Um áudio enviado pelo pastor Silas Malafaia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acirrou ainda mais a crise familiar envolvendo o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A gravação, incluída no relatório da Polícia Federal (PF) que embasou o indiciamento do ex-chefe do Executivo e de seu filho nesta quarta-feira, 20, mostra o líder religioso chamando Eduardo de “babaca” e acusando-o de fornecer munição política à esquerda.

Na gravação revelada pela Polícia Federal, Malafaia não economiza palavras para criticar Eduardo Bolsonaro. Em tom exaltado, o pastor dispara: “Esse seu filho é Eduardo é um babaca. Inexperiente que está dando a Lula e a esquerda o discurso nacionalista, e, ao mesmo tempo, te ferrando”.

Trecho de conversa entre Silas Malafaia e Jair Bolsonaro | Foto: Reprodução

O líder evangélico vai além e afirma ter repreendido o deputado diretamente. “Toda a arrombada que o Trump deu no mundo é sobre economia. Com o Brasil, é sobre você, cara. A faca e o queijo tá na sua mão, cacete. E não podemos perder isso. E vem teu filho babaca falar merda, dando discurso nacionalista, que sei que você não é a favor disso. Dei-lhe um esporro, cara. Mandei um áudio para ele de arrombar. E disse: a próxima que tu fizer, gravo um vídeo e te arrebento, falei para o Eduardo. Vai para o meio de um cacete, pô”.

Ouça áudio:

Em outro momento, Malafaia reforça sua indignação e ameaça expor publicamente o filho de Bolsonaro: “Um estúpido de marca maior, estou indignado. Só não faço um vídeo e arrebento com ele porque por consideração a você. Não sei se vou ter paciência e ficar calado, se esse idiota falar mais alguma asneira”.

Bolsonaro nega briga, mas mensagens revelam embate com Eduardo

Apesar da pressão do aliado, Jair Bolsonaro tentou minimizar a situação. Em resposta a Malafaia, o ex-presidente negou que houvesse conflitos dentro da família. “Não teve discussão violenta com filho nenhum meu. Isso é fofoca. Querem nos dividir o tempo todo”, escreveu ao pastor.

No entanto, o relatório da Polícia Federal contradiz a versão de Bolsonaro. Documentos extraídos do WhatsApp do ex-presidente evidenciam uma troca de mensagens ríspidas entre pai e filho. Eduardo Bolsonaro teria reagido com dureza após o pai afirmar em entrevista ao site Poder360 que ele havia sido imaturo ao discutir com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre tarifas impostas ao Brasil pelo governo de Donald Trump.

Em 15 de julho, o deputado escreveu: “Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio [de Freitas], mas graças aos ‘elogios’ que você fez a mim no Poder 360 [em entrevista], estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você aprende. Vai tomar no c, seu ingrato do caralh*! [Estou] me fodend* aqui e você se ajudando a se fod** aí. Se o ‘imaturo’ do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, porque você me joga para baixo, quem vai se fod** é você. E vai decretar o resto da minha vida nesta porr* aqui. Tenha responsabilidade!”.

Trecho de conversa entre Eduardo e Jair Bolsonaro no WhatsApp | Foto: Polícia Federal/Reprodução

As mensagens reforçam a existência de atritos diretos entre Jair e Eduardo, contrariando a narrativa oficial apresentada pelo ex-presidente.

A Polícia Federal concluiu pelo indiciamento de Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro. Ambos são acusados de coação no curso do processo e de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, crimes que, segundo a PF, foram praticados por meio de pressões e discursos que visavam restringir o funcionamento das instituições.

O relatório, entregue nesta quarta-feira, 20, será encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Moraes deverá remeter os autos à Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável por decidir os próximos passos. O procurador-geral Paulo Gonet poderá oferecer denúncia, solicitar diligências complementares ou arquivar a investigação.

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