Servidor do Ministério da Justiça diz que governo Bolsonaro queria vincular Lula à facção criminosa

14 julho 2025 às 14h55

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Ouvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o servidor do Ministério da Justiça, Clebson Ferreira, afirmou que a subsecretária da pasta durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) pediu análises para tentar estabelecer relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à facções criminosas. Clebson prestou depoimento nesta segunda-feira, 14.
O servidor foi uma das testemunhas ouvidas pela Corte no âmbito do inquérito que apura uma suposta trama golpista em 2022. Clebson era lotado na Secretaria de Inteligência da pasta durante o governo Bolsonaro. O servidor também disse que foi demandado para fazer um relatório sobre os municípios em que o então candidato Lula estaria na liderança com mais de 75% dos votos.
O STF ouve testemunhas de acusação nos processos de três núcleos da trama golpista, que somam 23 réus: o núcleo 2, do gerenciamento de ações, com 6 acusados; o núcleo 3, das ações coercitivas, com 10 acusados; o núcleo 4, das operações estratégicas de desinformação, com 7 acusados.
Nesta tarde, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, prestará novo depoimento à Corte. Cid fechou acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF) e deve contribuir com esclarecimentos em relação à atuação de outros núcleos.
Questionado sobre uma troca de mensagens que teve com a esposa, na época, falando de uma demanda que teria recebido da diretoria do Ministério da Justiça, Clebson afirmou que a subsecretária de Inteligência pediu a elaboração de uma correlação estatística de votos em áreas dominadas por facções criminosas, para verificar se o presidente Lula tinha mais votos em regiões em que há o domínio do Comando Vermelho.
“Camila é minha esposa à época, agora minha ex-esposa, e às vezes eu mantinha contato com ela quando chegava alguma demanda com algum tipo de viés político, referente a tentar ajudar o governo”, explicou.
“Eu lembro que tinha mencionado que chegou um pedido para tentar ver análise e correlação estatística da concentração de votos em territórios do Comando Vermelho no Rio de Janeiro, para ver se tinha correlação se o candidato Lula tinha maior concentração de votos em área dominadas por facção criminosa”, completou.
De acordo com ele, a área de inteligência da pasta pediu para que ele fizesse análise das concentrações de votos de Bolsonaro e Lula para identificar regiões em que os candidatos teriam, ao menos, 75% dos votos. De acordo com ele, ficou “nítido” como a PRF atuou de forma diferente nas áreas em que Lula tinha mais de 75% da preferência do eleitorado.
“Onde Lula tinha mais de 75% houve uma pressão nas adjacências de trânsito, não só nas cidades, mas nas circunvizinhas”, afirmou.
“Quando fiz os dados e filtrei 75% acima, houve um mar vermelho de pontos no Nordeste e começaram a explodir na minha raspagem de dados e notícias de que pessoas estavam impedidas [de votar] por congestionamentos grandes. E eu vi que uma cidade do meu estado estava sofrendo isso”, completou.
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