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Constranger e intimidar mulheres que estão no poder público é um projeto político. Foi a Polícia Federal que assumiu a investigação da denúncia da deputada federal Silvye Alves (UB-GO) de que um homem enviava fotos da própria genitália para ela. As imagens foram enviadas não por redes sociais privadas, mas para o e-mail dela vinculado à Câmara. Ele é investigado por violência política de gênero e perseguição. 

Outra vítima, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), além de mensagens de cunho sexual enviadas por este mesmo alvo, relatou outros assédios e até ameaças de morte ao longo do mandato. Aava Santiago, Camila Rosa, Adriana Accorsi, são vários os nomes que já receberam ameaças para si e seus familiares, assediadas e silenciadas dentro do espaço de trabalho. Do PT ao União, a violência política de gênero, diferente de outras brigas ideológicas pelo país, não questiona ou condena ideias, mas qualquer mulher em um espaço público. 

De forma recorrente, a deputada estadual Bia de Lima (PT-GO) é atacada pelo deputado Amauri Ribeiro (UB-GO) durante as sessões da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego). No caso mais recente, o deputado disse: “fica caladinha, senta aí”. Mesmo assim, o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás alegou que não existe caso algum de violência de gênero em Goiás registrado este ano. No entanto, a denúncia de Bia de Lima, por exemplo, foi rejeitada em 13 de maio quando, por cinco votos a dois, os desembargadores concluíram que Amauri não cometeu violência política de gênero contra ela. Para zerar as denúncias, basta negá-las.

Ao se pronunciar, Silvye pediu que ele fosse preso, para servir de exemplo, o que não aconteceu. Para além das urnas, o custo da permanência das mulheres na política é alto. O sistema se alimenta sozinho: as políticas mulheres em Goiás são silenciadas de novo e de novo; nos microfones das sessões, nas votações e até depois da denúncia.

No caso de Bia, os desembargadores pontuaram na decisão que as ofensas não tinham o objetivo de “interferir o exercício pleno do mandato” dela, por isso, não poderia ser considerado crime político. O relator do caso, o desembargador Ivo Favaro, disse que “o limite da inviolabilidade parlamentar é o discurso de ódio, e não a grosseria, a má-educação, por maior que seja”. 

A única mulher desembargadora que participou, foi favorável ao aceite da denúncia. O próprio TRE reconhece como violência política quando mulheres não são indicadas como relatoras, titulares ou líderes; quando são interrompidas ou excluídas; questionadas sobre aparência física ou roupas; ou ainda questionadas sobre a vida privada, como relacionamentos, sexualidade ou maternidade.

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