Diretor do Araújo Jorge afirma que repasses devem ser feitos até o fim da semana
17 dezembro 2024 às 14h02
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O Hospital de Câncer Araújo Jorge, referência em oncologia em Goiás, anunciou que, a partir desta terça-feira, 17, suspenderá os atendimentos de primeira consulta oncológica regulados pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia. A decisão foi tomada devido à falta de repasses da Prefeitura, que acumula uma dívida de mais de R$ 50 milhões com a instituição. A medida, considerada urgente, evidencia o problema crescente e contínuo na saúde pública municipal, deixando milhares de pacientes oncológicos sem perspectiva de atendimento inicial, enquanto a continuidade do tratamento dos pacientes já em acompanhamento permanece assegurada.
O presidente da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), Alexandre Meneghini, destacou em entrevista exclusiva ao Jornal Opção que a instituição chegou ao limite financeiro. “O que fizemos foi um freio de arrumação. Suspendemos as consultas de primeira vez para concentrar nossos esforços no atendimento daqueles que já estão aqui e precisam continuar com os tratamentos”, explicou. Meneghini alertou que, embora os estoques existentes garantam o funcionamento atual, sem novas verbas, não há como admitir novos pacientes.
Dívida milionária e colapso iminente
Atualmente, a dívida total da Prefeitura com o Araújo Jorge ultrapassa R$ 55 milhões, somando atrasos da produção SUS dos meses de setembro e outubro, além de valores de emendas parlamentares e portarias federais não repassados. Com aproximadamente 90% da receita vinda do Sistema Único de Saúde (SUS), os repasses municipais são cruciais para o funcionamento do hospital, que atende mais de 70% dos casos oncológicos em Goiás. Sem esses recursos, serviços essenciais, como compra de medicamentos, pagamento de profissionais e manutenção de equipamentos, estão ameaçados.
Entre os equipamentos em risco, Meneghini apontou os problemas na radioterapia: “Temos aparelhos que precisavam ter sido trocados. Um deles está em funcionamento desde 1999 e outro já completou dez anos. Estamos sobrecarregando as máquinas, e isso pode levar a uma parada da radioterapia se nada for feito”. Segundo ele, um acelerador linear novo é fundamental para que o hospital mantenha os tratamentos de radioterapia sem interrupções.
A situação crítica, no entanto, já afeta o planejamento do hospital. Alexandre Meneghini expressou preocupação em relação ao futuro imediato: “Eu não sei nem se conseguirei pagar o 13º salário dos funcionários até o fim do ano. Nosso caixa está zerado”, revelou.
Negociação estagnada com a gestão pública
Apesar das diversas tentativas de diálogo, a atual gestão da Prefeitura de Goiânia ainda não apresentou uma solução concreta. De acordo com o presidente da ACCG, o contato com representantes municipais existe, porém, sem resultados práticos. “Conversamos com o interventor, que demonstrou boa vontade, mas eu preciso do dinheiro. Só a boa vontade não adianta”, desabafou.
Meneghini, contudo, vê no próximo governo uma esperança para a resolução da crise. Ele citou o empenho do prefeito eleito Sandro Mabel, que deve assumir em janeiro: “O Sandro tem se mostrado muito comprometido em resolver isso. Existe um esforço dele e da equipe, mas eles ainda não têm o controle das contas. A gente só poderá avançar quando houver planejamento real”, enfatizou.
O presidente ainda destacou que, neste momento, a instituição opera sob risco permanente. “Nossa prioridade é manter os tratamentos dos pacientes já existentes, mas sem receber recursos, não temos como admitir novos pacientes, nem por emergência”, alertou.
Impacto da paralisação nos pacientes e na rede pública
A decisão de suspender as novas consultas oncológicas têm um impacto direto sobre milhares de pessoas que dependem do Araújo Jorge para diagnósticos e início do tratamento do câncer. Esses pacientes, agora, devem buscar o Complexo Regulador da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia para tentar reencaminhamento ou orientações alternativas.
Para os pacientes que já estão em acompanhamento no Araújo Jorge, os atendimentos seguem sem alterações, pois garantir a continuidade dos tratamentos é prioridade absoluta. “A situação é grave, mas o mundo não acaba hoje. Vamos usar o que temos em estoque e tentar tocar até conseguirmos uma perspectiva mais concreta de recebimento dos recursos”, reiterou Meneghini.
O colapso na oncologia pode ser evitado?
Além dos apelos por repasses imediatos, o hospital faz um pedido urgente ao Governo do Estado de Goiás, parlamentares e à sociedade para que se mobilizem em busca de soluções. A ACCG clama por ações concretas que garantam a retomada dos atendimentos de novas consultas e evitem o agravamento da crise na assistência oncológica no estado. “É inadmissível que um hospital que salva tantas vidas e é referência em oncologia seja tratado com tanto descaso”, afirmou o presidente.
Além do risco iminente na paralisação da radioterapia, a crise também expõe os pacientes oncológicos a um cenário de incerteza e insegurança. Segundo Alexandre Meneghini, a única saída viável envolve o retorno dos repasses financeiros essenciais ao hospital e a retomada do planejamento estrutural para trocas de equipamentos que há anos deveriam ter sido substituídos.
“O gabinete de crise já pensa em estratégias, mas tudo depende dos repasses. Parece que vamos receber algo até o fim de semana, mas ainda não temos certeza. Enquanto isso, milhares de vidas estão em risco e seguimos sem previsão de retomada dos atendimentos de novas consultas”, concluiu.
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