O consumo de streaming e serviços baseados em inteligência artificial (IA) no Brasil bate recordes em 2025 e já pressiona as contas externas do país. Plataformas de filmes, séries, música, games, computação em nuvem e ferramentas de IA entraram definitivamente no cotidiano de milhões de brasileiros, impulsionando gastos com empresas estrangeiras e elevando o déficit nas transações de serviços.

Segundo dados do Banco Central, divulgados pelo jornal O Globo, as despesas com computação em nuvem e plataformas digitais, em sua maioria contratadas de big techs sediadas no exterior, aumentaram 24% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano passado. O saldo negativo das rubricas de propriedade intelectual e telecomunicações somou US$ 9,94 bilhões. A lista de empresas beneficiadas inclui Google, Apple, Microsoft, Netflix, Meta, OpenAI, Amazon e IBM.

“É um fluxo estrutural que veio para ficar, com penetração nas diferentes camadas sociais e que vai se manter nos próximos meses e anos”, afirma Felipe Kotinda, economista do Santander.

O investimento em tecnologia também se intensifica entre empresas brasileiras. A Gerdau destina 5% da receita líquida à transformação digital. No setor financeiro, a Febraban estima que bancos invistam R$ 47,8 bilhões em tecnologia neste ano. Entretanto, boa parte dos serviços e equipamentos utilizados é produzida fora do país, o que aumenta a saída de dólares.

Mudança no hábito de consumo

O que antes se restringia a softwares corporativos e filmes estrangeiros passou a integrar a rotina doméstica brasileira. Além de serviços de streaming de vídeo e música, cresce o uso de armazenamento em nuvem, motores de IA e pacotes de games digitais.

Um levantamento da consultoria PwC projeta que os brasileiros gastarão US$ 39,4 bilhões em assinaturas digitais em 2025, alta de 4,6% sobre 2024. A taxa supera a média mundial estimada de 3,9%.

Casos individuais ilustram o fenômeno. A fotógrafa Beatriz Kalil Othero afirma que a família mantém seis assinaturas, entre filmes e músicas, gastando cerca de R$ 150 mensais. Já o editor de vídeos Manuel Victor optou por um pacote de jogos digitais com acesso a centenas de títulos. “Vale mais a pena pagar a assinatura, que me dá mais opções por um preço único”, diz.

Esse crescimento no déficit de serviços coincide com um momento delicado para as transações correntes do Brasil. O saldo passou de 1,1% do PIB em maio de 2024 para 3,4% em junho deste ano, com projeções de alcançar 4%. A consultoria Capital Economics alerta que, sem um fluxo robusto de investimentos externos de longo prazo, o país pode ficar mais vulnerável à volatilidade cambial, aumentando a pressão sobre o real frente ao dólar.

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