Tarifaço de Trump tem sequência: decreto das taxas recíprocas deve ser assinado nesta quinta, 13

13 fevereiro 2025 às 08h21

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Os Estados Unidos devem começar a cobrar tarifas recíprocas para países que taxam as importações vindas do país. O presidente Donald Trump prometeu assinar ainda nesta quinta-feira, 13, um pacote de tarifas que deve começar a valer “quase” de imediato. Esse é mais um passo na estratégia do republicano em favorecer o comércio doméstico em detrimento da concorrência estrangeira.
Na última segunda-feira, 10, por exemplo, Trump assinou decreto impondo tarifas de 25% para todas compras de aço e alumínio vindas do exterior (medida entra em vigor a partir de 12 de março). Na ocasião, ele disse que “este [decreto] é o primeiro de muitos. E você sabe o que quero dizer com isso? Outros assuntos, tópicos, proteger nossas indústrias de aço e alumínio é essencial”.
No mesmo dia, o presidente da maior economia do mundo anunciou as tarifas recíprocas ainda para esta semana e compartilhou com a imprensa local os estudos sobre taxação a parte para carros, semicondutores e produtos farmacêuticos. Pouco antes, no início do mês, os Estados Unidos anunciaram tarifas de 25% sobre produtos importados do México e do Canadá. Apesar da medida ter sido suspensa por 30 dias após acordos feitos entre as partes, houve reação do governo canadense, que anunciou as mesmas tarifas sobre os produtos importados do país vizinho.
A China também teve aumentos tarifários, com um reforço recente de mais 10% sobre as taxas anteriormente anunciadas. Chineses responderam com imposição de tarifas que variam entre os 10% e os 15% para as importações estadunidenses.
Até mesmo a União Europeia foi atingida com a recente taxação sobre aço e alumínio, o que puxou uma reação do bloco. “Tarifas injustificadas sobre a UE não ficarão sem resposta, elas desencadearão contramedidas firmes e proporcionais”, colocou Ursula von der Leyen, chefe da União Europeia. Existem estudos de taxação sobre o Bourbon, jeans e motocicletas dos Estados Unidos na Europa.
A proposta de um novo “tarifaço” pelo presidente Donald Trump preocupa economistas, que temem uma escalada nas tensões comerciais e um impacto significativo na economia global. O aumento generalizado das tarifas sobre produtos importados poderia pressionar a inflação nos Estados Unidos, elevando os custos dos insumos básicos e gerando reajustes ao longo de toda a cadeia produtiva.
Leia também: Em resposta a Trump, Trudeau anuncia taxas de 25% sobre produtos vindos dos Estados Unidos para o Canadá
Trump anuncia tarifas de 25% sobre importação de aço e alumínio; Brasil está entre os mais afetados
A alta nos preços tornaria ainda mais desafiador para o Federal Reserve (Fed) atingir sua meta inflacionária de 2%. Em janeiro, o índice de preços ao consumidor voltou a subir, alcançando 3% no acumulado de 12 meses, com uma alta mensal de 0,5%. O cenário reduz a possibilidade de cortes na taxa de juros dos EUA, atualmente entre 4,25% e 4,50%.
O impacto se estende além das fronteiras americanas. Com juros mais elevados, os títulos do Tesouro dos EUA se tornam mais atraentes para investidores, provocando uma fuga de capitais para o mercado estadunidense e fortalecendo o dólar frente a outras moedas, incluindo o real.
Trump já utilizou a estratégia de ameaças tarifárias em seu primeiro mandato, buscando vantagens em negociações bilaterais. Apesar dos riscos inflacionários, parte do mercado avalia que as medidas podem ser revertidas antes que provoquem danos mais severos à economia global.
Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank, disse recentemente à Agência Reuters que: “A retórica superagressiva de Trump parece ser, de fato, o que todos suspeitavam desde o início: uma grande alavanca para negociar acordos comerciais e atender outros objetivos políticos”.
Guerra comercial
A nova investida protecionista dos Estados Unidos sob Donald Trump segue a promessa do de taxar os principais parceiros comerciais do país. O foco está em nações com as quais os EUA registram déficit na balança comercial, ou seja, compram mais do que vendem.
Trump justifica a imposição de tarifas como uma estratégia para combater déficits comerciais e enfrentar questões nas fronteiras, incluindo a imigração irregular e o tráfico de drogas. O republicano também indicou que pretende tarifar produtos da União Europeia, mas não especificou os percentuais nem quando as medidas entrariam em vigor.
Enquanto as ameaças tarifárias não se concretizavam, mercados emergentes, como o Brasil, vinham se beneficiando do ambiente global. No entanto, medidas protecionistas como a alta de tarifas de importação e a política anti-imigração podem pressionar a inflação nos EUA. Além disso, a renúncia fiscal para impulsionar empresas americanas levanta preocupações sobre o equilíbrio das contas públicas.
O cenário torna mais desafiador o trabalho do Federal Reserve (Fed) no controle da inflação, aumentando a probabilidade de manutenção de juros elevados. Taxas mais altas fortalecem o apelo dos títulos públicos dos EUA (Treasuries), atraindo investidores e valorizando o dólar frente a outras moedas.
No Brasil, essa fuga de capitais pode levar o Banco Central a segurar ou até elevar a Selic, impactando o crescimento econômico. O país também pode sofrer os efeitos indiretos de uma desaceleração da China, caso Trump amplie as taxações contra os produtos chineses.
Outro reflexo pode ser o aumento da oferta de produtos asiáticos no mercado brasileiro. Com os EUA reduzindo importações da China, manufaturados chineses (geralmente mais baratos) podem buscar novos destinos, acirrando a concorrência interna.