC, Lívia Parreira, o plano de mineração estabelece diretrizes a longo prazo. “O PERM 2022-2042 estabelece diretrizes para os próximos vinte anos, traçando um plano de ação dos objetivos e ações estratégicas para o setor mineral, inclusive definindo indicadores de monitoramento da política proposta”, explica.

Segundo ela, haverá um caderno intitulado “Desafios para a Geologia, Mineração e Transformação Mineral”, em que os minerais chamados críticos, ou estratégicos como as terras raras, terão um relatório especialmente para os minerais estratégicos, conforme definição do Ministério de Minas e Energia.

“O PERM ainda abordará uma caracterização da mão de obra na indústria minerária, o perfil e o nível de capacitação da mão de obra, além de avaliar suas condições de saúde e segurança ocupacional. E também analisará o impacto na mineração de possíveis medidas políticas e regulatórias, em nível estadual, nacional e internacional, na cadeia produtiva mineral”, completou a gerente.

O primeiro grande empreendimento em Goiás é da Serra Verde Pesquisa e Mineração, que realiza uma operação integrada de mineração e processamento de elementos de terras raras (ETR) em Minaçu, no Norte do Estado.

A empresa iniciou a primeira fase de operações no início deste ano, produzindo um concentrado mineral único, uma combinação valiosa de ETRs magnéticos pesados e leves, incluindo neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy).

“Serra Verde já tem a licença e estão operando. Agora, a licença já em andamento de Nova Roma, com o investimento da Aclara, é uma outra sondagem que os investidores até pediram uma audiência com o governador no mês de julho”, disse Braga. Segundo a empresa, o investimento será de aproximadamente R$ 2,5 bilhões.

A Aclara ainda pretende implantar um laboratório de teste na Grande Goiânia, aos moldes do que existe em Concepción, no Chile, em 2025. “Outras empresas, como a canadense Appia, manifestaram interesse em investir na região e planejam uma audiência com o governador também em julho para discutir investimentos”, anunciou o secretário.

Andréa Vulcanis e Joel de Sant’Anna Braga Filho | Foto: divulgação/Secom
Andréa Vulcanis e Joel de Sant’Anna Braga Filho | Foto: divulgação/Secom

Os investimentos realizados pela empresa no estado de Goiás serão de R$ 50 milhões na fase inicial, e depois R$ 500 milhões na planta de concentrado de carboneto em até quatro anos, totalizando um investimento de R$ 550 milhões.

Elementos químicos

As terras raras consistem em 17 elementos químicos, sendo quatro deles os mais valorizados, utilizados como matérias-primas na fabricação de produtos de alta tecnologia sustentável e na produção de componentes para dispositivos como celulares, motores elétricos, turbinas eólicas, drones e equipamentos médicos.

Para a produção de smartphones, por exemplo, uma série desses elementos é empregada. Contudo, o mundo enfrenta uma crise de abastecimento dessas terras raras.

“Esse assunto está se tornando não só dos chineses, os americanos e os europeus estão interessados para eles terem as reservas que só os chineses prospectavam. Com a liderança das fábricas de carros híbridos e elétricos, essa corrida por esses minérios é importante e estratégico para a gente porque é um novo investimento que está sendo feito no Estado, dada a mudança da matriz energética. Esses motores elétricos precisam do metal nobre, como se fosse um ímã que puxa a energia da bateria. São poucas gramas, mas é uma função primordial para fazer a tração”, pontuou o secretário.

O depósito da Serra Verde em Minaçu é a primeira operação fora da Ásia a produzir esses quatro elementos de terras raras magnéticas essenciais para a fabricação de ímãs permanentes usados em motores de veículos elétricos e geradores de turbinas eólicas.

A empresa está a caminho de se tornar a terceira maior produtora mundial. Isso torna seu depósito em Minaçu um ativo estratégico nas cadeias emergentes de produção global de superímãs. O investimento foi estimado em cerca de R$ 760 milhões e cerca de mil empregos foram gerados na região.

Segundo a empresa, as amostras do concentrado provenientes do depósito de ETRs da Serra Verde, que possui dimensões que garantem uma longa vida útil para a mina, já foram amplamente testadas e aprovadas, possibilitando a consolidação de acordos com líderes do mercado global para fornecimento.

A expectativa para esta fase é produzir pelo menos 5 mil toneladas por ano de óxido de terras raras, ao longo de 25 anos, com potencial de ampliação da capacidade e vida útil, por meio da otimização da planta e expansão das reservas minerais.

“Como esses motores já usam elementos encontrados nessas terras raras, é importante para Goiás ter verticalização, e não só a gente pegar esse minério e mandar para a China e outros países, vendendo como commodity. Agora, a gente pode, dentro do Brasil também, com as fábricas como a BYD, que vão ter essas próprias mineradoras como fornecedoras de matéria-prima e verticalizar aqui mesmo, ao invés de vender para outro país fabricar e depois voltar”, reforçou o secretário.

Expansão

A Aclara Resources, do grupo Hochschild Mining, planeja investir cerca de R$ 2 bilhões na produção de minerais em terras raras em Nova Roma, a 575 quilômetros da capital. A empresa descobriu um novo elemento pesado de terras raras (HREE) no projeto de argilas iônicas “Módulo Carina”.

A fase inicial de exploração incluiu 1.693 metros de perfuração em 238 furos para descobrir um novo depósito do elemento pesado de terras raras. A área mineralizada abrange cerca de 1,4 mil hectares, com potencial para expansão lateral.

A mineradora canadense Appia Rare Earths & Uranium Corp. planeja investir R$ 550 milhões em Goiás nos próximos quatro anos. O anúncio oficial será feito em julho, quando o presidente da empresa, Stephen Burega, estará no Brasil.

“A gente está trabalhando em um plano para fazer com que, quando esse investimento chegue, as cidades tenham, junto com as prefeituras, toda a estrutura, porque vão chegar milhares de pessoas para morar e trabalhar. Precisar ter posto de gasolina, padaria, hotel, quer dizer, a gente tem que receber essas empresas internacionais de uma forma que elas tenham uma estrutura mínima para poder trabalhar”, afirmou Braga.

Do total de investimentos, R$ 50 milhões serão destinados à conclusão das pesquisas e R$ 500 milhões à implantação da planta de concentrado de carbonato. Em seu site oficial, a Appia já definiu o Projeto PCH, desenvolvido em Goiás, como muito significativo.

“Os investimentos na mineração, no geral, atuam significativamente na geração de empregos, na educação, na saúde, melhoram a arrecadação e desenvolvem tecnologicamente o município, além de melhorar sua infraestrutura. E, principalmente, melhoram índices importantes de desenvolvimento, como por exemplo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, defende Lívia Parreira.

Os resultados da perfuração anunciados em outubro de 2023 do Projeto PCH foram encorajadores. Além disso, segundo a empresa, o projeto PCH está localizado em uma jurisdição que apoia atividades de mineração, com grandes empresas explorando ativamente, a 30 quilômetros de Iporá.

De acordo com previsão de Joel Sant’Anna Braga, as empresas devem conseguir suas licenças em cerca de dois anos e meio. “A vontade nossa é que dentro ainda do governo Ronaldo Caiado, a gente esteja com Nova Roma, pelo menos, já licenciada para poder lançar operação. Uma coisa importante é que o mais difícil já foi feito, porque já tem o estudo pronto, um mineral extraído, que até foi no laboratório no Chile para vermos como é a extração do mineral”, contou o secretário.

O auxiliar de Caiado revelou em primeira mão que será construído um laboratório na Grande Goiânia, nos moldes que foi feito no Chile, para mostrar às autoridades como é feito o processo de extração nas terras raras.

“É como se fosse um milésimo do tamanho da indústria. Eles fazem um laboratório e, dentro dele, tem toda a manipulação, lavagem da terra. É como se fosse uma purificação da terra”, explicou.

O secretário de Indústria e Comércio mencionou que várias mineradoras estão fazendo prospecção, não apenas em Goiás, mas também em outras regiões, como Minas Gerais, Bahia, Pará.

“Várias mineradoras estão fazendo esses estudos. São preliminares, eles têm licença só do Governo Federal para depois, se esses estudos se concluírem, como foi com Serra Verde, que já está em funcionamento. O minério, na verdade, a primeira autorização é do Governo Federal para poder fazer os estudos. Depois, quando tem a extração, tem que ter as licenças ambientais do Estado”, pontuou.

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