A popularidade das apostas online e das chamadas bets no Brasil tem gerado impactos na saúde financeira de milhares de famílias. Dados da pesquisa “A Relação dos Inadimplentes com as Apostas”, conduzida pela Serasa em parceria com o Instituto Opinion Box, revelam que 34% dos inadimplentes continuam apostando, enquanto 44% já utilizaram essas plataformas com o objetivo de quitar dívidas. Diante desse cenário, a Serasa desenvolveu o “Guia Serasa de Bets e Apostas Online: Como Evitar que o Entretenimento Afete a Saúde Financeira”, com orientações práticas para uma relação mais saudável com as apostas.

Em entrevista ao Jornal Opção, Patrícia Camillo, gerente executiva e especialista em educação financeira da Serasa, destacou que uma parcela significativa dos apostadores encara as apostas como uma solução financeira. “Observamos que muitos utilizam esses mecanismos não como entretenimento, mas como um suposto investimento. O problema é que a expectativa de retorno, na maioria das vezes, não se concretiza”, explicou. Segundo a pesquisa, 52% dos apostadores relatam ter perdido mais dinheiro do que ganharam, o que alimenta um ciclo de dívidas e frustrações.

Essa realidade, conforme detalha Camillo, reflete um problema estrutural de educação financeira no país. “Muitos não entendem as diferenças entre investir e apostar. Isso evidencia a necessidade de maior conscientização sobre planejamento financeiro, para evitar que comportamentos desorganizados comprometam ainda mais a estabilidade econômica das famílias”, acrescentou.

Os números das apostas no Brasil

O levantamento realizado pela Serasa entrevistou 4.463 consumidores inadimplentes de todas as regiões do Brasil. A pesquisa revelou que 10% dos participantes chegaram a solicitar crédito para apostar, enquanto outros deixaram de pagar contas básicas para manter os gastos com as bets.

Esses comportamentos indicam sinais de dependência financeira ou até mesmo de vício, alerta Camillo. “Quando as perdas começam a acumular, o apostador tenta compensá-las com novas apostas. Isso cria uma ‘bola de neve’ que não apenas impacta a saúde financeira, mas também traz consequências psicológicas e sociais para o indivíduo e sua família”, explicou.

A tendência é agravada pelo crescimento do setor nos últimos anos. De acordo com os dados, 58% dos inadimplentes afirmaram ter começado a apostar nos últimos dois anos, o que indica um aumento na adesão às plataformas online.

Educação financeira como solução

O ciclo de dívidas associado às apostas expõe a fragilidade da educação financeira no Brasil. Para Camillo, o problema vai além da matemática. “Educação financeira é, sobretudo, comportamental. Trata-se de entender quanto você ganha, quanto gasta e criar estratégias para manter o equilíbrio. Sem essa base, as pessoas se tornam mais vulneráveis a armadilhas como as bets”, afirmou.

Nesse sentido, o Guia Serasa de Bets oferece dicas práticas, como estabelecer um limite claro de gastos com apostas e identificar sinais de uma relação não saudável com o entretenimento. “Nosso objetivo não é julgar os apostadores, mas alertá-los para os riscos e ajudá-los a tomar decisões conscientes. O equilíbrio é essencial para evitar que o entretenimento se transforme em um problema financeiro grave”, destacou.

Impactos psicológicos e sociais das apostas

Além do endividamento, as apostas online têm gerado impactos na saúde mental dos brasileiros. Camillo explicou que, em muitos casos, as apostas se tornam uma fuga para indivíduos que já enfrentam dificuldades financeiras, o que pode levar a um ciclo vicioso de frustrações e prejuízos.

“O vício em apostas não afeta apenas a pessoa diretamente envolvida, mas também toda a família e o círculo social ao seu redor. Por isso, é importante reconhecer os sinais de dependência e buscar ajuda, seja por meio de apoio psicológico ou financeiro”, ressaltou.

O guia também aborda como identificar esses sinais de dependência e oferece orientações para lidar com o problema. Entre os principais pontos, destacam-se a necessidade de identificar quando as apostas começam a interferir nas finanças e na qualidade de vida; estabelecer limites, definindo assim um teto de gastos e cumpri-lo; além de sempre tentar procurar ajuda de profissionais financeiros ou psicológicos.

A importância do equilíbrio

Patrícia Camillo reforçou a importância de tratar as apostas como uma forma de entretenimento, e não como uma solução financeira. “É possível destinar parte do orçamento para esse tipo de atividade, mas isso deve ser feito de forma consciente, sem comprometer contas essenciais ou recorrer a crédito para sustentar o hábito”, explicou.

O crescimento das bets no Brasil é um reflexo das transformações no comportamento de consumo e do apelo das plataformas online, que muitas vezes se apresentam como oportunidades de ganhos fáceis. Contudo, como destaca Camillo, é fundamental educar a população sobre os perigos dessa prática.

A regulamentação das apostas online é outro ponto abordado no guia da Serasa. Camillo destacou que conhecer quais plataformas estão autorizadas a operar é essencial para evitar armadilhas e golpes. “A falta de regulamentação clara também contribui para o crescimento desordenado do setor e aumenta os riscos para os consumidores”, afirmou.

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